Michael Sullivan se renova com ‘Ivanilton’, álbum em que abre o leque de parceiros e intérpretes
♪ Michael Sullivan busca – e consegue – um renascimento artístico com Ivanilton, primeiro álbum de músicas inéditas do artista pernambucano desde Amar é lindo (1995), disco lançado há já longos 28 anos.
Guiado pela produção musical de Alice Caymmi, o cantor e compositor abriu o leque de parceiros e arregimentou intérpretes de diversas naturezas e gerações – Almério, Ana Carolina, Filipe Catto, Julio Secchin, Raimundo Fagner e Roberta Campos, além da própria Alice – ao dar forma a onze músicas inéditas.
A rigor, o disco expande a obra de Sullivan sem a preocupação mercadológica que norteou a produção autoral do compositor com o parceiro letrista Paulo Massadas, com quem fez músicas que dominaram as paradas na década de 1980 em reinado iniciado em 1983 com a gravação de Me dê motivo por Tim Maia (1942 – 1998).
A parceria de Sullivan com Massadas perdeu impulso na primeira metade dos anos 1990 (década em que Sullivan gerou sucessos compostos com Paulo Ricardo e Paulo Sérgio Valle), mas está na história da música brasileira.
Embora no todo irregular, por ter sido produzido em escala industrial quando os hits começaram a se suceder nas paradas radiofônicas, o cancioneiro de Sullivan & Massadas legou mais de 30 standards eternizados na memória afetiva do Brasil e dos seguidores de intérpretes como Alcione, Gal Costa (1945 – 2022), Joanna, Raimundo Fagner, Roberto Carlos, Rosana, Roupa Nova, Sandra de Sá, o já mencionado Tim Maia, Trem da Alegria e até Xuxa, entre muitos outros cantores e grupos que gravaram músicas da dupla.
Contudo, não espere ouvir no álbum Ivanilton canções moldadas para o mainstream. O tempo e o mercado são outros. O próprio Sullivan é outro nesse disco, aberto com Versos na parede, parceria do artista com Juliano Holanda. Só que a safra autoral de Ivanilton é de bom nível e, justiça seja feita, a seleção de intérpretes se afina com as músicas e valoriza o repertório inédito.
Intérprete de voz quente, Alice Caymmi se joga no solo de Loucura me pega (Michael Sullivan e Marília Bessy), assina a funkeada A ver navios com Sullivan, acerta o tempo da delicadeza ao solar a canção Não preciso me justificar (Michael Sullivan e Celso Fonseca) e divide o blues Coisa à toa (Michael Sullivan e Celso Fonseca) com o anfitrião, cuja voz cheia de soul pareceu estar com mais potência no show de lançamento do disco na última quarta-feira, 22 de março, no Teatro XP, no Rio de Janeiro (RJ).
A alta temperatura do canto de Ana Carolina também se ajusta à balada Tudo vale a pena, outra parceria de Sullivan com Celso Fonseca (com a adesão de Ana na autoria da composição). Assim como a voz amena de Roberta Campos resulta vocacionada para a suavidade folk da canção Onde eu for (Michael Sullivan e Celso Fonseca).
Já o baile de Namoro (Michael Sullivan e Celso Fonseca) – faixa que une as vozes de Sullivan e Julio Secchin – poderia ser mais animado.
Em contrapartida, À deriva – belo título do sobressalente lote de parcerias do compositor com o conterrâneo Juliano Holanda – é música fluente valorizada pelo canto de Almério em dueto com o anfitrião.
Também da lavra de Sullivan com Holanda, Tempestade cai densa e lindamente no álbum Ivanilton com o canto espesso de Fagner, convidado da faixa. Ainda da promissora parceria de Sullivan com Juliano Holanda, Fale por você ganha a voz feminina de Filipe Catto, cantora de tons incandescentes.
Com os retratos e canções de Ivanilton, Michael Sullivan se renova como artista, adicionando onze músicas a um cancioneiro autoral que já totaliza cerca de duas mil composições, algumas já imortalizadas no coração do Brasil.
FONTE : G1 (POR MAURO FERREIRA)