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Produtores do Cerrado e da Amazônia promovem negócios e reforçam ideais de conservação na Naturaltech, em SP

Aproximar consumidores e produtores comunitários a tal ponto que essa distância – culturais e geográficas – seja capaz de mudar hábitos por meio da valorização de produtos derivados da sociobiodiversidade brasileira. Foi essa proposta que permeou a participação do WWF-Brasil e seus parceiros, o Ecocentro e a Central do Cerrado, na Naturaltech, maior feira de negócios em produtos naturais da América Latina, cuja edição deste ano foi realizada de 12 a 15 de junho no Centro de Convenções do Anhembi, na cidade de São Paulo.

Em um estande do WWF-Brasil consorciado com Conexsus e Sebrae-Manaus, os parceiros, que representam produtores comunitários dos respectivos biomas, mostraram para consumidores finais, nessa extensa vitrine de negócios que foi a feira, a possibilidade de novos hábitos de consumo mais saudáveis não somente para o corpo, uma vez que são produções sustentáveis sem uso de agrotóxicos, mas também para o planeta, já que essas comunidades se voltam tanto à geração de renda quanto à conservação desses espaços, dos quais dependem para produzir.

Sem contar o teor de novidade que muitos desses produtos simbolizaram para um público variado como o da feira em São Paulo: do snack da castanha tostada e outros derivados do baru, diretamente do Cerrado, às linguiças e almôndegas de açaí aos chocolates artesanais e de sabor marcante chegados da Amazônia, além do mel de abelhas jandaíra e canudo, sem ferrão, tão distintos um do outro quanto disputados por empresários e consumidores finais – os produtores do Ecocentro voltaram para Santarém com uma segunda safra, ainda nem colhida, já negociada.

Aliás, fechar negócios com os empresários que circularam pela feira ao longo dos quatro dias de evento e amplificar o raio de jornada desses produtos regionais, esteve no foco de ação do WWF-Brasil com os parceiros – sempre buscando apresentar aos compradores os valores da sociobiodiversidade, expressos em um conjunto de bens e serviços da diversidade biológica, da riqueza cultural e dos saberes tradicionais de um território.  

“Negócios comunitários, produtos da sociobiodiversidade, em geral estão muito distantes de grandes centros consumidores como São Paulo. Oportunidades como a Naturaltech permitem fazer essa aproximação e, a partir dela, estabelecer uma nova relação de consumo em relação a esses produtos que têm o poder de gerar conservação e renda”, afirma Ícaro Carvalho, Analista de Conservação do WWF-Brasil. “Isso que quisemos trazer para a feira: que a sociobiodiversidade existe e é muito mais que um produto, pois ela carrega dentro de uma mesma embalagem pessoas, histórias, cultura, território e  conservação”, define.

Sob ESG, acionistas querem investir em empresas que ajudem o planeta

Para Especialista de Conservaçãodo WWF-Brasil Octávio Nogueira, feiras como a Naturaltech se tornam também grandes janelas de oportunidade para posicionar esses produtos regionais no maior mercado consumidor do país.

“Não só é uma grande chance que temos de colocar esse produto para conhecimento de consumidores finais, mas também se fazer networking com empresas para que elas insiram em seus ingredientes produtos da sociobiodiversidade”, complementa Octávio.

Mas se esses produtores estão geograficamente distantes e muitas vezes não produzem em escala industrial, por que empresas do Sul e Sudeste deveriam investir em produtos da sociobiodiversidade? Sem hesitar, Octávio lembra da importância de conservação da floresta para ao menos mitigar os efeitos da crise climática proporcionada pela ação humana.

“Povos indígenas e comunidades tradicionais têm um papel fundamental na preservação das florestas, e acreditamos que as empresas estão começando a enxergar isso sobretudo por conta do movimento ESG, o qual nos lembra que todos, inclusive elas, temos um papel na promoção da conservação – e elas precisam assumir isso, então, é fundamental que se posicionem, por exemplo, ao comprarem esses produtos que trazem consigo serviços ambientais de conservação”, analisa o especialista.

E se resta alguma dúvida de que financeiramente investir em produtos da sociobiodiversidade pode trazer ativos de curto ou médio prazos , já que as vantagens ambientais face à crise climática podem não ser tão óbvias assim, Octávio destaca que consumidores estão “cada vez mais exigentes e mais preocupados com conservação e que aceitam pagar mais por isso”. Mas ele pondera: hoje há também o investidor no mercado financeiro, o acionista, que quer de alguma forma investir em empresas que se posicionam dessa forma em relação à conservação. “O momento é oportuno, na verdade, porque o acionista quer saber onde o dinheiro dele está sendo investido.”

Brasileiro conhece kiwi e pistache, mas não o pequi e o baru, diz analista

Essa foi a 18ª edição da Naturaltech, que, em quatro dias, no Centro de Convenções do Anhembi, recebeu personalidades, celebridades e público em geral distribuídos em 140 horas de programação, com 170 palestrantes, em 47 mil m² de evento, 1.700 marcas e 760 expositores. 

Foi a terceira participação do WWF-Brasil com parceiros na feira, e a primeira vez em um estande consorciado com outras entidades. Isso permitiu a exposição de uma gama maior de produtos tanto da Amazônia quanto do Cerrado, bem como mais marcas, mais impacto na participação e mais visibilidade, dada a posição geográfica do estande. Quem faz essa avaliação é a Analista de Conservação do WWF-Brasil Ana Carolina Bauer.

“Estar em uma feira dessas com um consórcio permite uma melhor utilização de recursos e também de espaço. E das outras vezes não conseguimos um estande tão bonito visualmente nem tão bem localizado na feira”, compara.

Para Ana Carolina, a participação de parceiros como Amazônia em Casa, Ecocentro e Central do Cerrado em um evento desse tipo ajuda a mostrar “o Brasil para o brasileiro”. 

“Muitas vezes a gente conhece o kiwi, o pistache, mas não conhece o pequi, o baru, nem o açaí de verdade, só conhece o açaí muito comercial. A gente também precisa se apropriar mais do que é nosso, porque, diversas vezes, a gente não está comendo o que está na nossa cultura e que vai gerar renda e conservação para o nosso país, mas trazendo produtos de longe que não necessariamente precisaria trazer”, afirma. “Com tantos eventos climáticos extremos que estão por vir, realmente precisamos agir em todos os caminhos que podemos. E consumir produtos da sociobiodiversidade de fato podem ajudar a frear um pouco esse desastre ambiental”, finaliza.

FONTE: WWF BRASIL

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