Japão pagará ¥217 milhões a homem inocente que ficou 47 anos no corredor da morte
Este é o maior valor já pago em um caso criminal no país, segundo seus advogados
O Tribunal Regional de Shizuoka determinou na segunda-feira (24) o pagamento de uma indenização de 217 milhões de ienes para Iwao Hakamata, de 89 anos, que ficou quase 50 anos no corredor da morte por um crime que não cometeu, informou a BBC.
Este é o maior valor já pago em um caso criminal no Japão, segundo seus advogados.
Condenado à morte em 1968 pelo assassinato de seu chefe, a esposa dele e seus dois filhos, Hakamata foi absolvido em 2023 após um raro novo julgamento.
Os advogados argumentaram que os 47 anos de prisão — que o tornaram o condenado que mais tempo passou no corredor da morte — causaram graves danos à sua saúde mental. O juiz Koshi Kunii concordou que ele sofreu dores físicas e mentais “extremamente severas”.
Hakamata havia confessado o crime após interrogatórios forçados e espancamentos, mas sempre alegou inocência.
A suspeita de evidências forjadas e exames de DNA incompatíveis com ele motivaram o novo julgamento.
Solto em 2014, ele vive desde então sob os cuidados de sua irmã, Hideko, que lutou por décadas para provar sua inocência.
O caso levanta sérias questões sobre o sistema judicial japonês, especialmente quanto à demora para revisões de condenações e à prática de confissões forçadas.
Entenda o caso
Em 1966, quatro membros de uma família, incluindo o executivo de uma fábrica de missô, foram assassinados na atual cidade de Shizuoka. Hakamada foi condenado à morte pelos crimes, mas ele sempre negou e a Justiça autorizou um novo julgamento que começou em outubro de 2023 e teve 15 audiências.
A principal questão em debate foi se era ou não estranho que as manchas de sangue nas cinco peças de roupa encontradas em um tanque de missô um ano e dois meses após o crime ainda apresentassem tonalidade avermelhada, algo utilizado como prova para a condenação.
O tribunal concluiu que as manchas de sangue nas peças de roupa não poderiam ter permanecido avermelhadas após mais de um ano em contato com missô e que o sangue foi adicionado às roupas em um momento posterior, possivelmente por manipulação das autoridades investigativas (polícia e promotoria).
Na sentença, o juiz Koshi Kunii declarou que havia “três falsificações de provas”. Ele reconheceu que as cinco peças de roupa e uma confissão usada nos julgamentos anteriores foram fabricadas pelas autoridades, e que Hakamada não poderia ser considerado o culpado.
Hakamada, um ex-lutador de boxe, teve sua sentença de morte confirmada em 1980, mas ele se declarou inocente ao longo dos anos. Em 2014, foi concedida a revisão do caso, mas o processo foi atrasado devido a contestações da Promotoria Pública. Finalmente, em março de 2023, a revisão foi aprovada, resultando na sentença de inocência.
Foto: Reprodução/SDT
Iwao Hakamata ficou quase 50 anos no corredor da morte por um crime que não cometeu
FONTE: ALTERNATIVA ON LINE