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Quantas onças-pintadas vivem na Amazônia? Pesquisa estima densidade do felino em áreas protegidas do bioma

Por Instituto Mamirauá,

Quantas onças-pintadas vivem em uma floresta? E dentro de uma reserva ou parque nacional? Quantas onças habitam o bioma Amazônico? Perguntas como estas são fundamentais para avaliar o estado de conservação da espécie e elaborar planos de ação e políticas públicas que visam a sua proteção. Um artigo recém-publicado por Guilherme Alvarenga, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá, em parceria com o WWF-Brasil e mais de 20 organizações parceiras, buscou responder essas questões. 

Estudo avaliou densidade de onças-pintadas em 22 áreas protegidas e 4 países da Amazônia 

Os pesquisadores utilizaram dados de armadilhas fotográficas – câmeras instaladas na floresta que fotografam a vida selvagem através de sensores – de 22 áreas protegidas do Brasil, Equador, Colômbia e Peru. As áreas protegidas contempladas neste estudo têm classificações distintas, sendo Parques Nacionais, Reservas Extrativistas, Terras Indígenas, entre outras, cobrindo habitats de terra firme e florestas alagadas de várzea e igapó. 

 Ao todo, 6.389 onças-pintadas foram registradas pelas armadilhas fotográficas ao longo dos anos de estudo. Cada onça é identificada individualmente através do padrão de suas pintas, único para cada animal. 

Os dados foram analisados com um modelo de captura-recaptura espacial, levando a estimativas de densidade de onças em cada área protegida. A densidade média de onças- pintadas foi de 3,08 indivíduos a cada 100km², porém essa estimativa variou bastante entre cada região. 

 Reserva no estado do Amazonas registrou a maior densidade de onças-pintadas 

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM) registrou a maior densidade de onças dentre todas as áreas analisadas, foram 9,97 animais a cada 100km² – ou seja, quase 10 onças dentro de uma área de 100km². A Reserva Biológica de Cuieiras (AM), por outro lado, registrou a menor densidade, apenas 0,6 indivíduos por 100km². 

Essa grande diferença na densidade de onças pode ser explicada principalmente, segundo o estudo, pela produtividade primária de cada área, ou seja, a taxa de produção de matéria orgânica a partir de compostos inorgânicos do ambiente. As florestas de várzea da Reserva Mamirauá têm o solo fértil em função dos nutrientes trazidos da Cordilheira dos Andes por rios de água branca e, portanto, uma produtividade primária alta, ao passo que a Reserva Biológica de Cuieiras, localizada no Rio Negro, se encontra em uma área menos produtiva. 

A importância das áreas protegidas e Terras Indígenas para a conservação dos felinos  

 Utilizando a estimativa de densidade encontrada para cada localidade do estudo, os pesquisadores fizeram um cálculo da população total de onças-pintadas considerando todas as 22 áreas protegidas, chegando a 6.389 animais. A título de comparação, somente nestas áreas, o número de onças-pintadas é maior do que a população mundial de tigres, cujas estimativas apontam não passar de pouco mais de 3.000 indivíduos na natureza. Esses resultados reforçam não somente a importância fundamental da Floresta Amazônica para a conservação a longo prazo da onça-pintada, mas também o papel crucial de Unidades de Conservação e Terras Indígenas. 

“Acho que um dos aspectos mais importantes desse estudo é reforçar o entendimento de que as áreas protegidas e as Terras Indígenas têm grande capacidade de proteger as populações de onça-pintada. Esse é um ponto que pode parecer óbvio, mas que precisa ser constantemente relembrado”, comenta Guilherme Alvarenga, primeiro autor do artigo. 

“Nos últimos anos, vimos crescer a ameaça da mineração ilegal e a tramitação de projetos de lei que visam enfraquecer a autonomia dos povos tradicionais e a proteção irrestrita dos nossos parques. Diante desse cenário, destacar a importância das áreas protegidas e Terras Indígenas se torna ainda mais essencial”, acrescenta. 

Parcerias e colaborações no estudo sobre a onça-pintada na Amazônia 

Este estudo foi publicado em parceria com o WWF-Brasil, Wildlife Conservation Research Unit da Universidade de Oxford, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio, IBAMA, INPA, Panthera, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Roraima, IPAM, RedeFauna, Museu Nacional do Rio de Janeiro, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Universidade de Princeton e Zoológico de San Diego. 

“A colaboração entre instituições pode reduzir tempo de análise complexas e regionais, tão importantes. Essas parcerias auxiliam também a aumentar a capacidade de instituições em processar e analisar os dados. Em alguns casos, projetos são finalizados sem que os dados tenham sido triados e processados, assim uma outra instituição com a capacidade fortalecida naquele momento pode apoiar esse processo, como em alguns dos casos ocorridos nesse estudo. Por último, alguns estudos exigem dedicação e expertise pouco usuais a muitas instituições com boa capacidade de operação no campo e geração de dados. Nesse estudo, foi possível direcionar recursos para dedicação de um profissional que pudesse liderar as análises, o que viabilizou a participação de tantas instituições no uso dos dados, muitos deles represados”, avalia Marcelo Oliveira, especialista em programas do WWF-Brasil. 

O Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá atua há mais de 20 anos com pesquisas relacionadas à onça-pintada, sendo o projeto mais antigo dedicado à pesquisa com esta espécie na região amazônica. 

FONTE; WWF BRASIL

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