Almir Sater cruza trilhas pantaneiras e andinas na rota segura do álbum ‘Do amanhã nada sei’
Resenha de álbum
Título: Do amanhã nada sei
Artista: Almir Sater
Edição: Cantaville
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Décimo álbum solo gravado em estúdio por Almir Sater, Do amanhã nada sei é o 15º título da discografia deste cantor, compositor e violeiro sul mato-grossense que, em essência, faz som folk enraizado na terra brasileira.
Com dez músicas inéditas, o álbum Do amanhã nada sei chegou ao mundo digital na sexta-feira, 28 de outubro, no rastro da popularidade angariada por Sater ao dar voz e vida a Eugênio, o condutor da chalana que transportava as personagens do remake da novela Pantanal (2022).
Por ter sido formatado pelo produtor musical norte-americano Eric Silver, a partir das bases gravadas por Sater no Brasil, o álbum Do amanhã nada sei parece descender de AR (2015) e +AR (2017), os dois recentes discos gravados por Sater com o parceiro Renato Teixeira – compositor paulista de obra fincada no mesmo território folk que abriga a música de Sater – e também produzidos pelo mesmo Eric Silver, nome ligado ao universo da música country norte-americana.
A diferença é, no repertório do álbum Do amanhã nada sei, há somente uma parceria de Sater com Teixeira, Ave chamada tempo, faixa de acento celta.
Se o disco traz eventuais faixas de sotaque mais universal, como a canção romântica Eu sou mais do que sou, parceria de Sater com Luiz Carlos Sá, a maioria das músicas se situa mesmo no terreno do folk brasileiro, tendo algumas certo tempero andino, perceptível nas músicas em que o violeiro toca charango, instrumento de cordas de origem andina.
E por falar em instrumentos, o toque do cavaquinho por Sater em Angu do caroço, espécie de samba à moda caipira com versos politizados, é o som mais surpreendente do disco.
Oito das dez músicas foram compostas por Almir Sater com o habitual parceiro Paulo Simões, inclusive a composição que batiza o álbum Do amanhã nada sei. É provável que o repertório do disco jamais gere um standard para o cancioneiro de Sater. Contudo, o conjunto da obra resulta extremamente harmonioso.
Se Portão preto segue rota estradeira, atravessando as trilhas das comitivas que cruzam a região pantaneira, Sete chaves abre caminho para outra canção violeira embebida em romantismo.
Na mesma seara amorosa, Canção sem estrelas ilumina a poesia simples e eficiente que pauta as letras do disco enquanto Olhos de cachoeira evolui com admirável fluência, embalada pela perfeita sincronia entre música e letra que poderiam ter sido feitas há 40 anos, na época em que o artista ainda abria o próprio caminho com álbuns como Almir Sater (1981) e Doma (1982).
“Me perdoe os novos tempos / Com seus reinos virtuais / As notícias do momento / Nem parecem ser reais”, endurece Sater, sem perder a ternura, nos versos de Verdade absoluta.
No arremate do disco, Peabiru retoma o sotaque andino e sobe pelas cordilheiras em clima épico, reiterando que, embora nada saiba do amanhã, Almir Sater parece saber muito bem por quais estradas o artista segue em segurança, sem correr riscos ao cruzar trilhas andinas e pantaneiras com a viola virtuosa.
FONTE : G1 ( POR MAURO FERREIRA)