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Uma canção pela paz!

Na noite de 4 de novembro de 1995, o então Primeiro Ministro de Israel, Yitzhak Rabin, cantava junto ao povo num comício pela paz em Tel-Aviv – “Deixem que o sol penetre por entre as flores, não olhem para trás/deixem os que se foram/E olhem com esperança, mas não através da mira das armas. Cantem uma canção de amor. E não à guerra”. Minutos depois, ao deixar a Praça dos Reis de Israel, Rabin foi alvejado a tiros por um jovem judeu de 27 anos, Ygal Amir. Chegou agonizando no hospital e morreu logo depois. O serviço secreto de Israel alegava que estava preparado para atentados de extremistas árabes, mas não de judeus. Na época, o rabino brasileiro Henry Sobel lamentava a tragédia – “Temos que assumir que não há um povo judeu, mas dois. Um quer a paz, outro quer a guerra”.

Dois anos antes do assassinato de Rabin, ele assinava, emocionado, os acordos de Paz de Oslo, ao lado do líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Yasser Arafat. O encontro foi mediado por Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos naquele período. Os acordos previam a autonomia gradual aos palestinos de Gaza e da Cisjordânia e o reconhecimento mútuo entre os representantes de palestinos e judeus.

Se, por um lado, o acordo gerou a euforia de parte da opinião pública mundial; por outro, irritou grupos extremistas de ambos os lados. Rabin fora vítima de um judeu de extrema-direita que se opunha aos acordos com os palestinos. O Hamas, grupo fundamentalista islâmico, utilizava a tática de explodir homens-bombas. Mesmo com a comoção criada pelo assassinado de Rabin, o cenário político favoreceu a vitória do extremista de direita, Benjamin Netanyahu, em 1996. Com o fortalecimento da direita israelense, as tensões tornaram-se mais frequentes e a paz mais distante.

Os conflitos entre israelenses e palestinos que hoje atinge seu pior momento decorrem de uma longa história. Os judeus alegam ter um direito histórico por serem os primeiros ocupantes da região, sendo expulsos pelos romanos em meados da era cristã. Os palestinos alegam ter um direito adquirido, uma vez que habitam a região há séculos, criando nesse território vínculos culturais profundos.

A ideia da criação de um Estado judeu começa a brotar no final do século XIX. Theodor Herzl, líder fundador do movimento sionista, estimula os judeus a adquirirem terras na Palestina.

Durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de judeus migraram para a região, fugindo do nazismo. Os horrores sofridos pelos judeus nos campos de concentração nazista sensibilizaram a ONU, que propôs a partilha da Palestina.

Em 1948, a ONU estabelece na “terra sagrada” dois Estados, um Judeu e outro palestino. Os árabes não aceitaram a divisão e foram à guerra. Israel vence a disputa e amplia seu território. Os palestinos passaram a viver como estrangeiros na própria terra. Ou seja, passaram a ser colonizados e violentados pelos governos conservadores de Israel.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel vence novamente o confronto e anexa mais territórios – Sinai, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. A situação dos palestinos se agrava ainda mais.

A causa palestina gerou vários movimentos de resistência. Em 1964, surge a OLP, cujo objetivo era conquistar um Estado palestino. Inicialmente, defendia a luta armada. Após vários reveses, no entanto, passou a usar a diplomacia. Assim, seu líder, Yasser Arafat, falou pela primeira vez na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1974. Foi ovacionado! A luta palestina começava a ganhar apoio da opinião pública.

A política segregacionista e violenta praticada pelos sionistas que comandavam o Estado de Israel fez com que, em 1975, a ONU qualificasse o sionismo como racismo.

A miséria crescente dos palestinos, sobretudo na Faixa de Gaza, aumentou a popularidade do Hamas. Em 2006, o grupo extremista venceu as eleições e passou a comandar os palestinos na Faixa de Gaza. Os conflitos com Israel aumentaram.

Os ataques do último dia 7 de outubro “surpreenderam” Israel pela sua extensão. Foram ações coordenadas por terra, ar e mar, sem precedentes na história dos conflitos nessa região. A retaliação de Israel foi imediata. Netanyahu determinou o “cerco total” à Faixa de Gaza. O banho de sangue se intensifica. O fornecimento de energia, água e comida foi cortado. A população está à mercê dos extremistas (Hamas e Netanyahu) que lideram a insanidade da guerra. Os desdobramentos da batalha são imprevisíveis.

O Presidente Lula agiu como estadista. Condenou imediatamente “os ataques terroristas contra civis” e conclamou a comunidade internacional a retomar imediatamente as “negociações que conduzam a uma solução do conflito e que garanta a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados”. O Brasil foi o primeiro país a repatriar cidadãos que estavam em Israel. A orientação de Lula é que a operação de resgate de brasileiros na região conflagrada continue até que todos que queiram voltar sejam atendidos.

O atual cenário da guerra é complexo, mas a paz sempre será um horizonte possível para o olhar humanizador daqueles que, como Lula, propõe o diálogo e não a polarização.

Mário Teruya

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