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Oficina em Campo Grande consolida grupo técnico para a coexistência de onças-pintadas no Pantanal

Equipes técnicas de diversas instituições se comprometem para realizar planejamento conjunto das ações de coexistência e articulação com atores-chave para obter mais resultados para a coexistência de humano-onças no Pantanal.Por Mariana Gutiérrez, WWF-Brasil 

Em continuidade às ações iniciadas em 2022 com a promoção da agenda de Coexistência Humano-Onças no Pantanal, nos dias 03 e 04 de outubro, o WWF-Brasil em parceria com a Aliança 5P, realizou a 1a Oficina de Coexistência Humano-Onça no Pantanal com o intuito de reunir grupos técnicos de diversas organizações ambientais, especialistas, gestores públicos e produtores rurais, para planejar ações voltadas à promoção da coexistência entre humanos e onças-pintadas no Pantanal. A oficina foi realizada em Campo Grande no Mato Grosso do Sul (MS). O evento foi marcado por debates sobre estratégias integradas para a preservação dessa espécie emblemática e para a convivência harmoniosa com as comunidades locais em regiões de conectividade da paisagem pantaneira.  

A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino do continente americano, ocorrendo desde o México até o norte da Argentina. No Brasil, já foi extinta no bioma Pampa e, embora esteja presente nos demais biomas como Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como espécie Vulnerável (VU). Assim, sofre grandes pressões, como perda de habitat, desmatamento e conflitos com atividades humanas.  

Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil reforça a abordagem estratégica das ações de redução de conflito no Pantanal:  

“A presença da onça-pintada no Pantanal sempre foi um dilema entre a exuberância de termos o maior felino das Américas aqui no bioma, pertinho da gente, e valorada pelo setor de turismo, quanto por trazer a dificuldade na convivência relatada por produtores rurais e moradores pantaneiros que gera conflitos de vários níveis. Diferentes iniciativas e instituições que vem trabalhando com a espécie há mais de 20 anos vem consolidando as informações sobre o comportamento, distribuição e saúde da Panthera onca no território. Desde 2022, o WWF-Brasil olha para todo este contexto e este ano consolida a formação do grupo técnico para a coexistência humano-onças no Pantanal, associando cientistas, pesquisadores, técnicos, proprietários com experiência, além de incorporar agendas complementares, como a conectividade na paisagem e o direcionamento para a construção de políticas públicas no fortalecimento de ações práticas que tragam soluções, inclusive financeiras, e promovam a convivência saudável de pessoas e espécies silvestres.” 

A oficina, que contou com a participação de 20 representantes de 10  entidades atuantes no Pantanal, teve como foco a reconexão e atuação das instituições no bioma, na definição do propósito deste grupo técnico e na definição das estratégias que esta coalisão poderá trabalhar para elaborar o plano conjunto de ações de médio e longo prazo, visando mitigar conflitos entre a fauna e as atividades humanas, organizar e compilar dados de monitoramento das onças-pintadas nas regiões, direcionamento das ações para a construção de políticas públicas para promoção da conectividade territorial e planejamento de soluções financeiras para todas estas linhas. 

Ana Paula Felício da Associação Aliança 5P salienta a importância da participação de diversos setores para o planejamento de 2025. “O planejamento da coexistência humano onça é extremamente importante porque a gente tem vários pesquisadores que trabalham com onça no Pantanal como um todo, que têm know how para a gente definir estratégias importantes para essa espécie que acabam influenciando os corredores ecológicos, políticas públicas e tendo também produtores envolvidos nesse planejamento a gente consegue atender e minimizar esses conflitos que já ocorrem há muitos anos dentro do Pantanal.” 

As próximas reuniões do grupo técnico envolverão o fortalecimento da sua governança, a criação de uma plataforma para contribuição conjunta de informações territoriais, e cronograma de ações para 2025, incluindo a ampliação de novos e diversos membros para composição do grupo. 

Coexistência como chave para a conservação 

Com a crescente expansão das atividades humanas nas regiões pantaneiras, o convívio entre as onças-pintadas e as comunidades locais tem gerado desafios tanto para a conservação das espécies quanto para a segurança das pessoas. Nesse contexto foram discutidas estratégias e identificadas as sinergias entre as instituições para reduzir os incidentes de ataques.  

Entre os atores estiveram os produtores rurais e proprietários da Pousada Piuval, João Lousano e Eduardo Eubank, este último ressaltando a importância na discussão de medidas com produtores rurais que vivenciam o conflito entre humano-onça frequentemente, com a proposta de manter o diálogo aberto para a apropriação desse conhecimento e para garantir a coexistência. 

“A minha expectativa é que esse grupo de trabalho, que nos trouxe outra visão de que a gente pode melhorar naquilo que a gente está fazendo, naquilo que a gente está unindo forças com as outras instituições e organizações para o bem comum, por assim dizer, promova e fortaleça  a coexistência do homem com a onça e que todos saiam vitoriosos e protegidos na parte econômica, na parte ambiental e sociocultural,” reforça Eubank.  

Além disso, o evento enfatizou a importância da educação ambiental e da conscientização das comunidades sobre a importância das onças-pintadas para o ecossistema do Pantanal. A presença do felino no topo da cadeia alimentar é fundamental para o equilíbrio ambiental, ajudando a controlar a população de outras espécies e a manter a saúde dos ecossistemas. 

Parcerias para fortalecer a conservação 

A oficina também discutiu a criação de parcerias entre diferentes grupos de interesse, como ONGs, universidades, órgãos governamentais e empresas locais, para aumentar a efetividade das ações de proteção. O fortalecimento das parcerias é visto como um passo fundamental para garantir que as estratégias adotadas sejam eficazes e sustentáveis no longo prazo. 

Walfrido Tomas, especialista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) explica o impacto a curto e longo prazo das parcerias. “Nesse sentido, acho que esse coletivo que está sendo montado com as melhores cabeças e competências para lidar com esse problema de onça  é fundamental, porque a gente pode achar os caminhos e as relações para estabelecer uma coexistência saudável entre onças e pecuária e ganhar uma escala geográfica condicente. Porque conservação de onça você não faz apenas localmente, precisa ter uma abrangência geográfica grande, para ter uma população grande de onças viável estável ou aumentando ao longo dos anos. Então, nesse sentido, o coletivo terá um papel fundamental nisso”, conclui Tomas. 

Entre os participantes do Grupo Técnico de Coexistência do Humano-Onça no Pantanal estiveram diversos setores,  Associação Aliança 5P, Coalizão Pontes Pantaneiras, Embrapa Pantanal, Instituto Ampara Animal, Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Instituto Pró-Carnívoros, Fundação Panthera Brasil, Jaguarte,  Onçafari,  Pousada Piuval, Polo Socioambiental Serviço Social do Comércio (SESC) Pantanal, Programa de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), SOS Pantanal e o WWF-Brasil. 

A conclusão da oficina marca o início de uma nova fase no planejamento das ações para a conservação da onça-pintada, com a expectativa de que, ao longo do próximo ano, as ações conjuntas sejam implementadas e tragam resultados concretos, tornando seres humanos promotores da coexistência com as espécies, sendo beneficiados por ela e fortalecendo as ações de preservação no Pantanal. 

Uma das ações que já acontece no território é o curso sobre técnicas antipredação por felinos no Pantanal, com a finalidade de promover o diálogo entre pesquisadores, profissionais, produtores rurais e toda a sociedade e demonstrar como o manejo e aplicação de técnicas para mitigação podem ser mecanismos para diminuir ou mesmo reduzir a perda por predação. Já foram realizados quatro cursos nos municípios de Poconé e Cáceres em MT, em Miranda e Corumbá em MS e o último acontece no dia 05/12 em Campo Grande em MS. 

FONTE:WWF BRASIL

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