Você já experimentou osechi, a primeira refeição do Ano Novo no Japão?
Tender, bacalhau, rabanada, lentilhas e uvas. Comidas repletas de simbolismos que não podem faltar na ceia de final de ano do Brasil. Já no Japão, os pratos que compõem o período são um pouco diferentes, mas não menos emblemáticos. Afinal, estamos falando de um país de tradições e culturas que atravessam séculos. E é voltando ao período Heian (794-1185) que encontramos as origens do osechi, a refeição que caracteriza o oshogatsu (primeiros dias do ano novo no Japão).
O termo remonta à época na qual oferendas eram feitas por membros da nobreza durante celebrações sazonais como forma de agradecimento pelas colheitas, além de pedidos por um bom cultivo e preces por saúde, felicidade e longevidade para as famílias. Daí a palavra osechi (お節) ser grafada com o mesmo kanji de estação do ano (季節, lê-se kisetsu).
A principal celebração sazonal era a que marcava o início do ano, quando pratos especiais eram oferecidos e comidos pelos membros da corte. Com o tempo, tornou-se popular entre o resto da sociedade, passando a simbolizar a refeição da época a partir do período Edo (1603-1868).
Similar a um “bentô box” (chamado de jubako), o osechi é facilmente identificável em razão do seu formato e comidas coloridas e chamativas que o compõem. Cada caixa, por sua vez, é dividida entre os membros da família durante os dias do oshogatsu. Afinal, uma das outras funções do osechi é fornecer alimento em um período em que o comércio tende a estar fechado e também pela crença de que no oshogatsu não se deve trabalhar.
O osechi é preparado com certa antecipação (reservas são feitas já em setembro com preços a partir de ¥10.000) e com iguarias e alimentos que podem ser conservados por um longo período (lembre-se que ele deve durar no mínimo os três dias do feriado). Até por isso, ele sempre é servido frio.
Já a escolha dos itens (cada um com simbolismo próprio) é feita a partir de gostos pessoais e da região do Japão. Em Kanto, onde está Tóquio, não pode faltar o kuromame (feijão preto de soja), símbolo de saúde e longevidade, o kazunoko (ovas de arenque), que representa fertilidade e crescimento familiar, e o tazukuri (sardinha desidratada), originalmente um desejo por colheita abundante, mas que contemporaneamente pode ser interpretado como sucesso profissional. Por outro lado, em Kansai, região de Osaka e Quioto, o último item é substituído pela raíz de gobo, símbolo de força e estabilidade.
Os itens que compõem o jubako podem chegar à casa das dezenas, sendo comuns também o kamaboko, uma massa de peixe rosa e branca que acredita-se ser, ao mesmo tempo, uma combinação de prevenção aos maus espíritos e purificação (além disso, seu formato semicircular representa o primeiro nascer do sol do ano); o datemaki, um omelete com massa de peixe muito popular entre os jovens, por expressar sucesso nos estudos e crescimento cultural; os camarões, símbolo de longevidade em razão de seu formato curvado que remete àqueles que já precisaram “curvar as costas”; e o renkon, uma planta típica da culinária japonesa e que, por seu formato repleto de pequenos buracos, representa um futuro sem obstáculos.
Também podem compor o osechi o kobu-maki, um enroladinho de salmão símbolo de felicidade em razão de seu nome fazer um trocadilho com o verbo yorokobu (felicitar); o kuri-kinton, uma mistura de castanha e batata doce que, por sua cor dourada, representa riqueza e prosperidade; e o nejiri-konnyaku, massa de batata konjac preparada no formato de uma corda que sugere a preparação para uma batalha.
Há muitos outros exemplos de itens que podem compor o osechi, cada um com seu valor nutricional e significado próprio, o que resulta em diversas combinações para as refeições do oshogatsu. Assim, para aqueles que desejam prová-lo, basta fazer o pedido do ano novo e “itadakimasu!”.
FONTE: ALTERNATIVA ON LINE