Tecnologia reforça combate ao fogo no Parna da Serra da Bodoquena, em MS
Inovações tecnológicas têm sido cada vez mais constantes na vigilância e proteção ambiental, assim como no monitoramento de áreas suscetíveis a queimadas no mundo todo. Como parte da estratégia do WWF-Brasil de atuação em respostas emergenciais, treinamentos de uso de drones para a conservação da natureza já foram realizados em seis estados do país desde 2018, com o objetivo de mapear ameaças como invasões e desmatamento, mas também para aprimorar a prevenção e o combate ao fogo.
O mais recente ocorreu de 7 a 9 de junho, no Parque Nacional da Serra da Bodoquena (Parna Bodoquena), em Bonito (MS). Na ocasião, uma equipe do WWF-Brasil treinou 27 pessoas que atuam em áreas protegidas de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraguai – país que compartilha o Pantanal com o Brasil e a Bolívia.
Entre os participantes havia brigadistas; guarda-parques; gestores ambientais do Cerrado, como da Estação Ecológica Federal Serra Geral do Tocantins e da Gerência Regional 3 do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade); bem como brigadistas das Terras Indígenas Irantxe e Menkü e técnicos de organizações parceiras, como OPAN (Operação Amazônia Nativa) e Fundação Neotrópica.
O Parna da Bodoquena foi escolhido por ser uma área sensível, que nos últimos anos tem sofrido uma elevação no número de focos de queimadas, passando de 1.300 em 2019, para 2.800 em 2021. Segundo dados do MapBiomas Fogo, o Pantanal foi o bioma que mais queimou nas últimas décadas, tendo 57% de sua área consumida pelo fogo pelo menos uma vez entre 1985 e 2020. Os 77 mil hectares do Parna da Bodoquena estão distribuídos entre os municípios de Bonito, Jardim e Bodoquena e são compostos por diferentes biomas: Pantanal e Chaco no entorno e Mata Atlântica e Cerrado dentro do parque.
Teoria e prática
O conteúdo do curso foi dividido em duas partes, teórica e prática. E contou com participantes que já tinham noções básicas no uso de drone e profissionais de combate ao fogo que nunca tinham manuseado o equipamento.
A parte teórica tratou de temas como regras da ANAC, já que a Agência Nacional de Aviação Civil regula os voos de drones; uso do equipamento para conservação e apoio à gestão de áreas protegidas; avaliação de condições climáticas, da topografia e dos locais de monitoramento; além do uso de aplicativos de comando e mapeamento.
Depois do nivelamento entre os alunos, houve prática em campo. E o local escolhido foi o justamente Parna da Bodoquena, criado no ano 2000 com diversos objetivos, como conservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e de espécies como onça-pintada, harpia e tamanduá-bandeira, realização de pesquisas científicas e desenvolvimento de atividades de educação ambiental. A gestão do parque espera ainda promover atividades de recreação e turismo ecológico.
Felipe Spina, que lidera o trabalho de tecnologia para a conservação no WWF-Brasil, foi um dos instrutores do curso de uso de drones para o manejo integrado do fogo (MIF), queimas controladas e combate a incêndios. Ele preparou um checklist operacional que apoia o planejamento prévio de voo e considera, entre outros itens, tempo de bateria, percepção para evitar obstáculos imóveis, como árvores ou antenas, e animais.
O MIF é uma importante estratégia e vem sendo utilizada na Bodoquena. O parque tem áreas de Cerrado e Pantanal, biomas que possuem similaridades e onde a dinâmica do fogo ajuda na rebrota e quebra de dormência de sementes. Assim, diferentemente da Amazônia, que é um bioma úmido, no Pantanal e no Cerrado é indicada a queima prescrita (controlada) antes dos períodos secos. Essas ações podem ser melhor planejadas com o mapeamento do drone e ajudam a reduzir a quantidade de material combustível disponível e, com isso, diminuem a ocorrência de grandes incêndios florestais.
Nessas situações, o uso de drones permite que rapidamente os brigadistas tenham uma visão aérea da situação e tomem decisões mais eficazes. Assim, é possível definir rotas de fuga, ver onde está a cabeça do incêndio e que acessos os brigadistas podem ter para chegar ao melhor local de combate ao fogo.
Carolina Blanca Alvarez Fretes é guarda-parque no Pantanal paraguaio, onde drones para monitoramento ambiental já estão presentes. “Utilizamos para poder ver todo o entorno e atuar de forma mais rápida e eficaz nos locais, diminuindo os riscos para os brigadistas que atuam no combate ao fogo nas épocas de seca, que duram alguns meses e exigem atuação constante”, conta.
Além de realizar o treinamento, o WWF-Brasil, em parceria com a União Europeia, também doou um drone equipado com sensor termal e acessórios, como caixa de som e lanterna, ao Parna da Bodoquena. “Além de conseguir fazer mapeamentos precisos das áreas, captura de imagens e vídeo, o drone que o ICMBio recebeu tem a função de medir a temperatura – o que melhora a atuação dos brigadistas. Com esses dados, podemos fazer o trabalho de combate direto no local e intervenção efetiva, considerando vento, temperatura e direção do fogo”, explica Spina.
Gerente de Unidades de Conservação (UCs) do Imasul (Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul), Leonardo Tostes Palma é responsável por 10 UCs em Mato Grosso do Sul. Ele frisa que o uso de drones é necessário não apenas para monitoramento e gestão local. “Já considero imprescindível para o planejamento e acompanhamento do comportamento do fogo nas áreas de preservação. As ocorrências de fogo, ano após ano, têm se intensificado. Com o mapeamento das regiões, podemos planejar melhor o combate de incêndios florestais. Os drones possibilitam acompanhar o ritmo e a forma como o fogo está se comportando no momento da ocorrência. Quando o fogo ocorre de maneira descontrolada, e sem a possibilidade entender o comportamento dele, há maior perda de biodiversidade”, salienta.
Julia Boock, especialista em conservação do WWF-Brasil, trabalha há anos em parceria com gestores de unidades de conservação e conta que Bonito foi o local escolhido para o treinamento porque é preciso apoiar o fortalecimento do Parna da Bodoquena. “Apoiamos a efetividade da gestão que tem buscado a melhoria para aqueles que estão na linha de frente, como guarda-parques e brigadistas. É preciso treinamento para aprimorar o combate e proteção das unidades da região e das pessoas”, diz.
“O uso de drones é essencial para evitar incêndios de grandes magnitudes por meio do planejamento das ações de prevenção e também no combate. Esse equipamento mostra aos brigadistas quais são as áreas mais seguras para realizar o combate, como pode ser a logística, onde estão as fontes de águas e principais acessos. Infelizmente, os incêndios florestais são uma tendência”, destaca Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação e líder do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil. “Precisamos da tecnologia para dar melhores respostas e proteger quem atua em campo”.
Gajardo conta que o WWF-Brasil vem atuando com parceiros locais para apoiar a implementação e formação de brigadas de combate ao fogo. Ao todo já foram formadas 20 no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia.
“Para nós, é maravilhoso poder ver e mapear onde está o fogo. Muitas vezes não temos a visibilidade ideal dos focos e nos colocamos em risco. Mas agora, com o drone, teremos uma visão ampla e mais segurança para trabalhar”, explica João Batista Benites, brigadista do Parna da Bodoquena.
FONTE : WWF BRASIL ( Por Maíra Teixeira, de Bonito (MS) )