O que esperar da temporada de resultados do 1º trimestre de 2022? Confira ações e setores em destaque
A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2022 (1T22) começou no último dia 20 de abril no Brasil com os números da Usiminas (USIM5), que não agradaram o mercado.
Contudo, a temporada se intensificará nesta semana, com a divulgação de mais balanços e de diversos setores (confira o calendário de resultados). O Bank of America espera que as empresas que compõem o Ibovespa devam apresentar, somadas, crescimento de 17% das receitas, de 12% do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e de 32% no lucro por ação nos primeiros três meses do ano na comparação anual, impulsionado principalmente pelo setor de petróleo.
Excluindo o setor de materiais básicos (como mineradoras, siderúrgicas e papel e celulose) e de petróleo, os analistas do BofA esperam crescimento de receita em 15%, do Ebitda em 1% e do lucro por ação (LPA) em 32%. O crescimento do LPA do Ibovespa será impulsionado por financeiras e empresas de proteínas.
Contudo, também são esperadas melhorias relacionadas à tese de reabertura da economia (companhias aéreas, distribuição de combustível, varejo e shoppings), mas a inflação de custos é uma preocupação fundamental. Assim, algumas empresas, principalmente relacionadas ao consumo discricionário (segmento formado por empresas que vendem bens que não são considerados “bens necessários”, portanto, suas ações variam conforme o ciclo econômico), podem crescer na receita, mas não no lucro, por não conseguir repassar os preços. Essa pressão, além e continuar sendo vista em varejistas, pode ser observada nas construtoras, por exemplo.
No setor bancário, as margens com clientes podem ter crescimento graças às taxas mais altas, mas o crescimento da carteira de crédito deve desacelerar e a inadimplência deve seguir em tendência de alta.
A temporada, por sua vez, deve seguir mista para as commodities. As fortes chuvas devem pressionar os embarques da Vale (VALE3), mas parcialmente compensados pelos altos preços do minério de ferro no período. As siderúrgicas devem continuar enfrentando pressões de custos no trimestre, enquanto os preços do aço caíram na média trimestral para a maioria das regiões.
Confira os setores e ações para ficar de olho:
Bancos: atenção para a qualidade dos ativos
O setor de bancos é um dos primeiros a divulgar os números do primeiro trimestre de 2022 (1T22), com o Santander Brasil (SANB11) estreando a temporada do setor ao revelar seus números no próximo dia 26, antes da abertura dos mercados.
De acordo com o Bradesco BBI, a deterioração da qualidade dos ativos deve dominar as discussões e deve ser destaque mesmo sobre a forte evolução do receita líquida com juros (NII) no trimestre. Os primeiros sinais de quão severo pode ser o cenário para os bancos brasileiros devem começar a se materializar no período.
“De fato, acreditamos que as provisões gerais devem aumentar em resposta a um potencial aumento nas taxas de inadimplência. Por outro lado, estimamos que as margens dos bancos com clientes possam apresentar resultados mais fortes, suportados por um melhor mix, enquanto as receitas de tarifas devem estar pressionadas pela sazonalidade relacionada ao 1T22 e 4T21”, avaliam.
Os analistas da casa também esperam que os ganhos comerciais dos bancos ainda compensem parcialmente o crescimento da receita devido ao aumento da taxa Selic, enquanto as despesas operacionais podem ser outro ponto de atenção não apenas no 1T22, mas também para todo o ano.
Tendo em vista que estão mais negativos para os bancos brasileiros em geral no 1T22, os analistas avaliam que o Banco do Brasil (BBAS3) deve apresentar o melhor conjunto de resultados entre os bancos brasileiros de grande capitalização. Banco Pan continua apresentando deterioração na qualidade dos ativos, enquanto as margens financeiras podem permanecer sólidas. Por fim, o ABC (ABCB4) pode apresentar outro sólido conjunto de resultados, enquanto o Banrisul (BRSR6) permanecerá pouco inspirador no 1T22.
O Itaú BBA também comparte da visão de crescimento acima do esperado da inadimplência no segmento de varejo, além de observarem um crescimento mais lento da carteira de crédito. “Em termos líquidos, o desempenho do trimestre não deve afetar as projeções para os lucros no ano como um todo, mas a sua composição sim”, avaliam os analistas, que acreditam que isso pode gerar incertezas, principalmente para o Bradesco, com maior NII e despesas de provisão.
O ritmo do consumo de índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) pode acelerar e os bancos podem ter que aumentar as suas provisões posteriormente, avalia o BBA, que destaca recomendação em Banco do Brasil, com carteiras de crédito de maior qualidade – e com maior resiliência.
Fora do setor bancário, os analistas do Safra esperam um bom trimestre para a Cielo (CIEL3), com um bom Volume Total de Pagamentos (TPV) e ligeira recuperação de preços, e para BB Seguridade (BBSE3), com forte crescimento de prêmios emitidos e bom desempenho das divisões de Previdência e Corretagem. A Brasilprev e a BB Corretora devem contribuir para a solidez dos resultados. Por outro lado, a Porto (PSSA3) poderá ter os resultados atingidos pelo aumento da sinistralidade na divisão de automóveis.
O IRB Brasil RE (IRBR3), deve apresentar tendência semelhante ao trimestre passado, com os contratos descontinuados ainda impactando os resultados, avalia o Safra. A B3 (B3SA3), por sua vez, deve ter números pouco inspiradores, com ligeira queda no resultado final, devido ao menor volume médio de negociação de ações de ações listadas (após uma velocidade de rotatividade mais lenta) em relação a uma alta base de comparação no ano passado.
Bebida e alimentos: tendências distintas
Em destaque entre os resultados, está a gigante de bebidas Ambev (ABEV3). O Bank of America apontou que o primeiro trimestre de 2022 deve ter tendências semelhantes às observadas nos trimestres anteriores: forte crescimento da receita devido aos preços, mas pressão de margem com a inflação de custos.
O BofA estima um crescimento de receita de 9% na base anual para R$ 18,1 bilhões, com Ebitda estável em R$ 5,35 bilhões, implicando uma margem de 29,6%, queda de 2,4 pontos percentuais ano a ano.
O Bradesco BBI avalia que os volumes de cerveja no Brasil podem estar acima das expectativas do mercado, projetando receita líquida no 1T22 de R$ 18,655 bilhões (3% acima do consenso), Ebitda de R$ 5,833 bilhões (3% acima do consenso) e lucro líquido de R$ 3,150 bilhões (8% acima do consenso das estimativas).
“No geral, esperamos que a empresa apresente resultados positivos, tendo em vista que nossa projeção de Ebitda para o 1T22 está 3% além do que o mercado estima, pois estamos um pouco mais otimistas em relação aos preços consolidados (receita por hectolitro) e volumes de cerveja brasileira (projetamos queda de 1,5% em base anual para a Ambev no 1T22, enquanto achamos que o mercado espera uma queda de “meio dígito” no período).
Já para a M. Dias Branco (MDIA3), o Bradesco BBI espera que a empresa apresente receita de R$ 1,860 bilhão (1% abaixo ante o estimado pelo consenso), Ebitda de R$ 124 milhões (9% menor versus o estimado pelo consenso) e lucro líquido de R$ 55 milhões (22% abaixo do estimado pelo consenso). O Ebitda abaixo do consenso deve ser explicado principalmente por uma esperada compressão de margem de cerca de 2 pontos percentuais no trimestre, devido ao aumento dos custos com matéria-prima e maiores despesas de vendas/distribuição, como frete, avaliam os analistas.
No caso das empresas de proteína, analistas destacam diferentes tendências. Em meados de abril, o Goldman Sachs cortou a recomendação para as ações da BRF (BRFS3) para venda, destacando que o impulso dos lucros perdeu força. O banco elencou outros fatores como a inflação de custos, que não está mostrando sinais de normalização, o cenário ruim para o consumo doméstico, o espaço limitado para o repasse dos preços, com consumidores já optando por categorias de proteínas mais baratas, e a concorrência intensa.
Os analistas do Credit Suisse destacaram que, em boa parte do trimestre (até fevereiro), para o segmento de frango em geral, os preços das aves in natura e congeladas tiveram queda, enquanto os preços dos grãos se valorizaram, levando a uma queda de rentabilidade que deve se refletir nos resultados para empresas expostas a esse segmento.
Já em carne bovina, contra todas as expectativas, os analistas comentam que o 1T22 parece ter sido o melhor primeiro trimestre de todos os tempos. Apesar disso, os investidores têm se concentrado menos nos números principais do que nas tendências do trimestre, o que deixa claro que os resultados foram sustentados principalmente por uma forte dinâmica incomum em janeiro e parte de fevereiro. Também neste sentido, os analistas do Morgan esperam um forte trimestre para a JBS (JBSS3), com o Ebitda a R$ 9,6 bilhões, alta de 40% na comparação anual.
Commodities
Números mistos para siderúrgicas e mineradoras
Os resultados da Usiminas (USIM5) divulgados no último dia 20 não empolgaram os investidores, sendo que os números foram prejudicados pela redução em 6% nos preços de aço no mercado doméstico e pelos menores embarques de minério de ferro, que mais do que compensaram os efeitos positivos do aumento de 10% do volume de aço no Brasil e da melhor realização de preços do minério de ferro.
Depois do resultado, os analistas do BTG destacaram que responderam nos últimos dias a uma série de questionamentos sobre os resultados decepcionantes da siderúrgica e se há uma comparação que justifique a queda das ações da Gerdau (GGBR4) também.
Segundo os analistas, além do fato conhecido de que os resultados das siderúrgicas brasileiras devem ser pressionados por alguns descontos de preços, volumes fracos (sazonalidade) e pressões de custo, existem diferenças importantes entre os dois casos.
Eles modelam o Ebitda para a Gerdau no 1T22 em R$ 5,7 bilhões (sno topo das expectativas do mercado), mas ainda esperam que as margens Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) no Brasil se contraiam perto de 7 pontos na base trimestral, para cerca de 24-25%. Mesmo que o Ebitda seja apenas um pouco acima de R$ 5 bilhões, como algumas estimativas do mercado, isso ainda implicaria um Ebitda anualizado de R$ 20 bilhões para o ano.
“Também acreditamos que a força dos EUA oferece um fator de compensação interessante para a história, além de ser uma história operacional, fluxo de caixa e alocação de capital muito mais “limpa”. Embora entendamos que esta é uma alocação mais consensual reiteramos nossa preferência de longa data pela Gerdau sobre a Usiminas, e esperamos que a primeira continue tendo desempenho superior no futuro próximo”, destaca o BTG, que tem a Gerdau como a preferida no setor.
Já para o Bradesco BBI e para o Itaú BBA, a Gerdau deve ver o seu Ebitda recuar por conta da queda dos preços do aço no mercado interno.
“Prevemos um Ebitda de R$ 5,2 bilhões, queda de 12% na base trimestral, com resultados mais fracos no Brasil e na América do Sul mais do que compensando os resultados mais forte nos Estados Unidos”, afirmam os analistas do BBA. Para eles, os crescimentos previsto de 1% das vendas no mercado interno, de 2% na América do Norte e de 1% do setor de aços especiais não devem ser suficientes para compensar as quedas de mais de 15% das exportações, de 5% das vendas na América Latina e de 2% dos preços no mercado interno.
O BBI vê o Ebitda da Gerdau recuando pouco menos, cerca de 10% na base trimestral, para R$ 5,4 bilhões. Os analistas do Bradesco acreditam que a margem de lucros na América do Norte deve sair de 27% para 29%, o que deve compensar mais as perdas do outro lado. “Pressões de custo devem permanecer presentes para siderúrgicas no primeiro trimestre, mas a Gerdau deve estar relativamente mais isolada, beneficiando-se de maior produção, flexibilidade e menor exposição ao carvão e ao minério de ferro”, comenta o Bank of America sobre a companhia.
No caso da Vale (VALE3), tanto para o Itaú BBA quanto para o Bradesco BBI, o Ebitda deve recuar 5%, para US$ 6,5 bilhões. O Bank of America, por sua vez, vê esse indicador da mineradora recuando 4%, para US$ 6,6 bilhões.
A alta do preço do minério não deve ser suficiente para dirimir a queda do volume produzido pela Vale, impactado fortemente pela sazonalidade, pelas chuvas e por problemas logísticos na região Norte do Brasil. Além da queda das embarcações, a Vale, para os analistas, deve ainda ver seus custos aumentarem, com uma menor diluição dos gastos.
Papel e celulose: alta nos preços de venda, mas alta dos custos
Na avaliação do Bradesco BBI, os resultados das empresas de papel e celulose no 1T22 devem ser impactados por fatores
contrastantes. Do lado positivo, os preços mais altos de celulose e papel na China e na Europa devem sustentar os resultados. Do lado negativo, uma concentração de paradas para manutenção impactou os volumes de vendas e os custos tenderam a subir.
Para o banco, a Suzano (SUZB3) deve reportar Ebitda de R$ 5,25 bilhões, 17% menor versus o 4T21. Os volumes devem cair 8,5% no trimestre, para 2,5 milhões de toneladas (principalmente devido a paradas para manutenção), enquanto esperam que os preços de exportação cheguem a um prêmio de aproximadamente 2% em relação aos preços da China. Os custos devem continuar a subir (12,5% versus o 4T21).
Já o Ebitda da Klabin (KLBN11) de R$ 1,68 bilhão (queda de 11% versus 4T21, alta de 34% na comparação anual no 1T22) deve ser impulsionado por maiores preços de papel/embalagem e celulose, compensados por menores volumes de papelão ondulado, menores vendas de celulose (devido à manutenção) e pressões de custos. Kraftliner será novamente um destaque positivo.
A Dexco (DXCO3) deve registrar trimestre sequencialmente mais fraco (Ebitda de R$ 485 milhões no 1T22
versus R$ 588 milhões no 4T21), devido a menores volumes e pressões de custos, parcialmente compensados por iniciativas de precificação.
Petroleiras: beneficiadas por alta das commodities
A expectativa é de um forte trimestre para as empresas petroleiras, em meio ao ambiente de preços elevados do petróleo.
No início do mês, o Goldman Sachs destacou suas projeções para a Petrobras (PETR3;PETR4), apontando que a expectativa dos analistas da casa para o Ebitda da estatal está cerca de 30% (em dólares) acima do consenso Bloomberg de mercado.
Em reais, a projeção é de um Ebitda de R$ 82,316 bilhões no trimestre, alta de 10% na base trimestral e de 66% na anual; já em termos ajustados, a expectativa é de um valor de R$ 82,25 bilhões, alta de 31% frente o quarto trimestre de 2021 e de 69% frente mesmo período do ano passado. Ganhos de estoque e melhores preços do petróleo guiam as projeções.
Os analistas também chamaram a atenção para um potencial anúncio de pagamento de dividendos, que pode ser de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões adicionais, estimados a partir da fórmula de referência da companhia sobre os resultados do quarto trimestre. O cenário base assume US$ 5 bilhões em dividendos adicionais; contudo, considerando a geração de fluxo de caixa prevista para o primeiro trimestre e o mês de abril, o valor pode chegar a US$ 10 bilhões. A estatal divulgará seus resultados no dia 5 de maio.
Um dia antes, a PetroRio (PRIO3) divulgará seus números, e os analistas do Credit Suisse esperam um conjunto forte de resultados impulsionados pelo petróleo. Assim, a equipe projeta um Ebitda de cerca de R$ 206 milhões (queda de 9% na base trimestral, mas alta de 152% na anual), abaixo da forte base do quarto trimestre de 2021 devido a uma venda a menos durante o trimestre (três no 1T22, ante quatro no 4T21), não totalmente compensado pelos preços mais altos do petróleo (alta de 25% na base trimestral). Vale ressaltar que a produção aumentou 2,9 mil barris de óleo equivalente (kboed), ou avanço de 9%, sequencialmente para 35,2 kboed no 1Q22, após um 4Q21 turbulento com paradas de produção em Tubarão Martelo.
Varejo: números mistos e atenção para a inflação
A temporada de resultados para as empresas do setor de consumo e varejo começa em 28 de abril com a Grendene (GRND3), seguida pela maioria das outras nas duas semanas seguintes, com uma “Super quinta-feira” em 5 de
maio, quando serão reportados os resultados de oito empresas.
O Bradesco BBI destacou que, novamente, espera ver o impulso mais forte da receita líquida e a demanda mais consistente entre os nomes de vestuário, embora vários ainda sofram pressão de margem.
Os analistas do banco esperam que a Arezzo & Co. (ARZZ3) apresente o resultado mais forte, com crescimento de alta qualidade em todas as suas marcas (com vendas crescendo 60% na comparação anual no 1T22).
Em contraste, as categorias de tíquete alto permanecem sob pressão: eles esperam que o crescimento do comércio eletrônico diminua, mas também veem sinais de recuperação de margem – particularmente em Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) – uma vez que a administração das companhias fez ajustes para se adequar à realidade de um ambiente de demanda mais fraco.
Os analistas esperam que a Americanas (AMER3) registre a maior taxa de crescimento de volume de mercadoria bruta (GMV, na sigla em inglês).
Nos últimos dias, entre as companhias varejistas, também ganhou destaque a Natura&Co (NTCO3), em meio à forte queda das ações com as sinalizações da empresa sobre o resultado do 1º trimestre de 2022. A Natura&Co divulgou a prévia com melhoria no faturamento da Natura Brasil, enquanto a Avon Brasil deverá apresentar desaceleração, destaca o Itaú BBA.
Já os números da Avon internacional devem ser impactados pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, embora a margem (rentabilidade) deva ficar estável contra o mesmo período de 2021. “Levando em consideração outros resultados, nossa visão sobre os números divulgados é negativa, uma vez que implica em uma revisão de 16% e de 35% para a receita líquida e Ebitda, respectivamente, que temos em nosso modelo”, destaca o BBA.
Com relação às varejistas de alimentos, as prévias de resultados do primeiro trimestre de 2022 trouxeram com sinalizações positivas para GPA – Grupo Pão de Açúcar – (PCAR3), Carrefour Brasil (CRFB3) e Assaí (ASAI3), com os dados no geral, apontando para recuperação das companhia versus o quarto trimestre de 2021. O destaque, contudo, ficou para as duas últimas, com o “atacarejo” seguindo a tendência de maior resiliência.
Conforme destaca o Goldman Sachs, a visão sobre os números é positiva, com as vendas aumentando sequencialmente ao longo do trimestre e os volumes se recuperando gradualmente. No entanto, avaliam os analistas, as empresas continuam vendo um certo grau de crescimento nominal de vendas nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) relatado abaixo da inflação de alimentos em casa (13,7% em março nos últimos doze meses, segundo o IBGE).
A XP ressalta que o destaque positivo foi o Atacadão, a operação de atacarejo do Carrefour, enquanto o negativo foi a operação do GPA Brasil. “Entretanto, é importante notar que nós ainda não temos visibilidade da rentabilidade, o que vemos como uma métrica importante para definir o tom da nossa leitura do resultado do primeiro trimestre”, apontam os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday.
Bens de capital e transportes: preços e inflação também no radar
A XP espera resultados mistos no primeiro trimestre para o setor industrial, com algumas empresas se beneficiando de um forte posicionamento de preços, embora um ambiente de custos inflacionários e gargalos na cadeia de suprimentos tenham impedido outros nomes de melhores perspectivas de receita e rentabilidade.
Para a WEG (WEGE3), os analistas da XP esperam que as receitas sigam as tendências positivas observadas nos últimos trimestres (alta de 29% na base anual e estável na comparação trimestral), com a margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) apresentando melhora em relação ao trimestre anterior (alta de 0,20 ponto percentual), embora em níveis inferiores em relação ao 2021 (Ebitda em alta de 12% na base anual e de 1% na trimestral).
Já na visão do BBI, apesar das preocupações do mercado sobre como o real mais forte atingirá a WEG, os analistas projetam que a empresa apresente bons resultados no 1T22 com Ebitda de R$ 1,1 bilhão (alta de 10% na comparação anual no 1T22) e margem Ebitda de 17% (quase estável).
Para a Embraer (EMBR3), esperam que a pior sazonalidade do primeiro trimestre e as entregas mais concentradas no segundo semestre de 2022 impulsionem um desempenho fraco de receita e rentabilidade no 1T22, com receita líquida de cerca de US$ 610 milhões, queda de 25% na base anual, com entregas já anunciadas de 14 aeronaves, queda de 36% na base anual.
Para autopeças, os analistas da XP destacam o sólido desempenho de receita e margem da Randon (RAPT4) no 1T22 refletindo preços unitários médios mais altos (que esperamos suavizar a partir do 2T22), com Ebitda de R$ 395 milhões, alta de 18% na base anual; e o perfil de receita resiliente da Iochpe-Maxion (MYPK3), respaldado por contratos de longo prazo com montadoras, com receita líquida de cerca de R$ 4 bilhões, alta de 27% na base anual, e margem Ebitda sólida de 11,7%, suportada por um melhor mix de produtos.
Para o BBI, a Iochpe pode surpreender positivamente o mercado, apesar da produção de veículos de passeio abaixo do esperado. Isso pode ser explicado por um mix de receita mais lucrativo com veículos pesados e pela venda de mais rodas premium para carros de passeio. Além disso, a alavancagem financeira deve ter melhorado no 1T22 para cerca de 2 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda, de 2,3 vezes no 4T21, dada a valorização do real frente ao dólar.
Já no segmento de aluguel de veículos, os analistas do BBI apontam que Vamos (VAMO3) e Movida (MOVI3) devem ser os destaques positivos para o trimestre, com a Vamos devendo reportar R$ 1,6 bilhão (alta de 62% em base anual) de capex (investimentos) contratado e Movida com Ebitda do 1T22 de R$ 894 milhões (alta de 194% na base anual e 6% acima do consenso).
“A Vamos deve se beneficiar da adição de novos contratos com retornos positivos e fortes resultados em operações de concessionárias. A Movida continua a expandir e renovar sua frota de automóveis através de parcerias estratégicas com algumas montadoras e também tem aumentado os preços diários de aluguel para proteger o RoIC (Retorno sobre o Capital Investido)”, avaliam os analistas.
No caso da Localiza (RENT3), os analistas do BBI esperam uma pequena adição líquida de frota no 1T22, refletindo uma produção mais fraca de veículos no Brasil. Entretanto, o ambiente de preços continua positivo e o preço médio diário de aluguel deve atingir R$ 105 para RAC e R$ 60,30 para a gestão da frota (acima de R$ 103,30 e R$ 59,90 no 4T21, respectivamente). Enquanto isso, dada a entrega de apenas cerca de 16 mil carros novos, a menor venda de carros usados no 1T22 também deverá reduzir a diluição dos custos fixos, levando a uma margem Ebitda para seminovos de 13,2%,
abaixo em 0,4 ponto percentual no trimestre.
Já no caso da Unidas (LCAM3), ela não deve reportar praticamente nenhum crescimento líquido da frota para o segmento de aluguel de carros, mas os preços diários de aluguel em cerca de R$ 100 (alta de 37% em base anual e de 7% no trimestre) provavelmente contribuirão para o crescimento da receita em aluguel de carros de 44% em base anual.
Com relação às aéreas, o Itaú BBA espera que a Gol (GOLL4), que divulga seus resultados no dia 28 de abril, apresente números “mornos”, conforme antecipado pela empresa em sua prévia operacional e financeira. Do lado positivo, a demanda ainda tem espaço para o crescimento, uma vez que ainda não voltou aos níveis pré-pandemia, mas a alta dos preços dos combustíveis tem prejudicado a lucratividade.
Construção civil: como recuperar as margens?
As prévias operacionais do primeiro trimestre de 2022 também trouxeram sinalizações de como devem ser os resultados do período. Algumas empresas seguem com desafios para melhor as margens em um cenário de inflação dos custos, além da alta de juros impactando o mercado de crédito após um quarto trimestre já desafiador.
A Tenda (TEND3) teve o seu quarto trimestre definido como algo “a ser esquecido” pela XP Investimentos, com custos mais altos na base anual e receita caindo. Já no primeiro trimestre, para o Credit Suisse, “há evidências de que a companhia está tentando recuperar sua margem”. “Lançamentos e vendas caíram na base anual, ficando abaixo das nossas estimativas, e a velocidade de vendas desacelerou. No entanto, tal efeito se deveu, em parte, aos incrementos de preços unitários da Tenda”, comentam os analistas do banco.
Para a MRV (MRVE3), os analistas do Credit destacaram: “Apesar da aceleração da velocidade de vendas na base trimestral e dos aumentos de preços reportados (com alta de 10% em lançamentos e 3% em vendas), continuamos céticos quanto à recuperação de margens ao longo do ano considerando o aumento inflacionário dos custos”, comenta o Credit Suisse sobre a companhia.
Direcional (DIRR3) e Moura Dubeux (MDNE3), por sua vez, se destacaram positivamente nas prévias, assim como a Cyrela (CYRE3). Segundo o BBI, a companhia teve números positivos impulsionados pela forte venda no 1T22 – 50% de velocidade de vendas em lançamentos e 46% de SoS (velocidade de vendas) em 12 meses. Além disso, o primeiro trimestre é sazonalmente mais fraco e os analistas esperam que os lançamentos aumentem ao longo do ano se o nível de vendas permanecer sólido, avaliando ainda gostarem da diversificação do segmento da empresa e da flexibilidade relativamente maior para navegar em períodos incertos.
O Credit Suisse, por sua vez, destaca maior otimismo para o setor de shoppings, destacando que, no primeiro trimestre de 2022, a tendência de aumento dos aluguéis registrada nos últimos três meses de 2021 continuou no começo do ano.
“Aluguéis mais robustos já começaram a se refletir nos resultados das companhias”, avaliam os analistas, que estimam que as receitas e lucros das empresas vão subir 30% e 10%, respectivamente, em 2022 como um todo, se comparado em 2019, com a recuperação.
“Com custos de ocupação relativamente estáveis e eficiências de custos somadas a essas condições, os shoppings encontraram a oportunidade perfeita para repassar a inflação acumulada aos aluguéis”, avaliam. Assim, apesar dos aluguéis mais fortes já começarem a refletir nos resultados das empresas, os analistas acreditam que o melhor ainda está por vir.
Outros setores para ficar de olho
Em relatório, o Morgan Stanley também destacou algumas outras empresas que devem chamar a atenção do mercado no trimestre.
A recuperação deve continuar entre os restaurantes, como o BK Brasil (BKBR3), já acima dos níveis pré-Covid para todas as empresas e com margens estáveis, uma vez que as empresas repassam com sucesso custos de insumos mais elevados. A Smart Fit (SMFT3) continuará recuperando sua base de clientes e alavancagem operacional, embora as margens permaneçam consideravelmente abaixo dos níveis normais no primeiro trimestre.
No segmento educacional, esperam fortes resultados para Arco Educação e Vasta, e boa recuperação para vários nomes de educação superior, como Ânima (ANIM3), Afya, Ser Educacional (SEER3) e Yduqs (YDUQ3), impulsionados por fusões e aquisições e bom volume de ingresso (tanto no presencial quanto no ensino à distância), bem como margem expansão em vários nomes, pois a alavancagem operacional deve compensar a inflação de custos. Para a Cogna (COGN3), que viu suas ações dispararem na sessão pós-resultado do quarto trimestre de 2021, os analistas do Morgan veem receitas pressionadas com o foco da Kroton, de ensino superior, no ensino à distância, e com a venda das escolas da Saber, enquanto as margens devem seguir em recuperação.
Já no setor de saúde, o impacto da gripe e da ômicron deve refletir na receita maior no trimestre, assim como as operações de fusões e aquisições, mas ainda pressionando as margens, implicando em queda no lucro por ação para a maioria das empresas. A exceção entre as companhias que devem ter margens pressionadas é a Hypera (HYPE3), que já havia apontado para um resultado positivo neste ano em geral após os resultados do quarto trimestre de 2021.
FONTE : INFOMONEY ( POR Lara Rizério)