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Ibovespa fecha abaixo de 120 mil pontos, mas sobe 6% em março; em baixa, dólar acumula queda de 14,6% no ano

A bolsa brasileira recuou no último pregão de março acompanhando os principais índices dos EUA, enquanto os preços do petróleo caíram após os Estados Unidos anunciarem a liberação de barris da reserva e a Opep+ (Organização dos Países Produtores de Petróleo) divulgar um aumento na produção.

Por muito pouco o principal índice da Bolsa brasileira não terminou o mês no patamar dos 120 mil pontos. O Ibovespa fechou em queda de 0,22%, aos 119.999 pontos, após oscilar entre 119.999 e 120.879 pontos. O volume financeiro foi de R$ 28,5 bilhões. No mês, o índice registrou uma valorização de 6,06%.

Os destaques positivos da sessão ficaram com as ações da Sabesp (SBSP3), que subiram 5,46%, seguidas pela Cielo ([ativo=CIEL3) e Cemig ([ativo=CMIG4]), com ganhos de 4,36% e 2,98%, respectivamente.

As ações da Americanas ([ativo=AMER3) e Méliuz ([ativo=CASH3]) foram os destaques negativos da sessão, recuando, respectivamente, 5,50% e 5,54%, seguidas pela Petrorio (PRIO3), que recuaram 5,06%.

As ações da Méliuz caíram com a realização de lucros por parte dos investidores, após alta do último pregão, que repercutiu dados do último balanço da empresa. Já as ações da PetroRio recuaram pressionadas pela desvalorização do petróleo no mercado internacional.

O dólar comercial recuou 0,54%, a R$ 4,761, após oscilar entre R$ 4,722 e R$ 4,796. A moeda perdeu 7,6% em março e acumula queda de 14,6% no trimestre. Os analistas explicam que a  moeda americana caiu com fluxo estrangeiro na Bolsa.

“O movimento é influenciado pelas taxas de juros mais altas por aqui, o que torna o carry trade [trade com diferencial de juros] mais interessante para o investidor estrangeiro”, explica Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.

Os especialistas veem o dólar caindo ainda mais no curto prazo, mas fechando o ano acima de R$ 5, com risco político em ano de eleição.

No aftermarket, às 17h10, os juros futuros recuam em bloco com a diminuição das preocupações com a inflação. O DIF23, cai 0,39 pp, a 12,72%; DIF25, -0,91 pp, a 11,40%; DIF27, -1,06 pp, a 11,20%; DIF29, -1,22 pp, a 11,35%.

Nos EUA, as bolsas caíram pela segunda sessão consecutiva, com os investidores encerrando um primeiro trimestre difícil para Wall Street.

O índice Dow Jones caiu 1,56%, aos 34.678 pontos. O S&P 500 recuou 1,56%, aos 4.530 pontos, enquanto o Nasdaq teve baixa de 1,54%, aos 14.220 pontos.

No primeiro trimestre, o Dow e o S&P 500 recuaram aproximadamente 3%, e o Nasdaq despencou mais de 7%. Para os três indicadores, este foi o primeiro trimestre negativo desde o primeiro trimestre de 2020, que marcou o início da pandemia de Covid-19 no país.

Já para o Ibovespa, foi o melhor trimestre desde os três últimos meses de 2020.

Ibovespa em patamar confortável

No primeiro trimestre deste ano, o Ibovespa acumulou alta de 14,4%. O Ibovespa fechou em alta em 36 dos 63 pregões de 2022 realizados até esta quinta-feira. Para os analistas, o período foi importante para o índice se consolidar em um patamar “confortável”, depois de um ano ruim. Em 2021, a Bolsa acumulou perda de 12% e praticamente não passou pelo rali de final de ano, por conta de ruídos políticos e fiscais. Mas já era possível perceber uma maior entrada de capital estrangeiro.

Os piores momentos do Ibovespa no trimestre

As duas primeiras semanas de 2022 foram, sem dúvida, as piores para o Ibovespa no trimestre. O índice caiu nos três primeiros pregões do ano e no dia 5 de janeiro quase perdeu os 100 mil pontos (chegou aos 100.850), mas conseguiu resistir e não rompeu com o patamar psicológico. Naquele dia, a Bolsa fechou aos 101.006 pontos, menor pontuação do ano.

“Se o Ibovespa tivesse rompido os 100.000 pontos, provavelmente teria acelerado um movimento de queda pelo menos até o próximo ponto de suporte mais forte nos 93.500, ou até os 90.000 pontos, e que retornaria para a região que trabalhava no meio do ano de 92.020 pontos”, afirma Pamela Semezatto, analista de investimentos e especialista em day trader da Clear Corretora.

O Ibovespa sofreu mais que seus pares internacionais no período, ainda que o mercado, de maneira geral, tenha reagido de forma negativa às perspectivas de alta de juros nos Estados Unidos (o veio a se concretizar agora em março). Enquanto isso, aqui no Brasil, as previsões também eram de juros mais altos. A Selic entrou 2022 a 9,75% e foi a dois dígitos na primeira reunião do Copom, em fevereiro, quando houve um ajuste de 1 ponto percentual, para 10,75%.

Os melhores momentos do Ibovespa no trimestre

A partir de 11 de janeiro, o Ibovespa deu uma guinada e começou a emplacar um movimento de alta. O jogo virou, já que, no mesmo período, as Bolsas nos Estados Unidos passaram a operar em baixa. Para Juan Espinhel, o momento de virada do Ibovespa foi quando os países desenvolvidos se depararam com índices de inflação acima do esperado e perceberam que precisariam fazer ajustes mais agressivos nos juros. Por aqui, esse movimento já havia começado meses antes.

“Foi uma virada de chave importante, porque começou uma migração do capital estrangeiro olhando para a Bolsa brasileira extremamente descontada. E havia indícios de que as empresas iam começar a reportar melhores resultados, pois elas já vinham melhorando. Foi uma convergência de fatores muito importante”, afirma Espinhel. O fato do Brasil ter adiantado o aperto monetário e o real desvalorizado formaram um prato cheio para o investidor estrangeiro. Do começo do ano até o último dia 29 de março, os gringos já haviam aportado R$ 92,66 bilhões na Bolsa brasileira. Em menos de três meses, o volume equivale a mais de 90% dos aportes feitos ao longo de 2021 (R$ 102,3 bilhões).

A Guerra na Ucrânia, iniciada no último dia 24 de fevereiro, quando os russos invadiram o país vizinho, também teve menos impacto na Bolsa brasileira, comparando com os índices lá fora. Isso porque as ações de maior peso do Ibovespa são produtoras de matérias-primas. César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, lembra que as commodities já vinham em toada de alta, com a China sinalizando medidas de estímulos.

“Quando o risco de invasão russa à Ucrânia piorou, investidores começaram a retirar capital da Rússia e da China, destinando a outros emergentes. O Brasil acabou sendo um dos mais privilegiados”. Não à toa, em plena guerra na Ucrânia, o Ibovespa conseguiu retomar os 120 mil pontos. E assim, na última terça-feira (29), a Bolsa brasileira retomou os 120 mil pontos – o melhor patamar em sete meses.

Para onde vai o Ibovespa agora?

Mikail, da Western Asset, acredita que o Ibovespa “deve ficar na volatilidade” no atual patamar, “variando entre 118 mil e 122 mil pontos”. Os principais riscos, na visão do gestor, estão atrelados à condução da política de aperto monetário nos Estados, caso o Federal Reserve adote uma postura mais hawkish e acelere o ritmo de ajustes. “Nesse caso, teríamos recursos voltando para os Estados Unidos, pois o diferencial de juros tenderia a diminuir. Mas não acho que isso deve acontecer por agora. O mercado deve esperar”, afirma.

Segundo ele, os riscos externos são maiores do que internos e a eleição pode não ser uma preocupação tão grande como se imaginava. “Os dois candidatos já são conhecidos e o Brasil administra para o Centro. Não vejo muito ruído agora”, diz. Mais grave, segundo Mikail, seria um prolongamento da guerra na Ucrânia e se o conflito começasse a contaminar outros mercados, deixando a inflação lá fora mais resiliente. “Aumentando as chances de recessão, não ficaríamos isentos. Se o mundo for mal seríamos afetados também, pois o consumo cai e os preços das commodites recuam também”, afirma.

Espinhel, da Ivest Consultoria, também diz que a guerra trouxe outras prioridades para um ano atípico em que a eleição presidencial no Brasil, até agora, não fez preço no mercado. “Muito dificilmente teremos uma terceira via consolidada, que consiga aglutinar votos”, afirma. O mercado, segundo ele, já precifica um segundo turno polarizado e deve começar a olhar mais para declarações dos candidatos do segundo turno sobre interferência em níveis de preço e formação de equipes administrativas.

Mesmo com a Bolsa menos descontada do que no início do ano com o real mais valorizado, Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, acredita que o mercado de ações do Brasil continua bem visto e o fluxo estrangeiro deve se manter. “O preço-lucro ainda não esticou tanto assim, é vantajoso. E você tem os juros no Brasil que é  muito alta ainda. Juro real igual ao Brasil, praticamente não tem”, afirma Franchini.

Jennie Li, estrategista da ações da XP, diz que o preço por lucro do Ibovespa continua praticamente o mesmo do começo do ano. “Isso porque mesmo que o preço do índice tenha subido, os lucros da empresas têm sido revisados para cima, principalmente das empresas ligadas a commodities com os preços das matérias-primas subindo”, explica.

FONTE: INFOMONEY( POR  Mitchel Diniz,Felipe Moreira)

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