Em reunião na Ásia, Guterres pede reformas para evitar fragmentação global
Nesta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, participou da Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático, Asean, em Jacarta, capital da Indonésia.
Em seu discurso, Guterres saudou a participação, pela primeira vez, de Timor-Leste como país observador da Asean.
Pontes de entendimento
O líder da ONU parabenizou o bloco pelo “papel vital na construção de pontes de entendimento em todo o mundo.”
Ele destacou o papel do grupo na prevenção de conflitos por meio do diálogo e diplomacia, mas pediu uma “estratégia unificada em Mianmar”, onde a situação política, humanitária e de direitos humanos “se deteriorou”.
Para as autoridades militares de Mianmar, Guterres fez um apelo para “a libertação de líderes detidos e presos políticos” e pediu “a plena restauração da ordem democrática.”
ONU Indonesia/Lufty Ferdiansyah
O secretário-geral da ONU, António Guterres (à esquerda), encontra-se com o presidente Joko Widodo da Indonésia na Cimeira da Associação das Nações do Sudeste Asiático, Asean, na capital do país, Jacarta
Risco real de fragmentação
Ele disse que a humanidade está sendo testado por emergência climática, crise do custo de vida, conflitos violentos e crescimento da pobreza, fome e desigualdades.
O secretário-geral afirmou que há “um risco real de fragmentação, de uma grande fratura nos sistemas econômicos e financeiros mundiais, com estratégias divergentes em tecnologia e inteligência artificial e estruturas de segurança conflitantes.”
Em conversa com jornalistas, Guterres elogiou “o papel construtivo da Asean no trabalho para acalmar a tensão desde o Mar do Sul da China até à Península Coreana, dando prioridade ao diálogo e promovendo o respeito pelo direito internacional.”
Sobre a superação das atuais divisões geopolíticas, o chefe das Nações Unidas comentou que “ficaria muito feliz de ver a União Africana como membro do G20”.
Reforma do sistema financeiro
O secretário-geral disse que mudanças estruturais profundas são necessárias para tornar os sistemas internacionais “mais representativos e responsivos em relação às realidades políticas e econômicas de hoje.”
Guterres enfatizou a reforma da arquitetura financeira global, assegurando “um mecanismo eficaz de resolução da dívida para apoiar suspensões de pagamentos, prazos de empréstimo mais longos e taxas mais baixas”.
Ele afirma que as medidas são essenciais para países em desenvolvimento “estrangulados” por dívidas.
Pnud Camboja/Manuth Buth
Instalação solar numa comunidade rural na província de Ratanakiri, Camboja
Revolução das energias renováveis
Guterres disse contar com a liderança da Asean na redução de emissões de gases do efeito estufa e promover a justiça climática no mundo.
O líder da ONU lembrou que a região da Asean é uma das mais ricas em biodiversidade, mas também uma das mais vulneráveis a desastres naturais.
Ele parabenizou os Estados-membros do bloco que são “pioneiros em Parcerias de Transição Energética Justa, como a Indonésia e o Vietnã”. E parabenizou também todos os que estão acelerando a eliminação gradual do carvão e dando início a uma “revolução das energias renováveis.”
Iniciativa do Mar Negro
Respondendo a uma pergunta de jornalistas, Guterres disse que a ONU está “profundamente empenhada, não só no regresso à Iniciativa do Mar Negro, mas também na implementação do Memorando de Entendimento com a Federação Russa”.
Ele esclareceu que seguem em curso os esforços para garantir “acesso da Federação Russa aos mercados financeiros e a diversos outros aspectos, a fim de facilitar as suas exportações.”
Segundo o chefe das Nações Unidas, “é necessário criar um sistema de garantia mútua” para possibilitar a restauração da iniciativa do Mar Negro. No entanto, ele comentou que os bombardeios russos em instalações portuárias e armazéns de cereais geram dúvidas e receios entre parceiros.
Em seu discurso, Guterres também agradeceu pelo apoio da Asean às soluções multilaterais e pelo envio de mais de 5 mil boinas-azuis dos países da região para missões de paz da ONU.
FONTE: ONU NEWS