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Mais de 47 mil brasileiros são hospitalizados por ano devido a queimadas

As partículas finas de poluição conhecidas como PM2.5 estão entre os elementos mais preocupantes da fumaça das queimadas: elas são capazes de desencadear episódios de asma, ataques cardíacos, derrames, menor funcionamento pulmonar, prejuízos à saúde mental e morte prematura. Como consequência dos incêndios florestais, pelo menos 47 mil pessoas são hospitalizadas por ano no Brasil, segundo mostra um estudo publicado na revista científica The Lancet Planetary Health nesta quarta-feira (8).

Pequenas o suficiente para entrarem nos pulmões, as PM2.5 conseguem passar pelos alvéolos das paredes pulmonares e cair na circulação. Além disso, aquelas vindas de queimadas são consideradas mais tóxicas do que as de incêndios urbanos devido a composição química, tamanho e associação a temperaturas mais elevadas. Por isso, mesmo exposições curtas podem prejudicar nossa saúde.

Em pesquisa liderada pela Escola de Saúde Pública e Preventiva da Universidade Monash, na Austrália, profissionais procuraram quantificar esse impacto com base na análise de cerca de 143 milhões de hospitalizações em 1.814 municípios, contemplando mais de 80% da população brasileira e comparando os dados com os níveis de PM2.5 no ar ao longo do período de 1º de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2015.

O trabalho conecta um aumento de 10 microgramas por metro cúbico (μg/m3) nas partículas PM2.5 de queimadas a um crescimento de 0,53% nas hospitalizações relacionadas à exposição direta a poluentes de incêndios florestais. O valor equivale a 35 casos a cada 100 mil habitantes por ano, o que representa mais de 47 mil brasileiros hospitalizados anualmente por poluição de queimadas. No geral, as internações foram mais altas entre crianças de até 9 anos ou idosos acima de 80 anos.

Mais de 47 mil brasileiros são hospitalizados por ano devido a queimadas (Foto: Bruno Kelly/Amazonia Real)
O diagnóstico se aplica principalmente a cidades das regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. E, embora a maior parte dos incêndios florestais aconteçam em áreas remotas do país, a fumaça tóxica da região amazônica pode chegar a até 2.500 quilômetros na atmosfera, viajando distâncias longas e, assim, ameaçar pessoas de outros locais do Brasil.

“Essas informações revelam impactos expressivos das queimadas em uma época anterior às chamas de 2019, que atraíram a atenção do mundo inteiro e foram sucedidas por incêndios intensos em 2020”, afirma, em nota, o professor e pesquisador Yuming Guo. O estudo lembra ainda que as queimadas no Brasil têm aumentado desde 1990 em função do desmatamento e da degradação impulsionada por atividades como mineração, agricultura e extração de madeira.

Panorama internacional

Yuming Guo também fez parte do primeiro trabalho voltado para o impacto global da poluição relacionada a incêndios florestais e as mortes decorrentes desse cenário. No total, foram analisadas informações sobre mais de 65 milhões de óbitos em 749 cidades de 43 países referentes ao período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2016.

Cruzando esses dados com a concentração de PM2.5 proveniente de queimadas, os pesquisadores descobriram que mais de 33.500 pessoas morreram por ano devido à fumaça de incêndios florestais. Os países que registraram as maiores médias de óbitos anuais foram Japão (7.062), África do Sul (5.278), Tailândia (4.291), Estados Unidos (3.193), México (3.078), Brasil (1.610), Peru (1.454) e China (1.289).

Também disponível no periódico The Lancet Planetary Health, o trabalho chama a atenção para o fato de que, se nada for feito, a tendência é um agravamento do cenário. “A poluição dos incêndios florestais pode se espalhar por até mil quilômetros de distância, e o risco de que queimadas ocorram deve aumentar com a piora das mudanças climáticas”, avalia Guo.

Diante disso, os autores do artigo defendem que membros dos poderes Legislativo e Executivo e profissionais da saúde pública alertem a população sobre os perigos da poluição de queimadas e desenvolvam medidas para reduzir a exposição às partículas PM2.5. “Políticas e práticas eficazes de gerenciamento florestal devem ser implementadas para manejar a vegetação e mitigar as mudanças climáticas o máximo possível”, concluem os especialistas.

FONTE:AMBIENTE BRASIL(VIA GALILEU)

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