Nikkeis eleitos e não eleitos em São Paulo e Paraná avaliam desempenho nas urnas e projetam futuro
Passado o primeiro turno da eleição, as comunidades nikkeis residentes nos Estados de São Paulo e do Paraná contabilizam o “saldo” para a Câmara dos Deputados e para suas respectivas Assembleias Legislativas. Em São Paulo, a exemplo de 2018, somente o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), conseguiu uma cadeira para a Câmara dos Deputados. Na Assembleia Legislativa, a “bancada nikkei” permanecerá com dois representantes. A “baixa” foi o Coronel Nishikawa, que concorreu e não conseguiu se eleger a deputado federal. Em contrapartida, o “desconhecido” vereador Felipe Franco Murakami (União), foi eleito com 90.440 votos e se juntará ao já deputado Márcio Nakashima (PDT), reeleito com 85.195 votos.
No Paraná, que concentra a segunda maior comunidade nikkei – atrás apenas de São Paulo – Luiz Nishimori (PDS) foi reeleito para o seu quarto mandato com 73.202 votos. Ele foi o 24º mais votado entre os 30 deputados federais eleitos pelo Paraná, mesma colocação obtida em 2018, quando Nishimori conseguiu 73.344 votos.
Para Nishimori, o sentimento é de gratidão. “Os paranaenses novamente me honraram com um novo mandato, o que fortalece meu espírito de representar bem o Paraná e o Brasil”, disse o parlamentar em entrevista ao Nippon Já, acrescentando que “foi uma vitória dificílima, mas muito consagradora”. Para Nishimori, os desafios para o próximo mandato são muitos.
“Vou continuar defendendo a agricultura, a educação e a saúde como sempre fiz. Também temos muito que fazer em prol do relacionamento Brasil-Japão”, afirma o deputado, explicando que, especificamente em relação ao Japão, os principais desafios são o de promover a carne suína e bovina paranaense no mercado japonês – trabalho já vem sendo desenvolvido desde 2021, quando o estado conseguiu a certificação e reconhecimento como área livre de febre aftosa – e o estágio técnico para brasileiros em empresas japonesas, tema que já vem sendo debatido há algum tempo. Trata-se de uma parceria entre os dois países com o objetivo de enviar brasileiros para estagiarem nas empresas japonesas por um período que pode chegar até 5 anos recebendo o mesmo salário dos trabalhadores japoneses.
“Há ainda a questão dos vistos, de turismo, e para yonseis”, diz Nishimori, explicando que também pretende fortalecer o diálogo com a comunidade nikkei de São Paulo. “Estava torcendo muito para que o Walter Ihoshi conseguisse eleger”, disse Nishimori, que nesta quarta-feira já se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro.
Propositiva – Walter Ihoshi, aliás, que ficou como terceiro suplente do PSD com 55.027 votos, destacou sua campanha “propositiva” e ressaltou o importante apoio que recebeu da comunidade, entre eles do vereador Aurélio Nomura – na dobradinha com o vereador e candidato a deputado estadual George Hato – e dos ex-deputados Junji Abe e William Woo.
Candidato mais votado em Tupã e terceiro mais votado em Marília, Walter Ihoshi explica que o que o prejudicou foi o desempenho – ruim – do partido. “A previsão inicial era fazermos de 5 a 6 cadeiras, acabamos fazendo apenas 3”, lamentou Ihoshi, acrescentando que “na nossa avaliação, tivemos uma boa votação”. “Apesar de ainda ser muito recente, a leitura que fazemos é que não perdemos muitos votos, mas devemos reunir a equipe nos próximos dias para avaliarmos o que deu certo e o que não deu”, conta Ihoshi, que acha cedo falar sobre o seu futuro.
“Como se costuma dizer, o futuro a Deus pertence. O objetivo agora é entrar de corpo e alma na campanha do Tarcísio [de Freitas, do Republicanos] para elegê-lo governador de São Paulo”, conta Ihoshi, que despista ao ser indagado se a boa votação o credencia a uma nova disputa. Sobre essa questão, diz apenas que Marília, onde tem domicílio eleitoral, e a região da Alta Paulista ficaram sem representante na Câmara dos Deputados para os próximos quatro anos.
Mais esporte – Para o vereador George Hato, que concorreu a uma cadeira na Assembleia paulista, “fizemos uma campanha limpa, baseado nas nossas propostas de política de prevenção de doenças através do esporte e por mais investimentos na saúde para levar um atendimento mais humanizado à população de São Paulo”.
“Nossa bandeira do ‘mais esporte, menos remédio’ foi muito bem recebida em todo o estado e apesar de não termos conquistado uma cadeira na Assembleia Legislativa me sinto muito fortalecido com o resultado desta eleição”, disse ele, que agradece “os 55.353 amigos que acreditaram nas minhas propostas e me deram seu voto de confiança”.
Segundo ele, “a força que recebi da minha família, amigos, apoiadores e colaboradores me faz prosseguir na luta pelo que acredito”. “Agora, continuo representando a comunidade japonesa na Câmara Municipal de São Paulo, com o mesmo empenho e comprometimento”, explicou George.
Mais segurança – Quem também agradece seus eleitores é a delegada Raquel Kobashi Gallinati, que, em sua primeira eleição a deputada estadual, obteve 52.932 votos. “Encerro minha campanha muito feliz com o apoio de tantos amigos em minha primeira disputa a um cargo político”, diz a delegada, que ficou como segunda suplente do PL.
“Podem ter certeza de que esse foi o primeiro passo, e nossa jornada juntos está apenas começando”, disse Raquel, que já na segunda-feira retomou seu posto como presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), onde cumpre seu segundo mandato.
Eleita pela quarta vez consecutiva como uma das Melhores Delegadas de Polícia do Brasil pelo Censo do Portal Delegados, Raquel Gallinati explica que “como uma pessoa ativa na comunidade japonesa, aprendi desde sempre valores passados pela família que são importantes para formação do caráter e entendo que estes valores são necessários para termos uma sociedade melhor como um todo”. Com propostas claras para a segurança pública e em defesa das mulheres vítimas de violência, a policial conta que, de imediato, “vamos continuar nossa luta para eleger o governador Tarcísio e o presidente Bolsonaro”.
Márcio Nakashima – Com 85.195 votos, Márcio Nakashima foi reeleito para seu segundo mandato na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Ao agradecer a votação, o deputado destacou que “nosso mandato venceu todas as dificuldades”. “Fomos perseguidos, tentaram desmobilizar nossa equipe, mas mantivemos o foco e conseguimos nos eleger graças ao entendimento dos paulistas sobre o nosso trabalho”, desabafou o deputado, lembrando que “exercer o mandato de forma independente foi um acerto político”.
“Tive coragem para enfrentar o sistema. Nunca me vendi. Enquanto outros políticos se rendem ao poder do Estado, nós vencemos mostrando que temos lado e nos mantivemos alinhados à população de São Paulo”, afirmou Nakashima, destacando as atuações em conjunto com o grupo PDO (Parlamentares em Defesa do Orçamento) – em 2020, no início da pandemia de covid-19, juntamente com outros parlamentares do PDO, o deputado fez um intenso trabalho de fiscalização de hospitais públicos e de campanha por todo o estado de São Paulo.
Kaikans – Para os próximos quatro anos Márcio Nakashima apostará na continuidade das ações de enfrentamento da violência doméstica, no trabalho de busca por pessoas desaparecidas, principais bandeiras de luta. Sobre a comunidade nikkei, o parlamentar disse que também desenvolverá projetos em parceria com representantes da comunidade japonesa.
“Quero regularizar a documentação dos kaikans paulistas que sofreram durante a pandemia e não conseguiram se reestruturar para que possam receber verbas de emendas parlamentares para suas importantes ações culturais e sociais. Destinamos R$ 250 mil para manutenção do Festival do Japão, temos conversa com as várias associações culturais e sociais e vamos seguir nesse trabalho”, afirmou Márcio Nakashima, antecipando que pretende destinar mais recursos para os municípios, sobretudo, do interior, e continuar ouvindo a população.
Exceções – Reeleito para o seu segundo mandato na Câmara dos Deputados com 295.460 votos – foi o oitavo deputado mais bem votado em São Paulo –, Kim Kataguiri conta que “a maior parte dos deputados que se elegeram, ou tiveram muito dinheiro para despejar nos seus redutos eleitorais ou estavam ligados a algum candidato à presidência da República, ou apoiando esse candidato ou sendo apoiado por ele”. “Fui uma das raríssimas exceções que, digamos, sobreviveu”, disse Kim, que lamentou o fato de a comunidade não ter eleito mais representantes nikkeis.
“Na minha avaliação, isso faz com que a comunidade como um todo tenha que sentar e dialogar para rever as estratégias da própria atuação da comunidade na política”, salienta o parlamentar, acrescentando que o principal desafio do próximo mandato será, “sem dúvida nenhuma, de seguir com a minha de luta de combate ao privilégios, de fazer com que a população mais pobre e que a classe média deixe de arcar com os privilégios da elite do funcionalismo público, com super salários de 100, 200 mil reais que assaltam o nosso bolso. E seguir também com o trabalho em prol da educação no Brasil, de conseguir garantir, como aprovei na Comissão de Educação, todos os investimentos para o ano que vem, como o reajuste da merenda e o reajuste da bolsa permanência, além lutar para a manutenção das verbas próprias das universidades sem que esse caixa seja assaltada pelo governo”, explicou, reafirmando que a posição do MBL para o segundo turno continua a mesma do primeiro. Ou seja, o “MBL segue defendendo o voto nulo para a presidência da República, assim como foi no primeiro turno”, destaca Kim Kataguiri
FONTTE: NIPPON JÁ (POR ALDO SHIGUTI)