No Bunkyo, Renato Ishikawa é homenageado pela Câmara Municipal com a Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão
Na presença de familiares – a esposa Olga Ishida, as filhas Nara e Celina, e a irmã Amélia – e cercado por amigos que construiu ao longo de décadas de atuação na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Bunkyo –, Hospital Japonês Santa Cruz, CNL Empreendimentos Imobiliários e Café Fazenda Aliança, o empresário Renato Ishikawa recebeu na noite desta terça-feira, 12, no Grande Auditório do Bunkyo, no bairro da Liberdade, a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da cidade de São Paulo.
Proponente da homenagem, o vereador Aurélio Nomura explicou que “a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão representam o reconhecimento da cidade de São Paulo e são entregues a personalidades que se destacam com contribuições ao nosso município”.
Prestes a completar 85 anos – a ser comemorado no próximo dia 20 – Renato Ishikawa lembrou de uma “feliz coincidência”. “Também no dia 12 [de fevereiro de 2020], nesse mesmo palco, e também por inciativa do meu amigo e nobre vereador Aurélio Nomura, recebi o título de Cidadão Paulistano”, disse o homenageado, que agradeceu a presença de tantos amigos que lotaram o Auditório do Bunkyo.
Amigos que vieram de longe, como o advogado e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nipo-Brasileira de Goiás, Marco Tulio Toguchi; o presidente da Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Promissão, Fabio Maeda, e o presidente da Liga da Alta Paulista, Keniti Mizuno, entre outros.
Estavam presentes também o cônsul geral do Japão em São Paulo, Toru Shimizu, a cônsul Adjunta, Chiho Komuro e o cônsul para Assuntos Políticos e Gerais, Hiroyuki Ide, além da representante sênior da Jica (Japan International Cooperation Agency), Reiko Kawamura, e o prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi.
Homenagem – Por se tratar de uma sessão oficial, foram seguidos todos os protocolos exigidos pelo Cerionial. A mesa foi composta pelo cônsul Toru Shimizu; pela representante da Jica, Reiko Kawamura; pelo presidente do Conselho Deliberativo do Bunkyo, Jorge Yamashita; pelo presidente da Fundação Kunito Miyasaka, Roberto Nishio; pelo ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Massami Uyeda; pelo presidente do Ciate (Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior), Masato Ninomiya; pelo vice-presidente da Construtora e Incorporadora CNL Empreendimentos, Daniel Luxo; pelo presidente do Hospital Japonês Santa Cruz, Koshiro Nishikuni; pelo vereador Aurélio Nomura e pelo homenageador e sua esposa.
Sob regência do maestro Teruo Yoshida e participação da pianista Ariane Ai Yamanaka, o Coral Feminino Bunkyo interpretou os hinos nacionais do Japão e do Brasil e reservou uma surpresa ao homenageado.
Mudança – Daniel Luxo, que abriu a série de discursos, falou sobre as atividades profissionais de Renato Ishikawa. “Como executivo, ele conquistou uma carreira profissional notável, atuando com destaque em empresas multinacionais de grande renome, principalmente no setor das telecomunicações. Doutor Renato, o senhor mudou a vida de todos nós com a implantação da telefonia celular no Brasil”, lembrou o executivo da CNL, explicando que, “encerrado esse ciclo vitorioso”, ele iniciou uma nova jornada, tornando-se empresário no mercado imobiliário e agropecuário, aplicando seu conhecimento no desenvolvimento de suas empresas, a CNL empreendimento imobiliário, construído de forma contínua, empreendimentos dedicados ao conforto e bem-estar das pessoas, e a Fazenda Aliança, cuja principal atividade é o cultivo do café, que hoje possui reconhecimento internacional”.
Parcerias – Coube a Koshiro Nishikuni destacar a atuação do homenageado à frente do Hospital Japonês Santa Cruz, que presidiu de 2012 a 2021 – atualmente é presidente do Conselho Deliberativo. “O papel do Dr. Renato foi e tem sido fundamental em momentos cruciais do hospital. Sempre pronto a atender os apelos do corpo clínico, ouvir a direção e os colaboradores do hospital, buscando soluções para os problemas que enfrentamos. A visão do Dr. Renato transformou o hospital com as parcerias que ele cultivou, especialmente com o governo japonês, a Jica e as universidades japonesas, como a de Tsukuba, de Osaka e a Universidade de Kyushu, entre outras, além de empresas japonesas, trazendo tecnologia para atendimentos e bem-estar dos pacientes”, disse Nishikuni.
Omotenashi – Para Masato Ninomiya, “a honraria concedida pela Câmara Municipal de São Paulo é fruto de tudo que ele vem fazendo nos últimos 20 anos, ou talvez até mais, em prol da comunidade”. “Pessoalmente tenho aprendido muito com o Renato Ishikawa, assim como muitos jovens daqui do Bunkyo, porque ele realmente conseguiu implantar aqui nessa casa, na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, um novo conceito aos jovens, que serão o futuro da nossa comunidade no dia de amanhã”, comentou.
Roberto Nishio recorreu ao coração para falar sobre alguns aspectos que aprendeu a reverenciar em Renato Ishikawa, “principalmente como diretor-presidente do Hospital Japonês Santa Cruz”. “Ele conseguiu moldar o Hospital Santa Cruz à sua personalidade. Além da qualidade de atendimento, além da excelência do corpo médico e das enfermeiras e enfermeiros, ele mudou o atendimento, adicionando uma qualidade que é a simpatia, o sorriso, a atenção – o famoso omotenashi na cultura japonesa”, disse Nishio, acrescentando que “o Dr Renato é uma pessoa afável e sorridente”.
Generosidade – Já Jorge Yamashita compartilhou algumas virtudes do homenageado, como a generosidade. “Ele se coloca na situação de outra pessoa como se estivesse no lugar dela, ou seja, dando toda a atenção ao outro nos mínimos detalhes. Certamente o doutor Renato coloca essa virtude em sua vida empresarial e nas entidades que lidera sempre de forma natural, sutil e espontânea. Trata-se de uma personalidade admirável e respeitável, tanto no campo profissional, empresarial, como social e cultural, que faz com que as pessoas fiquem motivadas e inspiradas em acompanhá-lo e desenvolverem suas atividades de forma motivada e dedicada”, disse Yamashita, afirmando que “o Dr. Ishikawa é um exemplo de nikkei, de segunda geração – nissei -, que alcançou o patamar de homem de grande sucesso na vida”.
Maestria – Segundo ele, sua trajetória de sucesso em empresas multinacionais, onde conviveu com empresários de culturas europeias e japonesas, “por si só já explica o perfil incomparável de um nikkei de sucesso que consegue liderar com maestria os rumos da comunidade, visando um futuro próspero, conciliando diferenças culturais e de gerações”.
Endorfina – A esposa, Olga Ishida, lembrou que, antes da pandemia, Renato Ishikawa pedia para que as pessoas se abraçassem, “pois era uma maneira de liberar hormônio da oxitocina, hormônio do amor”. Segundo ela, “o contato com pessoas e rir são os melhores remédios para se sentir melhor”. “Mas existe um outro hormônio que revigora e dá a sensação de bem-estar, anestesia as dores físicas e emocionais, chamada de endorfina”, disse.
Ela explicou que “esse hormônio é liberado pelo corpo quando se faz o que gosta, quando se tem contato com pessoas, fazer exercícios físicos, ter contato com a natureza, comer chocolate branco, paçoca, cocada, tomar garapa, comer pastel na feira, escutar casos dos feirantes, não querer ir consultar um médico quando peço, dar gargalhadas, exercer a gratidão pela vida, agradecer as pessoas, fazer o bem, ajudar os outros, apoiar, se comprometer com Bunkyo nos finais de semanas e feriados, fazer reuniões até tarde da noite, ir e voltar da fazenda no mesmo dia para resolver problemas, pegar um trânsito de Alphaville a São Paulo quase todos os dias”, enumerou Olga, afirmando que “este é o segredo do Renato para a sua energia e lidar com o estresse”.
“Podemos aprender muito com a filosofia de vida do Renato, focada na valorização das relações interpessoais, na busca de atividades que proporcionam alegria e no comprometimento com ações que transcendem o individual, gerando benefícios para a comunidade e para si mesmo”, destacou, acrescentando que “brincadeiras à parte, admiro muito essa pessoa que tem o coração doce e enorme”. E concluiu sua fala com um “te amo, muito obrigada!”.
Inspiração – O cônsul Toru Shimizu destacou a “notável história de vida que serve de inspiração para todos que o conhecem”. “Sempre guiado por seu senso de humanidade e respeito, ele tem desempenhado um papel fundamental para o bem-estar da comunidade nipo-brasileira. Com sua experiência, empatia e relevância aos valores transmitidos por seus ancestrais, presidiu com sabedoria o Hospital Japonês Santa Cruz e tem liderado com dinamismo e competência o Bunkyo. Todas essas atividades para as quais o senhor Ishikawa tem se dedicado contribui para reforçar o laço de amizade entre Japão e Brasil”, frisou o cônsul.
Simbólico – Massami Uyeda disse que “nada mais simbólico homenagear esta pessoa que traz em sua veia iniciativa das boas causas”. “Nós estamos aqui para homenagear o Dr Renato Ishikawa, mas também para reconhecer o trabalho incessante em prol do próximo. Na realidade, a nossa existência só tem um significado no momento em que nós podemos dizer: ‘fizemos, cumprimos a nossa missão’. E o Dr. Renato Ishikawa está cumprindo, já cumpriu muito e vai cumprir muito mais. E esse é o exemplo que ele deixa a todos nós”, salientou Massami Uyeda.
Liderança – Proponente da homenagem, o vereador Aurélio Nomura justificou a importância da homenagem. “O Dr. Renato é uma das grandes lideranças que nós temos dentro da sociedade nipo-brasileira. Ele assumiu o Hospital Japonês Santa Cruz, foi bem e o entregou com superávit. A instituição voltou a ter problemas e ele está lá novamente, corrigindo o erro. No Bunkyo foi a mesma coisa. A entidade tinha uma visão totalmente fechada e ele abriu o horizonte, conversou com outras cidades, outros estados, e até países. Para isso foi muito importante sua visão empresarial, mas principalmente, acredito que o mais importante é essa sua visão de dar protagonismo aos jovens”, comentou o parlamentar ao Nippon Já.
Em seu discurso, Nomura afirmou que “não é fácil falar de uma pessoa, filho de imigrantes japoneses, que nasceu e cresceu no interior de São Paulo, em Paraguaçu, Paulista, e morou em casas de chão batido, assim como muitas famílias de imigrantes, mas veio ocupar cargos importantes na iniciativa privada”.
“Quando criança, o nosso homenageado de hoje tinha de caminhar para frequentar a escola primária. Mas segundo os ensinamentos dos seus pais, de que a educação é uma das maiores riquezas, ele chegou à faculdade. Seu sonho era ser médico, mas se formou em Economia pelo Mackenzie e foi nessa carreira que se destacou como profissional”, lembrou o vereador.
Ele conta que, pouco depois de ter deixado a presidência do Hospital japonês Santa Cruz, passando a ocupar a presidência do Conselho Deliberativo, “Renato Ishikawa foi requisitado para que retornasse à administração efetiva do Hospital Santa Cruz, pois o hospital voltou a mergulhar numa crise”.
Agora, explicou Aurélio Nomura, conta com a ajuda extremamente importante da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo (Enkyo), do Banco Bradesco e de personalidades como o ministro Massami Uyeda, Masato Ninomiya, Dr.Koshiro, Dra. Áurea, Dr. Julio e tantos outros”.
Segundo ele, “outra grande ação de Renato Ishikawa foi a regularização do prédio do Hospital Japonês Santa Cruz depois de décadas que travavam a sua expansão”. “Um pedido chegou ao meu gabinete e conseguimos reverter o processo”, conta o vereador, acrescentando que “sua capacidade empreendedora e a sua visão de envolver a comunidade colocaram nos seus ombros a responsabilidade de presidir também o Bunkyo, a mais importante e representativa entidade da comunidade japonesa do Brasil”.
Para Nomura, a esposa, dona Olga, teve papel fundamental para que ele assumisse a presidência da entidade. “Muito das suas decisões, aliás, tiveram a cumplicidade da esposa, que sempre esteve ao seu lado em momentos da sua brilhante trajetória profissional. Dona Olga é uma grande parceira, dando-lhe total apoio nos momentos difíceis como também compartilhando das alegrias”, frisou.
Dupla comemoração – Para Renato Ishikawa a homenagem é motivo para uma “dupla comemoração”. “Recebi outras homenagens, inclusive do Governo do Japão, mas essa honraria tem um significado, um sabor totalmente diferente, ser reconhecido, primeiro, pela cidade de São Paulo como um cidadão Paulistano é fenomenal. E agora, receber a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão me deixam muito, mas muito feliz”.
Ele falou de sua infância desde a sua terra natal até sua passagem por Ibiúna, onde começou como ajudante de mecânico em uma oficina de carros, e sobre sua trajetória na CNL, na Fazenda Aliança, no Bunkyo e no Santa Cruz.
Na década de 50, lembra, os pais resolveram largar tudo no interior de Ibiúna e mudar para a capital para que os filhos pudessem continuar os estudos. “Fomos morar no fundo de uma casa alugada na Vila Madalena. Continuei como ajudante de uma oficina até os 15 anos, quando tive de mudar de trabalho por motivo de saúde. Assim virei office boy no escritório de uma empresa japonesa. Fiz o curso ginasial no Caetano de Campos. Depois estudei Contabilidade na Álvares Penteado, Economia no Mackenzie e fiz pós-graduação na Getúlio Vargas e também no exterior”, diz, explicando que dois fatos marcaram sua vida profissional.
Lema – O primeiro, em 1975, aos 37 anos, ao se tornar o primeiro não-sueco a ser eleito diretor financeiro da Ericsson no Brasil. O segundo fato que marcou sua vida foi ser o primeiro nissei a assumir a presidência da NEC do Brasil. “Como ainda sou muito jovem, se vocês me perguntarem qual é o meu futuro, eu diria que não tenho nada definido, só quero trabalhar até o fim, até quando Deus me permitir”, disse Renato.
Disse que pretende continuar trabalhando para estreitar o relacionamento entre as entidades da comunidade nikkei no Brasil e do exterior, “dando maior liberdade e protagonismo aos jovens, o nosso futuro”. “Sigo sempre o meu lema preferido: ‘Juntos!, juntos seremos mais fortes’”, concluiu o homenageado.
(Aldo Shiguti)