Setor privado tem papel fundamental para zerar o desmatamento
O aumento alarmante do desmatamento de vegetação nativa no Brasil nos últimos anos tem gerado uma série de impactos preocupantes para a natureza e para a vida das pessoas, e o setor corporativo desempenha um papel fundamental na implementação efetiva de compromissos e políticas para a mudança desse cenário. Por isso, no dia 25 de abril, o WWF-Brasil reuniu em São Paulo empresas, bancos e instituições financeiras no evento “Desmatamento Zero: Impactos e Soluções para o Setor Privado”.
Especialistas do WWF-Brasil e representantes do setor privado ressaltaram durante o encontro a importância do comprometimento de todos com as cadeias livres de desmatamento, algo que não protege apenas a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, mas também pode resultar em melhorias na eficiência produtiva, qualidade dos produtos e garantir a resiliência dos negócios no futuro. Além de representar vantagens estratégicas, reputacionais e econômicas para as empresas.
“O WWF-Brasil tem o trabalho de conectar os vários elos da cadeia, assim como fornecer instruções técnicas e científicas para que as empresas possam se organizar e transformar o dia a dia na gestão dos seus negócios”, explica Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas da organização.
“Zerar o desmatamento no Brasil é urgente. Para que a gente consiga alcançar esse objetivo é necessário que as empresas atuem para limpar definitivamente suas cadeias produtivas”, destaca Daniela.
Impactos e soluções para o setor privado
De acordo com uma nota técnica do WWF-Brasil, publicada em setembro do ano passado, o desmatamento aumenta o custo das mudanças climáticas para o agronegócio. Esse estudo mostrou que, entre 1985 e 2012, o desmatamento provocou uma redução média de 12% na produtividade do cultivo da soja na Amazônia e 6% no Cerrado, com decréscimo de mais de 20% em algumas regiões dos dois biomas.
Outra publicação do WWF, entregue aos negociadores climáticos da ONU (Organização das Nações Unidas), reunidos no Egito em novembro de 2022 para a COP27, mostrou ainda que a cadeia de produção de alimentos contribui com, pelo menos, 1/3 do total de emissões de gases de efeito estufa responsáveis pela mudança do clima no planeta. Sendo que três commodities respondem pela maior parcela de desmatamento e conversão de ecossistemas naturais: a pecuária, o óleo de palma e a soja, que juntas somam 1/4 das emissões do setor global de alimentos.
O impacto é revelado nos dados alarmantes de perdas dos biomas. De acordo com informações do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Cerrado, por exemplo, perdeu 2.133 km² de vegetação nativa nos primeiros quatro meses de 2023, o que representa um aumento de 17% em relação ao mesmo período do ano anterior e 48% acima da média histórica de desmatamento. No mês de maio, o desmatamento no bioma seguiu alto, com 1.326 km² devastados – um aumento de 83% em comparação a maio de 2022.
“O aumento do desmatamento vem causando uma série de impactos, seja nas mudanças climáticas, na perda de biodiversidade e na violação de direitos de povos e comunidades tradicionais”, afirma Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.
Por isso, o envolvimento dos diversos elos da cadeia, com a adoção de práticas mais sustentáveis, é fundamental. “Uma das coisas em que acreditamos como varejo, que já faz toda essa conexão entre consumidores e clientes, é de fato o envolvimento de todos os elos da cadeia para a construção desse futuro comum que todos nós queremos”, ressalta Renata Amaral, gerente de sustentabilidade do GPA, grupo que detém as marcas Pão de Açúcar, Mercado Extra, Compre Bem, entre outras.
Várias empresas já seguem as tendências e adequações aos compromissos zero desmatamento em suas cadeias, porém ainda existe o desafio de engajar mais envolvidos do setor produtivo. “Ter um compromisso zero desmatamento é desafiador, pois é algo que precisa estar 100% na nossa cadeia. A dificuldade é conseguir a visibilidade e a transparência com fornecedores indiretos”, diz Patrícia Campos Sugui, responsável pelo Departamento de ESG da empresa CJ Selecta. “Hoje temos ferramentas de geomonitoramento via satélite das propriedades, mas é muito importante engajar os fornecedores indiretos na nossa política por um sistema de produção mais sustentável.”
Patrícia acrescenta que as mudanças dos mercados e do setor produtivo podem acontecer por meio de leis implementadas em outros países ou mesmo por pressão dos próprios consumidores, que cada vez mais querem saber a origem dos produtos e se as empresas são responsáveis social e ambientalmente.
O papel do setor financeiro
O setor financeiro também desempenha um papel importante no caminho para essa necessária mudança. Por isso, o WWF-Brasil trabalha na criação de instrumentos financeiros verdes e na articulação com agentes do setor para a conservação dos ecossistemas, da biodiversidade e dos direitos dos povos originários e tradicionais.
“As instituições financeiras e os investidores podem evitar o risco de desmatamento nos seus portfólios de investimento e incentivar os produtores que ainda podem desmatar legalmente que não o façam, criando instrumentos financeiros que fomentam boas práticas”, explica Fabrício Campos, especialista em Finanças do WWF-Brasil.
FONTE: WWF BRASIL