Voz do cantador Zé Ramalho ressoa em forma na volta do artista ao Rio com ‘Show dos sucessos’
Resenha de show
Título: Show dos sucessos
Artista: Zé Ramalho
Local: Qualistage (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 22 de setembro de 2023
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Em forma, a voz cavernosa do cantador Zé Ramalho ressoou com força no palco da casa carioca Qualistage na noite de ontem, 22 de setembro. A dez dias de festejar 74 anos de vida, o cantor, compositor e músico paraibano – nascido José Ramalho Neto em Brejo do Cruz (PB), em 3 de outubro de 1949 – voltou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) para apresentar o Show dos sucessos.
O título Show dos sucessos já diz tudo sobre o caráter da apresentação em que Ramalho resumiu 50 anos de carreira – iniciada em 1973 – em 19 músicas de roteiro essencialmente autoral.
Embora tenha aberto o show com canção ativista do conterrâneo Geraldo Vandré – Pra não dizer que não falei de flores (1968) – e tenha arrematado o bis da apresentação com um dos standards da obra matricial de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), A vida do viajante (1953, parceria do rei do baião com Hervê Cordovil), Zé Ramalho seguiu basicamente roteiro autoral que expôs os cânones de obra alicerçada na ressignificação de ritmos da nação nordestina em ambiência folk com a energia do rock, um toque de lisergia e um universo poético tão místico quanto apocalíptico.
Por encarnar espécie de profeta desse banquete de signos transcendentais, o trovador de temas como Avohai (1978) e A terceira lâmina (1981) se afinou tão bem com o cancioneiro de Raul Seixas (1945 – 1989), de quem uniu Gita (1974) e Medo da chuva (1974) – ambas músicas de Raul em parceria com Paulo Coelho – em medley que seduziu o público do Qualistage.
Visivelmente feliz por receber o que qualificou de “energia positiva” da plateia que encheu a casa, um dos maiores espaços de shows do Rio de Janeiro (RJ), Ramalho fez show compacto, coeso, entregando todos os sucessos que os fãs queriam ouvir em arranjos tocados com eficiência pelos músicos da Banda Z, formada por Edu Constant (bateria), Rogério Fernandes (baixo), Toti Cavalcanti (sopros), Vladimir Oliveira (teclados) e Zé Gomes (percussão).
No roteiro, a pegada ágil de galopes como Beira-mar (1979) e Galope rasante (1979) se harmonizou com a força épica de baladas como Eternas ondas (1980) e Entre a serpente e a estrela (Amarillo by morning – Terry Stafford e Paul Fraser, 1973, em versão em português de Aldir Blanc, 1992), esta um hit de trilhas de novelas.
Se a flauta soprada por Toti Cavalcanti em Banquete de signos (1980) remeteu aos pífanos da emblemática banda de Caruaru (PE), o sax do mesmo Toti fez em Vila do sossego (1978) a parte dos vocais na gravação original da música, um dos pontos altos do Show dos sucessos.
Seguidores mais atentos da obra de Zé Ramalho podem lamentar com razão o fato de o roteiro ignorar o repertório do revigorante álbum de músicas inéditas lançado pelo cantor há um ano, Ateu psicodélico (2022).
Contudo, ninguém há de negar a soberania de canções como Chão de giz (1978) e o aboio Admirável gado novo (1979), cujo refrão foi cantado em coro pelo povo feliz.
Foi no poder de sedução dessa obra atemporal que Zé Ramalho baseou o Show dos sucessos, fazendo reverberar a voz única e resistente do cantador.
♪ Eis as 19 músicas do roteiro seguido em 22 de setembro de 2023 por Zé Ramalho na apresentação do Show dos sucessos na casa Qualistage, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):
1. Pra não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré, 1968)
2. Galope rasante (Zé Ramalho, 1979)
3. Cidadão (Zé Geraldo, 1979)
4. Beira-mar (Zé Ramalho, 1979)
5. Entre a serpente e a estrela (Amarillo by morning – Terry Stafford e Paul Fraser, 1973, em versão em português de Aldir Blanc, 1992)
6. Táxi lunar (Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, 1977)
7. A terceira lâmina (Zé Ramalho, 1981)
8. Banquete de signos (Zé Ramalho, 1980)
9. Eternas ondas (Zé Ramalho, 1980)
10. Avohai (Zé Ramalho, 1978)
11. Vila do sossego (Zé Ramalho, 1978)
12. Chão de giz (Zé Ramalho, 1978)
13. Garoto de aluguel (Taxi boy) (Zé Ramalho, 1979)
14. Admirável gado novo (Zé Ramalho, 1979)
15. Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974)
16. Medo da chuva (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974)
17. Frevo mulher (Zé Ramalho, 1979)
Bis:
18. Sinônimos (Claudio Noam, Cesar Augusto e Paulo Sérgio Valle, 2004)
19. A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953)
FONTE: G1 (POR MAURO FERREIRA)