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O café da região de Garça

por Ramon Barbosa Franco

Tudo começa com uma xícara de café, inclusive o nosso dia, na maioria das casas, não? O café é uma das mais valorizadas commodities mundiais, ficando atrás somente do petróleo. Commodity é uma mercadoria de origem primária, de consumo mundial, e por isso sua negociação ocorre nas bolsas de valores. No mundo financeiro, com destaque à operação de mercado futuro, o café só perde para o petróleo. Uma das três bebidas mais populares, ao lado do chá e da água, tem ligação com a fundação de Marília e com a colonização do Oeste paulista.

No livro ‘Cidades Mortas’, publicado no ano de 1919, o escritor Monteiro Lobato descreve numa série de contos a derrocada do Vale do Paraíba paulista após a decadência do parque cafeeiro. No mesmo ano em que o autor do Sítio do Pica-pau Amarelo trouxe à tona suas 25 narrativas enxutas, entre elas ‘Os perturbadores do silêncio’, ‘A vida em Oblivion’ e ‘A noite de São João’, Antônio Pereira e seu filho Pereirinha iniciavam a ocupação do espigão elevado que inicialmente fora chamado de Alto Cafezal e, posteriormente, viria a se tornar o Município de Marília. No Estado de São Paulo, que como ficou claro tem sua história ligada à oligarquia cafeeira – sendo inclusive, ao lado de Minas, a locomotiva política da Primeira República, na época do ‘café (SP) com leite (MG)’ – três regiões possuem o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa): Alta Mogiana, Região de Pinhal (Média Mogiana) e Região de Garça. Existem duas modalidades de IG, a Denominação de Origem (DO) e a Indicação de Procedência (IP). A indicação de origem de Garça, por sua vez, abrange 15 cidades e Marília está entre elas, além de Fernão e Vera Cruz.

A primeira exportação do café produzido na região de Garça é datada de 1968 e atualmente mais de 20 países sentem o gosto do nosso café. A tendência dos parques cafeeiros desta região é o aperfeiçoamento, seja na técnica do plantio, no manejo – inclusive com irrigação precisa – processos de secagem, estocagem e distribuição. O parque cafeeiro da Alta Mogiana, região que abrange Franca, Patrocínio Paulista, Batatais e outras 12 cidades é cultivado há mais de 100 anos, enquanto o da Região de Pinhal – que engloba Espírito Santo do Pinhal, Estiva Gerbi, entre outros quase na divisa com Minas Gerais – vem sendo produzido desde o ano de 1850. Das três regiões, Garça é a ‘caçulinha’ e sua tendência é sim despontar para inúmeros consumidores ávidos em degustar a nova procedência. A afirmação é técnica, e não ufanista em defesa da nossa bebida, pois a cada ano as fazendas produtoras de café da nossa região se aperfeiçoam e buscam a qualidade de modo permanente. Antes de encerrar, lembro que atualmente o café gera 8 milhões de empregos diretos no Brasil e o país é o maior produtor de café com certificação, segundo dados oficiais. E se fosse permitido, um século depois de ‘Cidades Mortas’, no Vale do Paraíba, Lobato poderia escrever contos sobre a cafeicultura da região de Garça sob o título de ‘Cidades Vivas’!

Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’ (La Musetta Editoriais), ‘A próxima Colombina’ (Carlini & Caniato), ‘Contos do japim’ (Carlini & Caniato), ‘Vargas, um legado político’ (Carlini & Caniato), ‘Laurinda Frade, receitas da vida’ (Poiesis Editora) e das HQs ‘Radius’ (Mustache Comics), ‘Os canônicos’ (LM Comics) e ‘Onde nasce a Luz’ (Unimar – Universidade de Marília), ramonimprensa@gmail.com

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