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Comitê do Fogo de MS debate ações para conservação do Pantanal

As mudanças climáticas, o desmatamento e outras interferências humanas têm afetado o regime hídrico do Pantanal e, por conta  desse desequilíbrio, o bioma tem sofrido cada vez mais pressão em áreas naturais. Por isso, a prevenção de incêndios florestais é um dos pilares do trabalho do Comitê do Fogo de Mato Grosso do Sul, que realizou nos dias 21 e 22 de fevereiro, em Campo Grande, capital de MS, o primeiro seminário do ano, com o objetivo de debater e fortalecer as ações de 2024.

O evento contou com a presença de membros do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, sindicatos rurais e organizações não-governamentais, como o WWF-Brasil e o SOS Pantanal. Na mesma ocasião, o WWF-Brasil formalizou a doação de dois kits compostos por lança-jatos, que acoplados a pickups são fundamentais para enfrentar as chamas em locais de difícil acesso. Desde 2019, outros sete kits de lança-jatos foram doados pelo WWF-Brasil e têm sido utilizados pelo Corpo de Bombeiros, pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente do MS) e outras instituições integrantes do Comitê.

Um desses pontos de difícil acesso e que está na área de atuação do Comitê do Fogo é a imponente Serra do Amolar, localizada na fronteira do Brasil com a Bolívia, onde há cerca de 200 mil hectares de áreas protegidas e foram detectados incêndios que consumiram mais de 2,4 mil hectares no fim de janeiro. “A série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostra que o fogo está atípico naquela região”, alerta Julia Boock, especialista em conservação do WWF-Brasil. “Isso é preocupante. Já deveríamos estar em período de cheia.”

Os desafios impostos pelo contexto do Pantanal fazem com que o WWF-Brasil trabalhe em diversas frentes. “Atuamos na prevenção, com advocacy, incidência política e articulação institucional, promoção de campanhas e apoiando pesquisa aplicada para o Manejo Integrado do Fogo (MIF)”, diz Julia. Ela explica que o fogo faz parte da dinâmica do bioma e que, quando ocorre na época certa, com o emprego de técnicas adequadas e seguras, é aliado a diversos processos naturais, incluindo a quebra de dormência das sementes.  

Uma nova legislação estadual tem sido um instrumento importante para o aprimoramento do MIF. Considerada por especialistas como uma das ferramentas mais atualizadas para a conservação do bioma, a Lei 6.160/2023 permite ao Estado implementar o MIF de forma eficiente e estruturada, além de estabelecer as condições de “Uso do Fogo” específicas para o Pantanal.

“Atuamos, por exemplo, na preparação para o combate ao fogo, apoiando alternativas que permitam a detecção e predição de queimadas”, salienta Julia. Tanto que no próximo seminário, programado para abril, o WWF-Brasil apresentará ao Comitê do Fogo uma estratégia para apoiar a implementação de um modelo de Inteligência Artificial para previsão de fogo no Pantanal, em parceria com a Kunumi, uma pure-tech especializada na área.

A parceria com a Kunumi resultou no primeiro projeto de inovação para conservação do WWF-Brasil com foco no controle do fogo no Pantanal. Com o uso de inteligência artificial, o projeto desenvolveu um modelo para a predição de incêndios no bioma, de acordo com Anna Carolina Lobo, líder de inovação e especialista em Conservação do WWF-Brasil.

“Em parceria com a Kunumi e a partir de um trabalho de escuta e desenvolvimento conjunto com vários parceiros e atores locais, como o Ministério Público, Comitê do Fogo, MapBiomas Fogo e outras ONGs, trabalhamos em um modelo que usa a aprendizagem de máquina para prever eventos de fogo no Pantanal. Nosso objetivo é que contribua para a gestão de impactos e mitigação de danos dos incêndios no bioma”, explicou Anna Carolina.

Os critérios de escolha criteriosa de dados, tratamento e criação de features (variáveis), seleção do algoritmo mais adequado, avaliação do desempenho e geração da explicabilidade do modelo já foram realizados e o modelo está em fase final de desenvolvimento. “O modelo precisa ter capacidade de lidar com grandes conjuntos de dados, eficiência computacional e habilidade para capturar padrões complexos, como prever incêndios com base em dados climáticos históricos, aumento das temperaturas, mudanças nos padrões climáticos induzidos pelo aquecimento global, além de fatores humanos, como o desmatamento e práticas agrícolas inadequadas que podem desempenhar um papel crucial na intensificação e propagação dos eventos de fogo, por exemplo”, salienta ela.

Presença antiga

O WWF-Brasil trabalha pela conservação do Pantanal desde 1998, mas a partir de 2019 fortaleceu sua atuação no combate ao fogo, que cada vez mais ameaça o bioma. Desde então, a organização já apoiou a formação, o treinamento e forneceu equipamentos para mais de 20 brigadas comunitárias no bioma, envolvendo mais de 150 brigadistas. 

“As brigadas são a chave para poder dar uma primeira resposta aos incêndios florestais, em estágio inicial, mas principalmente para  trabalhar em ações preventivas, como a elaboração de aceiros, reduzir o combustível, fazer as queimadas controladas e prescritas, que ajudam a reduzir o combustível disponível que pode alimentar incêndios florestais de grandes proporções”, afirma Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação do WWF-Brasil. 

Ele lembra que os trabalhos da organização, em todo esse período, também envolveram apoio para sensibilização, educação ambiental e outras questões relacionadas à prevenção. “Para combater o fogo de forma eficaz, esses brigadistas precisam de preparo e equipamentos adequados. É nisso que estamos investindo”, relata. “Além disso, muitas vezes, o acesso terrestre é precário ou inexistente e o acesso hídrico também é complexo no Pantanal. Ter veículos 4×4, com lança-jatos como os que doamos, que consigam chegar a locais mais difíceis, faz toda diferença para que o fogo não se espalhe”, conclui Gajardo.

FONTE: WWF BRASIL

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