Morto há 25 anos, Chico Science vive em obra que captou dissonâncias ainda vigentes no Brasil em 2022
Se tivesse sobrevivido ao acidente de carro que o tirou de cena há exatos 25 anos, quando faltava pouco mais de um mês para completar 31 anos, Francisco de Assis França Caldas Brandão (13 de março de 1966 – 2 de fevereiro de 1997) provavelmente estaria engrossando o coro dos descontentes que protestam contra a intolerância e a desigualdade ainda vigentes no Brasil de 2022.
Francisco – imortalizado como Chico Science – corrobora o clichê de que artistas relevantes permanecem vivos. Se em tempos pandêmicos “o de cima sobe e o de baixo desce”, como o elétrico caranguejo sentenciou em verso lapidar de A cidade (Chico Sciense, 1994), o pernambucano Chico Science continua atual.
Cruzando pontes, rios e overdrives que conectam as cidades de Olinda (PE) e Recife (PE), Science foi um dos cérebros que arquitetaram o movimento musical pernambucano dos anos 1990 conhecido como Mangue Beat.
Mergulhando na lama dos mangues recifenses, o cantor e compositor – projetado nacionalmente em 1994 como vocalista e mentor da banda Nação Zumbi – revitalizou ritmos locais, como o coco e o maracatu, com o toque explosivo de alfaias e guitarras, aditivadas com psicodelia.
Science fincou antenas nas raízes e na lama para captar o caos do mundo moderno e cosmopolita, traduzido em sons pela Nação Zumbi.
O artista teve tempo somente de fazer dois álbuns com a Nação, Da lama ao caos (1994) e Afrociberdelia (1996), ambos ainda atuais no Brasil de 2022, sendo que o primeiro é uma das pedras fundamentais da discografia brasileira da década de 1990.
Especular como Chico Science estaria hoje é exercício estéril de futurologia. Contudo, soa lógico que ele, estando ou não na Nação Zumbi, provavelmente teria construído discografia solo. E certo é que, solo ou (bem) acompanhado, Chico Science continuaria do lado certo da história.
O mangueboy vive, assim como também continua viva – mesmo sem a visibilidade e sem a cobertura midiática de antes – a música em que Pernambuco luta por um mundo livre das dissonâncias captadas pela antena parabolicamará de Chico Science.
FONTE: G1 ( POR MAURO FERREIRA)