Artistas e gravadoras podem ficar em ‘sinuca de bico’ se alimentarem a dependência do aplicativo TikTok
De um lado, está uma jovem banda paranaense de indie pop, Jovem Dionísio, que foi alçada ao estrelato nacional porque a música-título do álbum de estreia de Bernardo Pasquali (voz), Bernardo Hey (teclados), Gabriel Mendes (bateria), Gustavo Karam (baixo) e Rafael Dunajski (guitarra) – Acorda, Pedrinho (2022), disco lançado discretamente em 24 de março – viralizou no TikTok e, uma vez propagada dentro e fora do aplicativo, se tornou hit que entrou no Top 50 do Spotify global neste domingo, 29 de maio.
De outro lado, está uma cantora carioca já consagrada, Anitta, que ficou sem apoio da gravadora norte-americana Warner Records para bancar o clipe do reggaeton Gata – uma das melhores faixas do quinto álbum da artista, Versions of me (2022), lançado em abril – porque a música alcançou desempenho no TikTok abaixo do esperado pela companhia fonográfica.
Extremados, esses dois casos exemplificam como artistas, gravadoras e empresários podem estar entrando em sinuca de bico se alimentarem a dependência da rede social criada na China para compartilhamento de vídeos curtos.
É fato que o TikTok vem mostrando poder para impulsionar músicas e carreiras. A superestimada cantora e compositora mineira Marina Sena, por exemplo, virou figura repetida em festivais e na mídia cultural desde que a música Por supuesto viralizou na rede de origem chinesa em outubro de 2021, dando visibilidade ao primeiro álbum solo de Sena, De primeira (2021).
A questão a ser colocada é: até que ponto é interessante depositar todas as expectativas do resultado de uma música em um único canal de mídia? Para artistas em início de carreira, como o grupo Jovem Dionísio, nada há a perder.
Para gravadoras e artistas já consolidados no mercado fonográfico, muito pode ser perdido se o foco for direcionado primordialmente para o aplicativo chinês. Ou para qualquer outra rede. Até porque, por mais que haja pressão da indústria para que artistas emplaquem músicas no TikTok, quem manda em última instância é o público.
É fato que artistas e gravadoras tentam o tempo todo seduzir esse público com “dancinhas” criadas para gerar hits virais. Mas nem sempre dá certo. Aliás, quase sempre dá errado.
As exceções, no universo pop brasileiro, são o estouro de Marina Sena, a explosão de Acorda, Pedrinho e a propagação viral de Envolver, o reggaeton que, a partir do sucesso no TikTok, acabou pondo Anitta no topo do Spotify Global.
Por isso mesmo, esperar tudo do TikTok é entrar em sinuca de bico que pode deixar artistas e gravadoras sem saída.
FONTE: G1 (MAURO FERREIRA)