O que é guarda-parque? Conheça quem cuida e valoriza áreas protegidas
Profissionais são o elo entre órgãos de conservação e a sociedade; Leia a história de três mulheres que defendem a natureza
Em 31 de julho é celebrado o Dia Mundial do Guarda-parque, profissional que cumpre uma série de atividades essenciais para a conservação da natureza. Os guarda-parques – ou guardas florestais, como são chamados em alguns estados do Brasil – estão no imaginário de muitas pessoas graças ao desenho animado do urso Zé Colméia, muito popular em décadas passadas. Ou por conta de Leo, o guarda florestal, outro desenho animado, que vem conquistando as crianças de hoje na internet. Para comemorar o dia desses profissionais, contamos abaixo histórias de três mulheres que se dedicam a esse importante trabalho no Brasil.
Marina Morenna Figueiredo passou em um concurso público em 2015 e realizou o sonho de se tornar guarda-parque do Parque Estadual do Cantão, em Tocantins, uma área de cerca de 90 mil hectares nos municípios de Caseara e Pium. A Unidade de Conservação tem esse nome porque está localizada justamente no delta formado pelos rios Araguaia e do Coco. Parte da água que corre por ali desemboca na Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo.
Cercado de belezas naturais e um grande volume de água doce, o ecossistema do parque e da região sofre com as ameaças da pesca predatória. “Dentro do Cantão estão 860 lagos catalogados, onde ocorre a desova dos peixes oriundos do Araguaia. Ano a ano vemos o nível dele baixar em decorrência das mudanças climáticas. Além disso, a pesca irregular também ameaça a população de peixes”, alerta Marina.
Uma das ações para combater os problemas no local é a educação ambiental, como, por exemplo, mostrando para a população a importância de cuidar do ciclo de reprodução das espécies. “Uma guarda-parque tem constante contato com o povo. Nosso trabalho é sensibilizar e ensinar as pessoas a enxergarem o valor das áreas protegidas e a preservar. Eu sempre gostei de fazer isso. E o teatro foi uma forma que encontrei de passar isso às pessoas, de forma lúdica. É plantar uma sementinha e saber que vai germinar”, diz ela.
Nessas sensibilizações, a própria Marina atua nas peças de teatro ao lado de moradores da região. “Quando um ribeirinho conta a história do local, de como a pesca predatória modifica o lugar, as pessoas entendem ainda mais. É emocionante.”
Em 2018, para terminar a faculdade, ela precisou abrir mão de estar no Parque do Cantão. Então, pediu transferência para a Agência Regional de Paraíso, do Instituto de Natureza do Tocantins (Naturatins), órgão ligado à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) do estado, onde está alocada em atividade administrativas. “Foi difícil me afastar do Cantão, meu sonho é voltar, mas precisava terminar os estudos”, afirma. Marina se forma neste ano em Artes Cênicas e já tem previsão retornar ao trabalho de campo em 2024.
A importância dos guarda-parques
“Guarda-parques são o principal instrumento de gestão das unidades de conservação (UCs). Esses profissionais são preparados e capacitados para o trabalho dentro e fora de áreas protegidas, executando atividades de conservação e preservação dos recursos naturais e culturais de um determinado local. São o elo fundamental entre as políticas públicas e as comunidades locais”, explica Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação do WWF-Brasil, que atuou como guarda-parque no início de sua vida profissional.
A Federação Internacional de Guarda-parques (FIG) os define como “pessoas envolvidas nas práticas de preservação e proteção de todos os aspectos das áreas silvestres, históricas ou sítios culturais… enquanto promovem relações entre as comunidades locais, as áreas protegidas e a administração da área”.
Além da natureza, ajuda humanitária
Izenita Brum, coordenadora dos guarda-parques da Área de Proteção Ambiental Estadual Macaé de Cima, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, conta que ela e sua equipe atuam ainda em ocorrências de ajuda humanitária, como em fevereiro de 2022, quando o município de Petrópolis sofreu com intensas chuvas. De acordo com a Polícia Civil local, 241 pessoas morreram nos 775 deslizamentos de terra ocorridos na ocasião. “Eu e minha equipe fomos atuar no desastre, no resgate de pessoas e animais, junto com a Defesa Civil. Além de trabalhar na organização e distribuição de alimentos.”
No total, sete pessoas fazem as funções de guarda-parque na APA, uma área de 35 mil hectares, que está sob a responsabilidade do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea). Izenita avalia que o trabalho nas APAs torna mais fácil o entendimento da população sobre a importância das áreas protegidas no país. “Em parques, muitas vezes não veem o nosso trabalho porque são visitantes de fora. Nas APAs a relação é mais cotidiana e próxima. Por isso é tão importante o trabalho de sensibilização para a preservação e a valorização. As áreas protegidas são a nossa casa também. Todos dependemos delas, assim como o planeta. O nosso trabalho não acontece sem a comunidade local engajada e cuidando junto”, salienta.
No livro Olhares e Diálogos para a Gestão Territorial, são abordadas diversas facetas desses profissionais. “A existência de profissionais capacitados para trabalhar dentro e, em alguns casos, fora das áreas protegidas é uma realidade na maioria dos países, existindo algumas diferenças relacionadas com as atividades diárias do profissional. Assim, por exemplo, existem guarda-parques que desempenham somente atividades de controle ou fiscalização e outros que executam todas as atividades necessárias no gerenciamento das áreas.”
Considerando a diversidade de atividades, é possível agrupar suas funções em várias categorias: “O guarda-parque como agente transformador: uma das principais atividades realizadas é a aplicação de técnicas de educação ambiental ao ar livre, em centros de visitantes ou escolas, tentando sensibilizar e gerar mudanças transformacionais nas pessoas com a finalidade de alcançar uma maior valorização do nosso patrimônio natural e cultural. A interpretação ambiental, atividade feita em contato permanente com a natureza, permite que o guarda-parque se transforme em um elo ou uma ponte entre pessoas e natureza.” Esses trechos e mais informações sobre a profissão você pode encontrar no livro Olhares e Diálogos para a Gestão Territorial.
Uma outra experiência no Rio de Janeiro
Já Vanessa Cabral é guarda-parque em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e atua em duas Unidades de Conservação estaduais – ambas administradas pelo Inea: a Reserva Biológica Estadual de Araras, unidade de proteção integral, e o Monumento Natural Estadual da Serra da Maria Comprida, unidade de uso público recém-criada. Na Reserva Biológica ela realiza o monitoramento da fauna silvestre de mamíferos de grande e médio portes e aves terrestres, com armadilhas fotográficas. Também integra o Voluntariado do ICMBio desde 2019.
“Ser guarda-parque é ser uma guardiã e protetora das florestas, missão essa que requer comprometimento e paixão pela natureza. Não tem como falar em unidades de conservação sem falar dos guarda-parques. Somos a ponte entre a unidade de conservação e o seu entorno físico e simbólico, monitorando, interagindo rotineiramente com visitantes, pesquisadores e moradores, zelando pelo patrimônio natural, físico e cultural”, explica Vanessa.
Além disso, ela atua no combate e na prevenção de incêndios florestais, monitoramento da flora, apoio às fiscalizações, resgate de animais, apoio à pesquisa científica e educação ambiental, inclusive em escolas, como também serviços administrativos e capacitações oferecidas aos guardas-parques e secretarias municipais do entorno.
“O que eu mais gosto de fazer é avaliar as fotos de câmeras-trap, com o meu colega Renato Sampaio, da equipe de monitoramento. Temos de identificar e acompanhar as espécies que se encontram na unidade, gerando subsídios para futuras pesquisas e ações de combate à caça, degradação ambiental e equilíbrio ecológico”, finaliza.
Vanessa Cabral é guarda-parque em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e atua em duas Unidades de Conservação estaduais.
FONTE: WWF BRASIL