Ibovespa descola do exterior e engata 6ª alta seguida, enquanto dólar fecha a R$ 4,84: o que explica movimento?
Principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa engatou sua sexta alta consecutiva nesta quarta-feira (23), ainda que longe das mínimas, fechando em alta de 0,16%, ao 117.457 pontos, em um pregão marcado por um cenário internacional negativo.
As bolsas americanas tiveram quedas consideráveis, com o Dow Jones em baixa de 1,29%, o S&P 500 caindo 1,23% e a Nasdaq recuando 1,32%. Na Europa, as perdas também foram generalizadas. O DAX, da Alemanha, caiu 1,31%, o FTSE, do Reino Unido, retrocedeu 0,22%, e o STOXX 600, de todo o continente, fechou em queda de 1,01%.
A tendência negativa lá fora se deu, principalmente, pela indefinição da guerra na Ucrânia e também com a possibilidade de países europeus imporem restrições mais fortes à compra do petróleo russo, além das interrupções nas exportações de petróleo da Rússia e do Cazaquistão através do oleoduto Caspian Pipeline Consortium (CPC).
Em parte, esses temores foram responsáveis por manterem o principal índice da bolsa brasileira no campo positivo, pois impulsionaram o desempenho das empresas ligadas a commodities.
O petróleo, com os desdobramentos da guerra, fechou mais um dia em forte alta. O barril Brent para maio avançou 5,36%, a US$ 121,67. O WTI para abril fechou em alta de 5%, a US$ 114.86. Com isso, companhias como a PetroRio (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e a Petrobras (PETR3;PETR4) fecharam com altas consideráveis. As ações ordinárias (ON) da primeira estatal avançaram 2,94% e as da segunda, 2,95%. Os papéis ON da Petrobras subiram 0,97% e os preferenciais (PN), 1,36%.
“A alta das commodities vem impulsionando as empresas exportadoras, que são hoje as que têm maior participação no nosso índice Ibovespa”, explica Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed.
Mais do que a alta das commodities, há também uma procura por ativos da economia local. Com o Brasil mais distante da guerra, – e com isso oferecendo menos riscos – houve recentemente também a recuperação de ativos da economia local, com estrangeiros de olho em oportunidades em locais “mais tranquilos”.
No pregão de hoje, os destaques positivos dentro do Ibovespa ficaram para as ações ON do Grupo Soma (SOMA3), com ganhos de 6,84%, e também para as ON da Renner (LREN3) e da CVC (CVCB3), que subiram, respectivamente, 5,53% e 4,52%.
“Conseguimos ver o Brasil ganhando destaque dentro dos mercados emergente. Se você ver o porcentual de alocação dentro do índice, o Brasil ganhou relevância significativa. Ao mesmo tempo, temos fluxo de alocação em mercados diferentes dos de primeira linha”, comenta Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.
Ainda segundo Franchini, auxilia também a performance da bolsa brasileira o grande fluxo de saída de capital da Rússia. Investidores, segundo ele, estão buscando ativos semelhante para aportar – e o Brasil se encaixa no padrão. “A Rússia saiu dos mercados emergentes e o capital aportado lá tem de ir para um lugares com características semelhantes. A Rússia, em 2021, foi a 11ª maior economia do mundo e o Brasil, a 12ª”, explica.
Marcelo Oliveira, CFO da Quantzed, vai no mesmo caminho: “o fluxo para a bolsa já estava bem positivo no ano e a guerra fez com que o investidor começasse a trazer mais dinheiro para o Brasil para cobrir essa mesma classe de ativos de países emergentes no portfólio do estrangeiro”, pontua.
Diferença entre ciclos monetários impulsiona Ibovespa e ajuda a derrubar dólar
Henrique Ester, especialista de mercados do InfoMoney abrange também as recentes movimentações e falas do Federal Reserve, bem como as do Banco Central brasileiro. Na última semana, a instituição monetária americana iniciou um ciclo de alta dos juros, sinalizando até seis altas em sequência. O mesmo movimento começou por aqui em março do ano passado, e agora está prestes a se encerrar, o que tende a beneficiar os ativos de risco e torna as ações brasileiras mais atraentes.
“O Brasil entrou em um ciclo de contração da política monetária muito antes do restante do mundo e agora está se beneficiando disso, pelo menos pontualmente. Enquanto no ano passado a nossa bolsa caía na contramão do restante do mundo, com os juros subindo, lá as bolsas subiam e os juros estavam no zero”, diz Esteter.
Com a entrada de fluxo estrangeiro, o Real teve mais um dia ganhando força frente a seus pares. O contrato da moeda americana para maio recuou 1,82% frente a brasileira, custando R$ 4,835 – mesmo com o DXY, que mede a força do dólar frente a outras divisas, avançando 0,13%. A divisa comercial fechou em queda de 1,45%, a R$ 4,844 na compra e na venda, patamar mais baixo desde junho de 2020, quando fechou em R$ 4,82.
Além da procura por ações da B3, analistas explicam que o dólar cai também por conta do movimento de carry-trade, resultado também da diferença entre os níveis de juros do Brasil e do restante do mundo. “Com a Selic mais alta, ainda temos um fator extra que ajuda a pressionar a divisa americana contra o real que é o ‘carry-trade‘, quando o investidor traz dinheiro de outros países com taxa de juros menores e aplica a taxa de juros brasileira que está mais alta”, explica Oliveira.
Para Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, o mercado teria percebido também que o Real estava exageradamente desvalorizado. “Durante a pandemia, a relação entre a taxa de câmbio com alguns fundamentos, como o preço das commodities, se perdeu”, comenta. “Mais recentemente essa relação voltou a se estreitar, estando semelhante ao que víamos anteriormente”.
A curva de juros brasileira, nesta quinta, fechou sem direção exata. Na ponta curta e no meio, os DIs com vencimento em 2023 e em 2025 viram suas taxas avançarem, respectivamente, três e dois pontos-base, para 12,98% e 12,09%. Na ponta longa, o rendimento do DI para 2029 fechou caindo um ponto, para 11,97%.
Entre os destaque negativos do Ibovespa, as maiores quedas foram das ações ON da Fleury (FLRY3) e da BRF (BRFS3) que caíram, nesta ordem, 4,19% e 3,83%. As ON da Minerva (BEEF3) vieram em terceiro lugar, com perda de 3,78%.
Segundo analistas da Ativa Investimentos, as empresas de frigoríficos que têm grande parte da sua receita dolarizada vêm sendo negativamente impactadas pela valorização cambial do real frente a moeda americana.
FONTE: INFOMONEY ( Vitor Azevedo,Felipe Moreira)