Na Região Noroeste de SP, cônsul geral expressa gratidão aos pioneiros
Uma visita há muito tempo desejada e, enfim, concretizada, com o intuito de homenagear dois personagens icônicos da imigração japonesa no Brasil: Shuhei Uetsuka, o “pai da imigração japonesa”, e Humpei Hirano, fundador do 1º núcleo japonês no Brasil – a Colônia Hirano, em Cafelândia (SP), além de remorar os primeiros passos dos imigrantes e agradecer a todos os pioneiros.
“Através desta visita, eu personalmente, gostaria de homenagear os nossos antepassados que repousam aqui, tranquilamente, nesta terra, depois de tanto sofrimento. Gostaria de expressar meu enorme agradecimento a estes antepassados. Graças a eles ou elas, podemos viver como estamos vivendo hoje, sem grandes esforços e sem vidas sacrificadas. Sem eles não poderíamos ter hoje esta boa relação bilateral entre o Japão e o Brasil. Então, com todo o meu coração, eu gostaria de reiterar meu sincero agradecimento, enorme gratidão aos nossos antepassados. E desejo que a cada ano se possa continuar estas visitas de cônsules e embaixadores a esta bonita cidade de Promissão e outros bonitos lugares desta região Noroeste”.
Desta forma o cônsul geral do Japão em São Paulo, Toru Shimizu, agradeceu a oportunidade de visitar, nos dias 28 e 29 de julho, a cidade de Promissão e a Colônia Hirano, em Cafelândia. A visita aconteceu um dia depois depois de o cônsul e a consulesa, Junko Shimizu, prestigiaram o Okinawa Sobá da Associação Esportiva e Cultural de Marília (AECOM).
Em Promissão, a visita do cônsul e da consulesa foi organizada pela Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Promissão (Acenpro), entidade presidida por Fábio Maeda, com apoio da Federação das Associações Culturais Nipo-Brasileiras da Noroeste – Setor 1B, presidida por Takenobu Okaji.
A programação teve início no dia 28, na Praça Shuhei Uetsuka, que serviu de palco para a recepção, em 2018, da Princesa Mako, por ocasião das comemoraçõesdos 110 Anos da Imigração Japonesa no Brasil.
O cônsul e a consulesa chegaram no local por volta do meio-dia, onde foram recebidos por cer ade 50 pessoas.
Novo capítulo – Após o hasteamento das bandeiras e das execuções dos hinos nacionais do Brasil e do Japão, a cerimônia teve início com o discurso do presidente Fábio Maeda. Ele lembrou que “a história da imigração japonesa no Brasil sempre foi marcada por um espírito de muita luta e perseverança que nunca se deixou abater sobre os imigrantes e seus descendentes”.
“A região Noroeste foi a primeira a ser colonizada pelos imigrantes japoneses. Acredito que os primeiros imigrantes, diante de tantas dificuldades, o clima, a alimentação, a língua e, principalmente, a saudade da terra natal fizeram com que eles buscassem forças para continuar onde já não existiam mais”, disse, acrescentando que “é nesse ponto que a história da imigração japonesa e da praça do Dr. Shuhei Uetsuka se encontram”.
“Após terem uma semana de muito trabalho, eram nos finais de semana que os imigrantes se encontravam nessa praça para esquecer um pouco a saudade da sua terra natal, seus familiares, amigos que ficaram no Japão e renovarem suas forças para continuar. Já se passaram mais de 100 anos e chegou a hora de escrevermos o novo capítulo da colonização japonesa em Promissão”, destacou Fábio Maeda, explicando que a Acenpro recebeu um convite da cidade de Nagasaki para “lutarmos junto pela paz mundial, um mundo livre de bombas atômicas”.
Cultura da paz – Segundo ele, o fato de Promissão receber o convite de Nagasaki através da Associação Cultural Esportiva Nipo-Brasileira de Promissão se deve a uma série de afinidades entre essas duas cidades. “A cidade de Nagasaki possui o maior e o mais famoso Tooro Nagashi do Japão, já em Promissão nós temos o primeiro Tooro Nagashi da região Noroeste do estado de São Paulo. Em Promissão foi construído o Santuário Cristo Rei dos 26 mártires de Nagasaki, a primeira igreja católica construída por imigrantes japoneses no Brasil. Já a cidade de Nagasaki foi a porta de entrada do catolicismo no Japão. Nagasaki foi o local de entrada dos estrangeiros no Japão, e Promissão foi um dos primeiros e principais núcleos da colonização japonesa no Brasil”, enumerou Maeda.
Cordão umbilical – Presidente do Setor 1B da Federação das Associações Culturais Nipo-Brasileiras da Noroeste, Takenobu Okaji frisou “o quão importante significa este elo entre o Brasil e o Japão”. “Quando os outros olham para nós, o que eles realmente enxergam, a não ser os nossos olhos, a pele amarela e os cabelos escuros, eles enxergam um povo trabalhador, estudioso, inteligente, a quem que se pode confiar, ou seja, pessoas íntegras. Isso só foi possível pela herança deixada pelos nossos antepassados, pelos nossos ditians e batians, herança esta que procuramos manter através da nossa associação exercendo atividades como Undokai Bon Odori, além de outros evento”, disse Okaji.
Segundo ele, “quando recebemos uma visita, como a do cônsul geral, isso fica mais vivo na nossa comunidade, para lembrarmos que o nosso cordão umbilical com a terra dos nossos antepassados, jamais será rompido, porque a semente plantada será sempre irrigada e dará novos e prósperos frutos e cabe a nós colhermos somente o fruto do bem, ensinando o que é de melhor e precioso na nossa cultura japonesa”, finalizou Takenobu Okaji.
Primeiros passos – O cônsul Toru Shimizu iniciou sua fala agradecendo a oportunidade de rememorar os passos dos nossos antepassados que marcaram esta terra.
O cônsul lembrou que, no dia 4 de maio deste ano, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida esteve em São Paulo e “homenageou os nossos antepassados visitando o Parque do Ibirapuera [onde está localizado o Memorial em Homenagem aos Imigrantes Pioneiros Falecidos da Kenren], mostrando um respeito e admiração aos nossos antepassados pioneiros imigrantes”.
A visita de Fumio Kishida aconteceu dez anos depois da vinda do primeiro-ministro Shinzo Abe, em 2014. “Foi uma ocasião muito importante para rememorar ou lembrar a nossa rica história e amizade entre o Brasil e o Japão”, destacou o cônsul.
Ele lembrou que este ano “estamos celebrando o 116º aniversário da imigração japonesa e em 2028 vamos celebrar juntos o 120º aniversário da imigração. “E agora acabo de receber uma boa notícia por parte de Fabio Maeda, que pretende estreitar o vínculo com a cidade de Nagasaki”, disse Toru Shimizu explicando ainda que em 2025 será celebrado o 130º aniversário da relação diplomática entre o Brasil e o Japão.
Ele também lembrou que em 2018, Sua Alteza Imperial, Princesa Mako, esteve em Promissão, momento “muito importante e muito comovedor porque receber membros da nossa casa imperial neste mesmo oterá significa algo muito diferente no sentido de que é um lugar que marca exatamente os primeiros passos de nossos imgrantes pioneiros”.
Em seguida, foi servido um almoço na praça no sistema motiyori.
Santuário – De lá, o cônsul e a consulesa conheceram o Recinto de Exposições de Promissões, que deve ser palco, em 2025, do 1º Festival do Japão em Promissão da Região Noroeste em comemoração aos 130 Anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão.
150 mil tijolos – A agenda em Promissão incluiu ainda uma visita ao Santuário do Gonzaga – primeira igreja construída por imigrantes japoneses no Brasil. A visita foi acompanhada pelo padre Marcos Vinicius que explicou a história da igreja, inaugurada em 15 de agosto de 1938, com missa solene celebrada por monsenhor Domingos Nakamura. No dia 26 de novembro, uma missa marcará, oficialmente, a condição de Santuário.
A Igreja foi construída obedecendo fielmente à original, no estilo da Igreja dos 26 Mártires Japoneses de Imamura (atual Fukuoka-Ken, Mitsui-Gum, OtosenMachi). É uma obra arquitetônica de estilo românico. Para sua construção foram utilizados 150 mil tijolos.
Hirano – A próxima parada foi na Colônia Hirano, em Cafelândia, que em 2025 completará 110 anos de fundação. Lá, o cônsul e a consulesa foram recepcionado pelos dirigentes locais, que informaram que atualmente vivem apenas 12 famílias no local.
Eles também conheceram o Templo Heianzan Komyoji (Templo budista da Seita Jodo Shinshu Hompa Hongwanji), um dos primeiros templos budistas contruídos no Brasil – em 2025 completará 75 anos – e ofereceram incenso no Monumento em Homenagem à Fundação da Colônia Hirano, onde também está o busto do fundador.
A programação teve continuidade com uma visita ao cemitério – distante cerca de 4 km da sede, seguindo por uma estrada de terra. No local estão enterrados os restos mortais do fundador e de algumas famílias pioneiras da Colônia Hirano.
No loca, o cônsul e a consulesa acenderam incenso, depositaram flores e,como de costume, jogaram água no Memorial dos Imigrantes Falecidos.
Nada Sousou – À noite, um jantar na Fazenda de propriedade de Fábio Maeda, com a presença do prefeito de Promissão, Artur Manoel Nogueira Franco; da presidente do Fundo Social de Promissão e primeira-dama do município Andrea Novaes Franco; do presidente da Federação das Associações Culturais Nipo-Brasileiras da Noroeste – Setor 1B, Takenobu Okaji; do presidente da Associação Cultural de Cafelândia, Aldo Masato Yamamoto, e do vice, Nelson Kiyoshi Murae; do presidente da Associação Beneficente e Cultural e Esportiva de Lins, Massamitu Massuda; do presidente da Associação Cultural e Esportiva de Guaiçara, Watson Takeo Inoue; do presidente da Associação Nipo-das Alianças – Getulina, Paulo Sonehara e do presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Penápolis – e prefeito de Alto Alegre – Carlos Sussumi Ivana, entre outros.
No jantar, o cônsul, pela primeira vez, revelou seu lado cantor ao interpretar – dizem que, muito bem – a canção “Nada SouSou”.
Hóspede Oficial – Na segunda-feira, 29, o cônsul e a consulesa encerraram a visita na cidade de Promissão com uma visita ao Gabinete do prefeito, onde o chefe do executivo entregou ao representante do governo japonês o título de Hóspede Oficial do Município.
Toru Shimizu, mais uma vez, agradeceu o apoio do Poder Público às atividades da comunidade nikkei de Promissão e manifestou seu desejo para que a parceria continue por muitos longos anos.
Artur Manoel Nogueira Franco explicou que está em seu último ano como prefeito e lembrou que, tão logo assumiu seu primeiro mandato, tratou de iniciar as tratativas em relação à visita da princesa Mako.
“Eu dizia que seria o evento mais importante da minha gestão, pois não tinha ainda a certeza de que iria para um segundo, mas no primeiro mandato a visita da princesa realmente ficou marcada. Nós trabalhamos em conjunto, muitas vezes não da maneira como se esperava, mas dentro da nossa possibilidade, mas acho que foi um belo evento, foi um evento que ficou marcado, acho que para todos”, disse o prefeito, afirmando que nutre um um carinho especial pela comunidade japonesa.
“Tenho um carinho especial pelos valores que a comunidade japonesa mantém, pelas tradições, a honestidade, a seriedade e o respeito aos antepassados. Acredito que nós temos muito que aprender com os japoneses”, disse o prefeito.
Balanço – No final da visita, o cônsul geral fez um balanço de sua visita a Marília e Promissão. “Fiquei muito feliz em poder realizar esta visita. Trata-se de uma oportunidade de enxergarmos a imigração japonesa sob um outra ótica. Além de conversar com muitas autoridades e fazer novos amigos, acredito que é muito importante lembrar os primeiros passos dos antepassados. Podemos encontrar muitas coisas positivas mutuamente para o Brasil e para o Japão e também propagar essas histórias para muitas outras pessoas, inclusive empresários japoneses e amigos do Japão. Penso, sinceramente, que é uma forma de homenagear nossos pioneiros”, concluiu o cônsul.
De Promissão, o cônsul e a consulesa seguiram para a cidade de Bastos.
(Aldo Shiguti)