Barulho com foto de Silvio Santos, de 91 anos, sem dente reflete medo de envelhecer no Brasil
Silvio Santos é um homem de 91 anos. No entanto, ao longo das duas últimas semanas, o Brasil parece ter descoberto o que parecia ser óbvio: a aparência do apresentador não é mais a mesma que a do início da carreira na TV, na década de 1960.
Uma foto do “dono do baú” ao lado da mulher, Iris Abravanel, e da chef de cozinha Karlota Fonseca viralizou nas redes sociais. Na imagem, que foi compartilhada pela profissional no dia 17 de março, o comunicador está vestindo um pijama e aparentemente sem os dentes.
O registro, feito durante um jantar íntimo na mansão de Silvio, em Orlando, nos Estados Unidos, despertou comentários surpresos e críticos no ambiente digital. Como um dos homens mais poderosos da comunicação, que ocupa um espaço relevante no imaginário de milhões de pessoas, permite ser fotografado de maneira tão humana?
De acordo com o psicólogo Yuri Busin, especializado em terapia cognitiva comportamental, o episódio diz muito mais sobre as pessoas que reagiram com espanto do que a forma como o apresentador lida com o próprio envelhecimento.
“Óbvio que quando vem um ídolo tão grandioso quanto o Silvio Santos, de cerca forma as pessoas acabam tendo um momento onde se deparam com o inesperado. E acaba tendo, obviamente, um susto. Ele é um ídolo muito grandioso que está envelhecendo. Como todos nós vamos envelhecer”, explica Busin.
As reações passam, certamente, pelas expectativas criadas pelo público a partir da imagem construída ao longo de muitas décadas. “Muitas vezes as pessoas têm uma imagem ‘A’ do Silvio Santos e quando elas se deparam com a imagem ‘B’ aquilo acaba criando um rebuliço muito grande. O importante é que ele esteja feliz. Todos nós vamos passar por fases assim. E isso é muito valioso”, completa.
‘Todos nós vamos envelhecer’
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Foto de Silvio Santos em momento de intimidade viralizou nas redes sociais
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Segundo o psicólogo, a dificuldade em lidar com o envelhecimento tem sido impulsionada pelo avanço das redes sociais. “Esse tabu tem sido cada vez maior por todas essas cobranças e comparações que existem por causa das redes sociais, onde existe uma beleza perfeita, você tem que ser isso ou aquilo.”
Yuri Busin ressalta, que embora o processo seja natural, se deparar com a mudança do outro coloca o indivíduo em contato com os próprios medos. “O envelhecimento é uma coisa natural e inevitável. Uma hora ele vai acontecer. No entanto, quando a gente se depara com o envelhecimento de outras pessoas isso acaba nos assustando. E existe, sim, um preconceito contra idosos e um medo muito intenso de você se tornar aquela pessoa, uma vez que isso será inevitável. Cada um vai traçar o próprio caminho.”
Entretanto, por mais que os reflexos do tempo passam provocar inseguranças, eles também podem contribuir no processo de busca por novas perspectivas de vida. “Cada fase tem uma perspectiva positiva. Cada fase vai ter algo muito interessante. Muitos valores vão sendo alterados ao longo da vida e, inclusive, devem ser muitas vezes alterados”, explica Busin.
Para o profissional, fases da vida que acabam ganhando mais atenção podem ser oportunidades saudáveis para a reflexão. “Essa reflexão é valiosa para que a gente consiga, de alguma forma, traçar novos rumos e redirecionar muitas vezes a nossa vida. E não é somente em uma data específica. Acho que isso teria que ser feito sempre para que você redirecione a sua vida de uma forma que seja agradável para você.”
Envelhecer no Brasil
De acordo com o psicólogo Fredy Figner, envelhecer no Brasil impõe ainda desafios específicos e tem o seu papel no medo que as pessoas sentem diante de mudanças naturais da experiência de ser humano.
“Nossa sociedade vai perceber a velhice muito associada a doenças, perda de mobilidade, rugas na pele. As pessoas têm medo de envelhecer no Brasil. O país não é preparado para receber o idoso. O Brasil não é um país preparado para lidar com o envelhecimento”, completa.
Para Figner, “o país não está preparado para essa nova realidade. A gente precisa de políticas públicas que consigam atender essa população com qualidade e atenção.”
FONTE :R7 ( POR Ricardo Pedro Cruz)