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Maria Bethânia rege reencontro com maestro João Carlos Martins na reabertura de casa no Rio

♪ A rigor, o concerto era de João Carlos Martins. Como estampado no ingresso emitido pela casa carioca de shows Qualistage, reaberta na noite de ontem, 12 de março, com novo nome e a mesma estrutura para abrigar grandes espetáculos, Maria Bethânia era a convidada do excepcional maestro e pianista paulistano de 81 anos.

Contudo, quando a cantora baiana de 75 anos foi chamada pelo maestro ao palco do Qualistage, após a execução pelo pianista do segundo movimento do Concerto para piano nº 5 (Beethoven, 1811) e a regência do primeiro movimento da Sinfonia nº 5 (Beethoven, 1908), foi como se Bethânia passasse a reger a apresentação com a habitual imponência e o notório magnetismo.

Todas as atenções do maestro, dos 36 músicos da Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP, dos dois músicos da cantora – o violonista João Camarero e o baixista Jorge Helder – e da plateia passaram a se dirigir primordialmente para a intérprete.

No reencontro de João Carlos com Bethânia, maestro e cantora reeditaram – com ligeiras modificações no roteiro – o espetáculo originalmente apresentado em outubro de 2019 na cidade de São Paulo (SP), com o título de João Carlos Martins e Maria Bethânia in concert – De Beethoven a Bethânia.

Duas músicas do mais recente álbum de Bethânia, Noturno (2021), entraram no roteiro. Lapa santa (Paulo Dáfilin e Roque Ferreira, 2021) foi apresentada com arranjo evocativo do registro orquestral do disco. Já o bolero Prudência (Tim Bernardes, 2021) ganhou toque adicional de majestade.

Nos dois números iniciais, Sonho impossível (The impossible dream) (Joe Darion e Mitch Leigh, 1965, em versão em português de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1972) e Gente humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, 1969), Bethânia sinalizou desconforto com o som. “Estou ouvindo só eco”, avisou a artista.

Contudo, a cantora jamais deixou que o incômodo prejudicasse a fluência das interpretações, até mesmo pela emoção de estar fazendo o primeiro show pós-pandemia com público presencial. “É tão mágico encontrar com vocês de novo. Subir num palco e ter público”, exultou a cantora.

A personalidade de Bethânia é tão forte que, mesmo diante de orquestra monumental, a cantora se permitiu seduzir o público com o canto a capella de Explode coração (Gonzaguinha, 1978), grande sucesso de Álibi (1978), álbum de arranjos orquestrais no qual a intérprete reviveu o samba-canção Ronda (Paulo Vanzolini, 1953), música, esta sim, cantada no concerto de ontem com o aparato orquestral regido por João Carlos Martins.

Hits infalíveis em shows da intérprete, a canção Olhos nos olhos (Chico Buarque, 1976) e o samba Reconvexo (Caetano Veloso, 1989) surtiram o habitual efeito – com direito, em Olhos nos olhos, à encenação de todos os gestuais teatrais já conhecidos pelo séquito da artista – e precederam o momento mais emocionante da noite.

Foi quando o maestro foi para o piano e tocou medley em tributo ao compositor italiano Ennio Morricone (1928 – 2020), com temas do mestre das trilhas de cinema, em deferência a Bethânia, que permaneceu ao lado de João, debruçada sobre o piano.

Na sequência, a cantora retribuiu a homenagem e cantou Se todos fossem iguais a você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956) em reverência ao maestro. No fim, Bethânia recitou trecho de poema de Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa (1890 – 1935) – antes de cantar Non, je ne regrette rien (Charles Dumont e Michael Vaucaire, 1956), número herdado do show Abraçar e agradecer (2015).

No bis, o maestro regeu a orquestra na condução de Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1964), com o coro efusivo do público, antes de Bethânia voltar para cair no samba O que é o que é (Gonzaguinha, 1982).

Diante da insistência da plateia, houve um improvisado segundo bis, sem a reunião da cantora com o maestro. João Carlos Martins solou a valsa Luíza (Antonio Carlos Jobim, 1981) ao piano e, em seguida, Bethânia verteu o rancor de Lágrima (Roque Ferreira, 2006) somente com o toque do violão de João Camarero, terminando de reger o reencontro em cena com o maestro João Carlos Martins.

João Carlos Martins e Maria Bethânia celebram o reencontro no palco do Qualistage — Foto: Vera Donato / Divulgação

João Carlos Martins e Maria Bethânia celebram o reencontro no palco do Qualistage — Foto: Vera Donato / Divulgação

♪ Eis o roteiro seguido em 12 de março de 2022 por João Carlos Martins e Maria Bethânia na primeira das duas apresentações cariocas do espetáculo De Beethoven a Bethânia – João Carlos Martins convida Maria Bethânia na reabertura da casa Qualistage, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):

1. Segundo movimento do Concerto para piano nº 5 (Beethoven, 1811) – João Carlos Martins ao piano

2. Primeiro movimento da Sinfonia nº 5 (Beethoven, 1908) – João Carlos Martins e orquestra

3. Sonho impossível (The impossible dream) (Joe Darion e Mitch Leigh, 1965, em versão em português de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1972) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

4. Gente humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, 1969) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

5. Lapa santa (Paulo Dáfilin e Roque Ferreira, 2021) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

6. Explode coração (Gonzaguinha, 1978) – Maria Bethânia a capella

7. Ronda (Paulo Vanzolini, 1953) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

8. Prudência (Tim Bernardes, 2021) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

9. Olhos nos olhos (Chico Buarque, 1976) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

10. Reconvexo (Caetano Veloso, 1989) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

11. Tributo a Ennio Morricone (Ennio Morricone) – João Carlos Martins ao piano

12. Se todos fossem iguais a você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

13. Poema de Álvaro de Campos / Non, je ne regrette rien (Charles Dumont e Michael Vaucaire, 1956) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

Bis:

14. Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1964) – João Carlos Martins e orquestra

15. O que é o que é (Gonzaguinha, 1982) – João Carlos Martins, Maria Bethânia e orquestra

Bis 2:

16. Luíza (Antonio Carlos Jobim, 1981) – João Carlos Martins ao piano

17. Lágrima (Roque Ferreira, 2006) – com Maria Bethânia e o violão de João Camarero

FONTE: G1 ( POR MAURO FERREIRA)

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