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Desmatamento migra da Amazônia para o Cerrado em 2023, indica Deter

A divulgação dos dados Deter, sistema de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), relativos ao mês de dezembro de 2023 permite comprovar que o esforço de combate ao desmatamento na Amazônia resultou em quedas expressivas ao longo do ano passado. Por outro lado, os dados indicam a transferência da destruição para o Cerrado. 

Ao todo, os alertas de desmatamento do Deter abrangeram uma área de  5.153 km² ao longo do ano de 2023 na Amazônia Legal – uma queda de 50% em relação ao ano anterior e o patamar mais baixo desde 2018.  Na contramão, foram detectados 7.852 km² de vegetação nativa perdida no Cerrado – um crescimento de 44% em relação a 2022. Trata-se da maior extensão desmatada no Cerrado desde o início do Deter no bioma, em 2018.

“A percepção de que savanas são menos importantes que florestas e, portanto, permitem índices mais elevados de desmatamento, é equivocada e está nos levando a sérios problemas ambientais. No caso do Cerrado brasileiro, estamos colocando em risco a caixa d’água que alimenta dois terços das principais bacias hidrográficas do país – um país que, vale lembrar, depende da água também para a segurança energética e não só a segurança alimentar e hídrica”, alerta Daniel E. Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil.

Segundo maior bioma, o Cerrado contribui com cerca de 40% de toda a água doce do país. Nossa savana é lar de cerca de 5% de todas as espécies do planeta, sendo portanto um dos lugares mais biodiversos da Terra. Quase metade (40%) são espécies endêmicas. 

“O Cerrado já perdeu metade de sua vegetação nativa. Cada hectare de desmatamento a mais eleva o risco de comprometermos a capacidade do bioma de armazenar água. Do ponto de vista climático, o risco é igualmente dramático, pois o Cerrado é como uma floresta invertida, que armazena carbono no subsolo. Se esse estoque for liberado, podemos inviabilizar a meta do acordo climático de Paris, de manter o aquecimento do planeta em 1,5°C”, alerta Daniel Silva. “Chegamos muito perto desse patamar no ano passado, que foi o ano mais quente desde a era industrial, com consequências desastrosas em várias partes do planeta, inclusive no Brasil, onde a safra agrícola 2023/2024 não deve alcançar as projeções por causa de fatores climáticos. Continuar desmatando é colocar o agronegócio – e toda a economia brasileira – em risco”, destaca o especialista.

O principal vetor do desmatamento no Brasil é a expansão agropecuária. No Cerrado, o Código Florestal é mais permissível que na Amazônia, por isso uma parte significativa da destruição tem autorizações legais fornecidas por governos municipais e estaduais.

A queda no desmatamento da Amazônia ao longo de 2023 mostra como é possível reverter essa tendência. Porém no caso do Cerrado, é necessário o engajamento dos governos locais e das empresas do agronegócio na implementação de boas práticas de produção, na  recuperação do enorme contingente de terras degradadas e no aumento da produtividade. O Brasil já tem áreas abertas o suficiente para atender a demanda de produção até 2050 sem derrubar nenhuma árvore.

FONTE: WWF BRASIL

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