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Exposição no MHIJB destaca ‘conexão’ entre Japão e Brasil através do café

Uma das bebidas mais populares do mundo e cuja história está intrinsecamente ligada com a vinda dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, o café ganhou um lugar de destaque no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Até o dia 31 de janeiro de 2024 – o museu ficará fechado entre os dias 18 de dezembro de 2023 e 05 de janeiro de 2024 para as festas de Natal e celebração do Ano Novo – o público poderá conferir a exposição “Arigatô, Café – a Jornada da Imigração Japonesa na Cafeicultura Brasileira”. Estão expostas ferramentas utilizadas no cultivo do café, sacos de juta e painéis apresentando produtores nipo-americanos, além de um quimono que o ex-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Paulo de Moraes Barros recebeu no Japão em 1916 quando ele viajou para o Japão e a China, sendo recebido em audiência pelo então primeiro-ministro do Japão na época, o ministro Okuma Shigenobu.

Secretário no período de 1912 a 1915, Paulo de Moraes Barros assinou o contrato de fornecimento de café para o Japão gratuitamente por um período de cinco anos para que Ryo Mizuno – que trouxe a primeira  leva de imigrantes ao Brasil – divulgasse a bebida no Oriente em sua volta ao país nipônico.

Aos sábados, um barista estará presente para explicar como o café é exportado para o Japão, com degustação da bebida das 13h às 17h.

Embaixador do Japão no Brasil participou da abertura
Presidente do Bunkyo também produz café de qualidade
Hiroshi Hara Sou um apaixonado pelo café

Abertura – Na terça-feira, 21, a cerimônia de abertura contou com a presença do embaixador do Japão no Brasil, Teiji Hayashi; do novo cônsul geral do Japão em São Paulo, Toru Shimizu; do presidente do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), Renato Ishikawa; da presidente da Comissão de Administração do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e do Arquivo da Imigração Japonesa Brasileira, Lidia Yamashita; do representante chefe da Jica Brasil (Japan International Agency Cooperation), Masayuki Eguchi; do diretor presidente da Jetro (Japan External Trade Organization), Hiroshi Hara; do pesquisador e historiador do Museu do Café de Santos, Pietro Amorim; da diretora do Museu da Migração Japonesa da Jica em Yokohama, Hiroe Ohno; da representante Sênior da Jica no Brasil, Reiko Kawamura; do presidente da Fundação Kunito Miyasaka e do assessor parlamentar do vereador Aurélio Nomura, além de produtores de café, entre eles o agricultor Getúlio Minamihara, que reside atualmente em Franca (SP) e que no próximo dia 1º de dezembro será um dos homenageados com a outorga do 52º Prêmio Kiyoshi Yamamoto, cuja cerimônia será realizada pela primeira vez na Câmara Municipal de São Paulo.

Masayuki Eguchi, da Jica, entrega placa comemorativa para Lídia Yamashita, do MHIJB

Conexão – Em seu discurso, Lídia Yamashita explicou que o intuito da exposição é homenagear a “histórica conexão que existe entre o Brasil e o Japão através do café e a imigração japonesa no Brasil”. “Sabemos que o Brasil é o maior produtor e o maior exportador de café há séculos, e que os imigrantes japoneses vieram ao Brasil no início do século XX para suprir a falta de mão de obra nas lavouras de café do estado de São Paulo. Podemos dizer, então, que o café chamou os imigrantes japoneses ao Brasil e que é por causa dele que estamos hoje aqui constituindo esta comunidade nipo-brasileira”, disse Lídia, acrescentando que, quando retornou ao Japão, o Kasato Maru – navio que trouxe a primeira leva de imigrantes japoneses ao Brasil – levou sacas de café para serem divulgados no Japão, a pedido dos cafeicultores brasileiros.

Café Paulista – “Ryo Mizuno que iniciou a imigração do país no Brasil, foi incumbido de divulgar o café no Japão, e abriu algumas cafeterias em Kobe e Yokohama, mas no início teve dificuldade em trazer os japoneses para experimentarem o café brasileiro. Convidando artistas, escritores e jornalistas para experimentarem o ambiente ocidental, a moda pegou e começaram a surgir diversas cafeterias no Japão. Uma delas ainda existe em Tóquio e chama-se Café Paulista, cujo dono atual gravou e enviou uma entrevista contando a história desta cafeteria, que está relacionada com a imigração japonesa no Brasil”, explicou Lídia, que também destacou a importância do agrônomo Kiyoshi Yamamoto para a cafeicultura brasileira.

Kiyoshi Yamamoto – Natural de Tóquio, nascido em 1892, Kiyoshi Yamamoto cursou Agronomia na Universidade de Tóquio e foi o responsável por introduzir a vespa de Uganda para combater as brocas do café, que estavam dizimando as plantações nas fazendas de café do Brasil. Tal feito lhe valeu o título de Doutor em Ciências Agronômicas da Universidade de Tokyo. Kiyoshi Yamamoto também foi um dos fundadores da Associação Paulista de Cultura Japonesa, que daria origem à atual Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa – Bunkyo.

De acordo com Lídia Yamashita, a exposição Arigatô, Café – que também deverá ser apresentada no Japão “para que as cafeterias e o público japonês possa conhecer e degustar os cafés especiais produzidos pelos nipo-descendentes” – também pretende “conhecer e mostrar quem são os cafeicultores nikkeis que continuam produzindo café no país”. “No exterior, parece que já tem um bom público apreciador de cafés especiais, e esta nossa exposição pretende contribuir para aumentar os apreciadores de cafés especiais também entre os brasileiros”, destaca Lídia.

Em visita ao MHIJB, Embaixadores da Argentina Uruguai e Paraguai conheceram a exposição Arigatô, Café

Aliança – E um dos produtores nikkeis de café é o atual presidente do Bunkyo. “Na década de 1990, ao me aposentar, escolhi uma pequena fazenda para poder descansar. Apaixonei-me pela vida no campo e principalmente pelo cultivo de café. Assim, à medida que surgia uma oportunidade, fui adquirindo propriedades vizinhas e me tomei um produtor de café de médio porte, bem acima das pretensões iniciais. Mas, sempre tive meus objetivos de produzir café de qualidade com respeito ao meio ambiente e mais importante, à saúde dos colaboradores”, conta Renato Ishikawa, referindo-se à Fazenda Aliança, localizada no município de São João da Boa Vista, região Mogiana do estado de São Paulo, próxima ao Sul de Minas, onde cultiva café chancelado por padrões internacionais, como UTZ Certified e Rainforest Alliance, sendo exportados para os mais exigentes mercados do mundo.

Apaixonado – Hiroshi Hara, que se autodenomina um “apaixonado por café”, disse que sua primeira experiência com a bebida brasileira, em 1994, foi “decepcionante”. “Os copinhos plásticos de café, que eram distribuídos no avião, não deram boa primeira impressão. E a qualidade do café que eu encontrava andando pela cidade não era muito alta. Geralmente, o que se oferecia era um líquido grosso e escuro, já adoçado”, lembrou, afirmando que, “por conta disso, “passou a trazer seu próprio café do Japão”.

Essa história mudou em 2020, quando ele retornou ao Brasil. “A variedade dos cafés de categorias especiais disponíveis na cidade aumentou muito e hoje não tenho nenhuma dificuldade em encontrar um café de excelente qualidade”, conta, explicando que “hoje em dia não preciso mais trazer café do Japão”.

Para mim, o café sempre remete a momentos agradáveis, mas em ocasiões como essa, não tenho como deixar de pensar no trabalho árduo dos primeiros imigrantes que chegaram ao Brasil 115 anos atrás. Por volta de 1910, mais de metade dessas exportações do Brasil eram de café. Portanto, é preciso reconhecer e valorizar a contribuição dos imigrantes daquela época”, disse o presidente da Jetro, acrescentando que “para mim, o café é algo muito importante e que ajudou a despertar meu interesse pelo Brasil”. “É extraordinário poder olhar para trás e depois de 115 anos dizer: ‘Obrigado por tudo que o café representa’”, finalizou Hiroshi Hara.

Parceria – Representante chefe da Jica – correalizadora da exposição – Masayuki Eguchi falou sobre o trabalho da Agência de Cooperação Internacional do Japão, um órgão do governo japonês responsável por implementar a assistência social para o desenvolvimento e que no Brasil atua também no apoio às comunidades nikkeis. “Para a Jica, que tem entre suas antecessoras a Agência de Imigração do Japão e vem apoiando o estabelecimento dos imigrantes japoneses e famílias no Brasil desde a década de 1960, a exposição Arigatô, Café é um evento de grande relevância ao abordar o setor agrícola, que está intimamente ligado ao início da imigração e continua importante até hoje para boa parcela da comunidade nikkei”, explicou Eguchi, lembrando que o relacionamento da Jica com o MHIJB “vem de longa data ao cooperar com sua inauguração em 1978 com o subsídio financeiro”.

“Posteriormente, apoiamos a publicação de alguns materiais e, mais recentemente, iniciamos o projeto de parcerias entre o Museu da Migração Japonesa e para apoiar as atividades de preservação de jornais publicados em língua japonesa no Brasil, a Jica emprestou um scanner de grande porte ao museu. Também vale a pena destacar a realização do Simpósio Internacional do Museu de Imigração Japonesa realizado em dezembro de 2020 com nosso apoio”, disse, afirmando que, em contrapartida, “temos recebido muito benefício também pela visita a este museu, incluindo nossos funcionários e voluntários da Jica, permitindo aprender detalhes sobre a história e a importância da comunidade nikkei por meio da exposição do museu.

Homenagem – “E com certeza, a compreensão histórica da evolução nikkei no Brasil nos ajuda muito para a realização da atual atividade da Jica no Brasil, em que a comunidade tem se integrado plenamente com parte da sociedade brasileira”, destacou Masayuki Eguchi, que homenageou a presidente da Comissão de Administração do MHIJB, Lidia Yamashita, com a entrega de uma placa.

Desafios – Por fim, o embaixador do Japão, Teiji Hayashi, destacou a contribuição dos imigrantes japoneses para a indústria cafeeira. “Nesse sentido, desde os primeiros dias os imigrantes japoneses dedicaram-se com afinco ao cultivo de café, enfrentando desafios com determinações e habilidades. E sua presença não apenas impulsionou a economia, mas também deixou uma marca impagável na cultura do café no Brasil”, disse Hayashi, acrescentando que o Japão é hoje segundo importador de café do mundo. “E nesse imenso mercado japonês, o café brasileiro ocupa quase 30% do mercado japonês”, disse o embaixador.

Coube ao presidente da Fundaão Kunito Miyasaka, Roberto Nishio, fazer o tradicional brinde. E inovou, ao fazê-lo sem café e sem o tradicional saquê.

Nesta quarta (22), o embaixador do Japão na Argentina, Hiroshi Yamauchi; o embaixador do Japão no Uruguai, Hideki Asari e a embaixadora do Japão no Paraguai, Nakatani Otsuka, conheceram a exposição durante visita ao Museu.

Presidente da Fundação Kunito Miyasaka, Roberto Nishio inovou no tradicional brinde

(Aldo Shiguti)

Arigatô, Café

Quando: Até 31 de janeiro de 2024 (De 18 de dezembro a 05 de janeiro o museu estará fechado para as festas de fim de ano)

Horário: terça a domingo, das 10h às 17h (última entrada às 16h)

Fechado às segundas-feiras

Local: 9º andar do Museu Histórico da Imigração Japonesa

Entrada:

・Adulto: R$ 16,00

・Estudantes com carteirinha: R$ 8,00

・Crianças de 5 a 11 anos: R$ 8,00

・Idosos acima de 60 anos: R$ 8,00 (Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso)

Entrada gratuita às quartas-feiras

Informações pelo telefone: 11/3209-5465

Email: museu@bunkyo.org.br

FONTE: NIPPON JÁ

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