Ecologia

Projeto fortalece capacidade para monitorar desmatamento em território Xavante em MT

Em Mato Grosso, Estado que lidera a produção de grãos no Brasil, as Terras Indígenas concentram a maior parte do que ainda resta de vegetação do Cerrado, mas esses territórios estão sob intensa pressão ambiental. No sudeste de MT, em uma das áreas mais vulneráveis, o povo Xavante da Terra Indígena (TI) Sangradouro/Volta Grande se organiza para evitar os crimes ambientais, a invasão e a devastação. Ali, o projeto Fortalecendo a Associação Xavante Warã na Defesa do Território Xavante está fortalecendo os indígenas no combate ao desmatamento.  

A iniciativa é do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) em parceria com o WWF-Brasil e tem o objetivo de contribuir com as capacidades institucionais da Associação Warã, por meio de investimento em infraestrutura tecnológica – incluindo computadores e drones – e formação técnica de lideranças. 

De acordo com Aluisio Azanha, assessor jurídico do CTI, o projeto contribui para qualificar as ações de monitoramento territorial e ambiental da Associação Warã, com foco no desmatamento associado a ilícitos ambientais, ao avanço do agronegócio e aos impactos de projetos de infraestrutura. 

“O CTI executa o projeto, mas tudo foi feito de forma articulada com a Warã, para fortalecer a associação, com o apoio do WWF-Brasil”, disse Azanha. O CTI é uma organização indigenista que há mais de 40 anos promove a agenda de defesa dos direitos e fortalecimento da autonomia dos povos indígenas em várias regiões do país.  

De acordo com Azanha, o projeto com a Warã se concentra na aquisição de infraestrutura tecnológica e na capacitação técnica para manuseio dos instrumentos. “O principal objetivo da aquisição de equipamentos – como drones, computadores, GPS, máquinas fotográficas e todos os insumos necessários para a utilização desses recursos – é contribuir para a qualidade do monitoramento do território”, explicou. 

A primeira oficina foi realizada com representantes de várias TIs para treinamento no uso de instrumentos e para discussão sobre quais são as principais pressões sobre cada território.  

“Discutimos quais são os aplicativos mais adequados para cada caso e quais os meios para qualificar essas informações, de modo que elas se tornem evidências robustas dos ilícitos”, afirmou. Uma outra oficina com a associação Warã teve foco nos métodos de diagnóstico das pressões ambientais e territoriais e no manuseio do drone. 

“O projeto será encerrado agora, mas conseguimos contratar consultores – geógrafo, especialista em monitoramento georreferenciado e instrutor de drone – que farão o acompanhamento por meio de sessões virtuais, a cada 15 dias, para orientar e tirar dúvidas do pessoal da associação”, contou Azanha. 

Agricultura no território 
Com 100 mil hectares, a TI Sangradouro/Volta Grande é coberta pela vegetação de Cerrado e, como a maior parte das TIs do Mato Grosso, está cercada pelo agronegócio e por projetos de infraestrutura.  

No fim de 2020, as atividades agrícolas começaram a ganhar espaço dentro da TI: o Sindicato Rural de Primavera do Leste (MT), com apoio do Governo Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai), lançou um projeto que criou uma cooperativa agrícola para o cultivo de arroz dentro da Terra Indígena Xavante.  

Azanha conta que o CTI já trabalha com a Associação Warã há mais de 10 anos. Um dos focos principais foram as parcerias nos estudos de avaliação de impacto ambiental da construção de hidrelétricas e ferrovias na região – sempre com metodologia participativa.  

“Com o início do empreendimento na TI, sentimos a necessidade dessa iniciativa de longo prazo para o fortalecimento das capacidades institucionais da Warã e de sua agenda política no desenvolvimento sustentável e proteção territorial. A colaboração com o WWF-Brasil surgiu como fruto da interlocução da própria Warã com a organização, que nos procurou para executar o projeto, por conta da nossa experiência com a associação”, contou.  

Diálogo entre indígenas 
Além de viabilizar a produção de provas de ilícitos ambientais, que sustentam denúncias ao poder público, o fortalecimento da capacidade de monitoramento dos indígenas também está sendo importante para que eles acompanhem o empreendimento em seu território, de acordo com Hiparidi Toptiro, liderança de Abelhinha, uma das 57 aldeias da TI Sangradouro/Volta Grande. 

“Acompanhamos os trabalhos do empreendimento para verificar se o licenciamento ambiental está sendo respeitado, se todo o processo legal está sendo cumprido rigorosamente, se tudo está sendo feito dentro da lei”, contou Hiparidi, que é uma das lideranças da Associação Warã. 

Em relação ao desmatamento, crimes ambientais e avanço do agronegócio sobre áreas naturais, os indígenas continuam fazendo o monitoramento que sempre fizeram, segundo Hiparidi.  

“Os recursos tecnológicos ajudam muito, contribuem principalmente para que nós possamos conversar com os nossos parentes. Mostramos as fotos de áreas que estão com desmatamento fora de controle, da realidade local. Esse diálogo é importante, porque o avanço do agronegócio no nosso território causou divisões e é fundamental que tenhamos um entendimento melhor do que está ocorrendo”, afirmou Hiparidi. 

Segundo ele, os equipamentos para monitoramento serão cada vez mais úteis à medida que os Xavante ganham intimidade com esses recursos. “Tivemos uma oficina muito boa, importante para o meu povo. Claro que vamos precisar dar continuidade aos treinamentos, mas para isso contamos com o trabalho do CTI, que atua conosco há muitos anos”, afirmou. 

Dados e análises 
De acordo com Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação e líder do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil, o principal objetivo da parceria com o CTI é gerar subsídios técnicos para a atuação da Associação Warã na sua agenda de gestão e defesa do território.  

“É um projeto que se associa à questão de proteção de direitos indígenas, com foco na proteção territorial, de maneira que a Associação Warã possa enfrentar as pressões territoriais e ambientais a que estão submetidas”, disse Gajardo. Segundo ele, o valor investido no projeto foi de R$ 106 mil.  

Gajardo explica que o monitoramento feito na TI Xavante permitirá reunir dados que ajudarão a orientar o trabalho de enfrentamento às pressões territoriais. “É fundamental ter subsídios para que se possa fazer análises de dados de desmatamento, avaliações de como a expansão do agronegócio está acontecendo dentro do território indígena e estudos sobre pressões decorrentes de projetos de infraestrutura, além do mapeamento de áreas com atividades ilegais.” 

FONTE: WWF BRASIL

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