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Projetos de coexistência com onças-pintadas avançam no sul do Amazonas, Pantanal e Mata Atlântica

Junto com parceiros, WWF-Brasil tem investido em metodologia participativa, que identifica razões dos conflitos e forma lideranças locais que possam compartilhar o conhecimento.Originalmente, a onça-pintada ocupava todos os biomas do país. Atualmente é considerada extinta nos Pampas e está criticamente ameaçada na Caatinga e na Mata Atlântica, onde calcula-se que apenas 300 animais ainda vivam. Estima-se que a maior parte da população desse felino ocorra na Amazônia, mas a maior densidade populacional está no Pantanal. Infelizmente, os dois biomas sofrem fortes pressões e destruição de sua vegetação nativa, colocando em risco o futuro dessa espécie. 

Pesquisas indicam que a onça-pintada ocupa pouco mais de 50% da área do Pantanal, mas os conflitos com criadores de gado; perda de habitat especialmente por grilagens e incêndios criminosos; redução da base de presas por conta do fogo ou caça ilegal, em especial nos últimos anos, em que o bioma tem enfrentado períodos de seca mais fortes; são fortes ameaças à sua permanência. 

No sul do Amazonas, o desmatamento e a ocupação do território para criação de gado estão destruindo o habitat da onça-pintada, que, na busca de alimento, se aproxima das comunidades e propriedades rurais, aumentando a ocorrência de conflitos com as populações locais. Além disso, atividades ilegais aumentam a criminalidade nas cidades e comunidades; o garimpo traz poluição aos rios, contaminação aos alimentos e mais violência. Tudo isso reduz a qualidade de vida das pessoas e da fauna, tornando a coexistência ainda mais difícil.  

Diante desses cenários, o WWF-Brasil e parceiros decidiram dar início a um trabalho que abrange a identificação das principais causas de conflito entre humanos e onças-pintadas nessas paisagens a fim de disseminar conhecimento sobre técnicas capazes de promover a coexistência. O projeto ocorre mais especificamente, no sul do Amazonas, região cortada pela Transamazônica, e no Pantanal norte (Mato Grosso) e sul (Mato Grosso do Sul). Isso tem sido feito em parceria com organizações locais, identificando e respeitando a realidade e especificidade de cada região.  

 Participação e multiplicação 

A coexistência possível e pacífica entre seres humanos e onças-pintadas depende de uma presença continuada no território para acompanhar as transformações na paisagem e as novas necessidades das populações. Isso só é possível por meio de multiplicadores que, uma vez que tenham o treinamento e a capacitação necessários, possam replicá-los a novas gerações, vizinhos e comunidades no entorno.  

“Entendendo isso, o WWF-Brasil conta com parceiros locais em cada uma das regiões onde atua, e desenvolve o trabalho por meio de uma metodologia de planejamento participativo com as comunidades locais, atores diretamente envolvidos em situações de conflito, formando lideranças que possam compartilhar o conhecimento adquirido”, afirma Felipe Feliciani, analista de conservação do WWF-Brasil. 

Um dos pontos essenciais para o sucesso dessa interação com os atores locais é estar disposto a ouvi-los sem julgamento, buscando entender as razões e motivações que os levam a matar as onças. “Só conhecendo a realidade e valores locais é possível estimulá-los a colocar em prática as estratégias e ações para evitar a ocorrência de conflitos. Quando percebem que estamos abertos a essa escuta e começam a notar os bons resultados das ações, que podem ser simples de serem efetuadas, tornam-se multiplicadores desse conhecimento em sua região”, explica Marcelo Oliveira, especialista de conservação do WWF-Brasil. 

Entre os motivos de conflito identificados, que levam ao abate da onça-pintada, estão o medo e a retaliação ao animal, motivados, principalmente, pela destruição do habitat do felino e a caça de suas presas pelos humanos, como catetos e pacas. Com menos espaço para viver e alimentos à disposição, a onça pode ter como alvo animais de criação e de estimação. Muitas vezes, os felinos também são atraídos por carcaças de animais de criação manejadas de forma inadequada. São, ainda, razões de abate, a caça proibida para obtenção de partes do corpo do animal ou encontros incidentais dentro da mata e beira de rios. 

Ações simples estão entre as possibilidades para afastar a onça-pintada das propriedades, como a soltura de fogos de artifício à vista de aproximação do animal à propriedade; o uso de iluminação acionada por sensor de presença; a recolha do gado à noite e a eletrificação da cerca do terreno. 

Feliciani ressalta que a onça-pintada é o maior felino das Américas, um animal topo de cadeia, cuja presença indica que o ambiente onde vive está saudável. Ou seja, os outros animais, das quais ela se alimenta, e plantas, das quais os animais de que ela se alimenta se alimentam, têm condições de existir. Por isso sua preservação é tão importante. “Coexistir com a onça-pintada é possível e absolutamente necessário para que tenhamos uma conservação inclusiva e um desenvolvimento sustentável com justiça social para pessoas”. 

Experiência no Alto Paraná 

Os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos no sul do Amazonas e Pantanal têm, em grande medida, como referência a experiência do projeto Onças do Iguaçu – realizado em cooperação com WWF-Brasil e Parque Nacional do Iguaçu/ICMBio – no Alto Paraná, área integrante do Corredor Verde, na divisa entre Brasil, Paraguai e Argentina. Trata-se do maior remanescente de Mata Atlântica no mundo. 

No Parque Nacional do Iguaçu, lado brasileiro do Corredor verde, restavam, em 2009, entre 9 e 11 onças-pintadas, e a espécie estava perto da extinção local. Um cenário desanimador e preocupante. No entanto, nos últimos anos tem-se observado uma tendência de importante crescimento e estabilidade da população, alcançando, em 2022, uma média de 25 animais (entre 19 e 33). 

O resultado positivo é reflexo do trabalho que vem sendo para mitigar a caça e o abate de onças-pintadas. Ele envolve, além da contagem dos indivíduos, a fiscalização para redução das ameaças até ações de engajamento, coexistência, manejo e pesquisa e possíveis soluções. Isso inclui estudos, diálogos e capacitações com as pessoas da região, implementando medidas para proteção da população remanescente de onças-pintadas e realizando o atendimento rápido e contínuo de casos de conflito humano-fauna reportados — incluindo o monitoramento de propriedades onde houve casos de avistamento e a implementação de medidas de mitigação de conflito. 
FONTE: WWF BRASIL

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