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Trilhas sonoras de novelas são capítulos fundamentais na história dos 70 anos do gênero no Brasil

♪ MEMÓRIA – Seguidor da corrente migratória que deslocou cantores nordestinos para as cidades de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) a partir dos anos 1970, o cearense Ednardo lançou o primeiro álbum solo em 1974.

Contudo, o álbum O romance do pavão mysteriozo somente alçou voo para o sucesso a partir de maio de 1976, quando a música inspiradora do título do LP, Pavão mysteriozo (Ednardo), passou a ser propagada de segunda a sexta-feira como tema de abertura da novela Saramandaia, exibida pela TV Globo até dezembro daquele ano de 1976.

O sucesso da música na novela deu asas à carreira solo de Ednardo e, ao longo dos últimos 45 anos, permaneceu como um dos maiores exemplos do poder transformador das novelas na cena musical brasileira.

Faz 70 anos nesta terça-feira, 21 de dezembro de 2021, que a novela chegou ao Brasil. Com roteiro de Bia Braune e Celso Taddei e supervisão de texto de George Moura, o especial 70 anos esta noite – produzido sob direção de Henrique Sauer – estreia hoje na TV Globo, após a exibição de Um lugar ao sol, para recordar a história da novela no Brasil.

Nessa história iniciada em 21 de dezembro de 1951 com a exibição pela TV Tupi do primeiro capítulo da novela Sua vida me pertence, as trilhas sonoras são capítulos importantes, fundamentais e às vezes tão emocionantes quanto as tramas em si.

É porque a música ajuda a aflorar as emoções do telespectador e, de quebra, revela cantores, gera sucessos eternos na memória afetiva do público e influencia a cena musical do Brasil.

Como imaginar a cena da novela Irmãos Coragem (1970 / 1971) em que o garimpeiro João Coragem (Tarcísio Meira) descobre o diamante ao som da música-título Irmãos Coragem (Nonato Buzar e Paulinho Tapajós, 1970) na voz do cantor Jair Rodrigues (1939 – 2014)?

Como dimensionar o impacto da disco music no Brasil sem dissociar o gênero da novela Dancin’ days (1978), trama que difundiu a trilha dos embalos de sábado à noite?

Capa do LP com a trilha sonora da novela "Irmãos Coragem", sucesso da TV Globo em 1970 — Foto: Divulgação

Capa do LP com a trilha sonora da novela “Irmãos Coragem”, sucesso da TV Globo em 1970 — Foto: Divulgação

A novela existe no Brasil desde 1951, mas a música começou a entrar em cena de forma relevante a partir de 1964. Essa fase pré-histórica durou até 1968. E quem geralmente respondia pelos teletemas era o radialista e sonoplasta paraibano Salatiel Coelho, responsável pela maior parte das produções das trilhas sonoras das novelas dessa era dominada pela TV Tupi.

Nessa fase inicial, o mercado fonográfico brasileiro ainda não tinha atentado para o poder aglutinador da novela. Tanto que a primeira trilha sonora de novela editada em álbum específico foi Antonio Maria (1968 / 1969), sucesso da Tupi em 1968, quando a novela brasileira já tinha 17 anos.

A segunda fase começou em 1969, ano em que a modernização da linguagem da novela – proposta de forma mais veemente pela trama urbana de Beto Rockefeller (1968 / 1969), sucesso da TV Tupi – é consolidada na TV Globo com Véu de noiva (1969 / 1070).

Com músicas como Teletema (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, 1969) e Irene (Caetano Veloso, 1969), o disco da novela Véu de noiva – orquestrada com produção musical de Nelson Motta – marca também a modernidade das trilhas das novelas.

Com o domínio da TV Globo na produção brasileira de teledramaturgia a partir de 1970, famosas duplas de compositores – como Antonio Carlos & Jocafi, Baden Powell & Paulo César Pinheiro, Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle, Roberto Carlos & Erasmo Carlos e Toquinho & Vinicius – foram convidados a compor as trilhas originais das novelas da emissora carioca.

Nessa fase, que foi de 1971 a 1974, Toquinho e Vinicius de Moraes (1913 – 1980) brilharam na composição das músicas da novela O bem-amado (1973). Já Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle criaram Capitão de indústria (1972), sucesso na voz do cantor Djalma Dias (1938 – 2021) na trilha sonora original de Selva de pedra (1972 / 1973), blockbuster da novelista Janete Clair (1925 – 1983).

A partir de 1975, as trilhas das novelas começaram a ser montadas com músicas de diversos compositores e intérpretes. Nessa fase, orquestrada com produção musical de Guto Graça Mello, a trilha sonora de Gabriela (1975) se tornou marco do gênero, tendo sido quase inteiramente composta para a novela. Foi o marco inicial da fase de ouro das trilhas de novelas.

Em 1976, a seleção musical da novela Estúpido cupido fez o Brasil reviver hits da pré-história do pop nacional, revivendo o apogeu de pioneiros ídolos juvenis como Celly Campello (1942 – 2003).

Nos anos 1980, os dois volumes da robusta trilha sonora nacional da novela Roque Santeiro (1985 / 1986) deram início à era de Mariozinho Rocha, diretor musical da TV Globo de 1989 a 2016. Trilhas sonoras como as das novelas Tieta (1989) e O rei do gado (1996) – trilha recordista de vendas com mais de 2 milhões e 100 mil discos vendidos do volume 1 – marcaram época nessa fase.

Fora da TV Globo, a trilha sonora da novela Pantanal – sucesso da já extinta TV Manchete em 1990 – arrebatou o Brasil e soou como sinfonia ruralista, fazendo com que a música se tornasse fundamente para sonorizar e preparar o clima para a trama pantaneira de Benedito Ruy Barbosa.

Nos últimos anos, as trilhas sonoras das novelas já não são lançadas em CD, mas as edições digitais chegam aos aplicativos de música. A trilha sonora original da atual novela das 21h Um lugar ao sol (TV Globo, 2021) – composta por Márcio Lomiranda e Mú Carvalho – está disponível desde 10 de dezembro nas plataformas digitais com 52 temas originais da trama de Lícia Manzo.

Assim como as novelas, as trilhas sonoras dos folhetins também acompanham os sinais dos tempos modernos, alçando voos como o que deu asas ao Pavão mysteriozo de Ednardo no já longínquo ano de 1976.

FONTE: G1 ( POR MAURO FERREIRA)

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