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Genética auxilia no monitoramento de restauração na Mata Atlântica

Estudo piloto realizado pelo WWF-Brasil analisa a eficiência genética da biodiversidade da Mata Atlântica brasileira em processo de restauração. O método, chamado de eDNA (em inglês) ou DNA Ambiental, foi aplicado na ecorregião da Serra do Mar, no município de São Luís do Paraitinga (SP), área caracterizada pelo alto grau de fragmentação da floresta. Com um trabalho de campo mais acessível financeiramente, simples e ágil, a equipe de pesquisadores incorporará as amostragens genéticas aos projetos de monitoramento, em parcerias técnico-científicas com universidades e institutos de pesquisa, tornando a avaliação do sucesso na restauração de paisagens ainda mais precisa.

Por essa abordagem, as amostras genéticas, oriundas de vestígios e secreções de animais (saliva, suor, fezes, urina, garras/unhas), são colhidas no solo, o que garante menos tempo e recursos financeiros. Nos métodos tradicionais   – rede de neblina, câmeras trap, pitfall e a busca ativa – são necessários vários dias em campo, com equipe e instalação de armadilhas que capturam ou registram espécies, o que envolve mais recursos financeiros e tempo, enquanto o eDNA demanda somente uma visita em campo, pois a maior parte do trabalho ocorre em laboratório. Além disso, o novo método permite o registro de espécies que transitaram nas áreas de restauração em um período maior e não somente em um único momento, como é comum nos métodos tradicionais. 

Cezar Augusto Borges, analista de conservação do WWF-Brasil, gestor do projeto e responsável pela sua coordenação científica, conta que a ideia de testar o método partiu da necessidade de entender que novas informações ele poderia fornecer. “Nesse sentido, conseguimos observar espécies relevantes que cruzaram ou usaram as áreas de restauração, entre elas o gato do mato pequeno, lobo guará e cachorro vinagre”. Outra descoberta importante foi que a idade da área restaurada se mostrou mais relevante para a presença dessas espécies do que a sua proximidade a um bloco de floresta fonte de biodiversidade, como é o Parque Estadual da Serra do Mar, que está ali bem próximo. 

Principais achados do projeto

  • Espécies-chave redescobertas: O uso do eDNA possibilitou identificar espécies de grande relevância ecológica utilizando as áreas restauradas, como o gato-do-mato-pequeno, lobo-guará e cachorro-vinagre, reforçando o valor dessas áreas como corredores de biodiversidade.
     
  • Tempo de restauração importa mais que proximidade: O estudo revelou que áreas com restauração mais antiga atraem mais espécies do que áreas recentes, mesmo que estas estejam mais próximas de florestas maduras. 
     
  • Eficiência do método: A aplicação do DNA Ambiental demonstrou ser eficiente, rápida e confiável, permitindo a coleta de dados com apenas uma visita de campo e reduzindo custos operacionais. Essa abordagem pode ser replicada em larga escala e aplicada em diferentes biomas.
     
  • Ferramenta para decisões estratégicas: Os resultados indicam que o eDNA pode se tornar um instrumento estratégico para mensurar o sucesso de restauração ecológica, influenciando políticas públicas e investimentos em conservação com base em evidências científicas robustas.

De acordo com Borges, o eDNA comprovou-se como um instrumento eficiente, pois oferece ganho de tempo e confiabilidade na execução do trabalho, levando a resultados efetivos na identificação da biodiversidade da região. “Esse teste que fizemos foi importante porque pode facilitar a mensuração da restauração ao longo do tempo nas áreas implementadas pelo WWF-Brasil, e como a biodiversidade responde, seja na Mata Atlântica ou qualquer outro bioma”. 

Ele ressalta que indicadores de ganho em biodiversidade são fundamentais para recuperação de paisagens, pois revelam se a restauração está em uma trajetória de sucesso, se as espécies de animais retornaram para determinado local, contribuindo, por exemplo para a promoção de serviços ecossistêmicos, como controle de praga, dispersão etc. “Ao permitir uma avaliação mais rigorosa do sucesso do processo de restauração, o DNA Ambiental cria a oportunidade de revisão e aperfeiçoamento de técnicas que estejam sendo usadas, principalmente nos anos iniciais, possibilitando melhores resultados futuros”, acrescenta. 

Realização do trabalho 

O projeto piloto foi realizado entre 2022 e 2023 e teve início com a identificação e mobilização de quatro propriedades rurais da região e contato com o Parque Estadual da Serra do Mar para retirada das amostras de solo em suas terras. Esse trabalho de engajamento e acesso às áreas de amostragem foi feito por um parceiro local, o Akarui. 

Em seguida, as amostras foram coletadas nessas propriedades e no Parque, na estação seca e chuvosa. O objetivo foi comparar a presença de espécies de animais entre essas áreas, em dois períodos sazonais meteorológicos, bem como a influência de um bloco de floresta fonte de biodiversidade.  

O passo seguinte foi tratar em laboratório o material obtido, para extração do DNA, dando origem a uma biblioteca genética. “Trata-se de uma coleção de genes das espécies já identificadas em alguma região que servem como referência para comparar e identificar os vestígios genéticos mostrados em campo”, explica Borges. 

Posteriormente, foi realizado o sequenciamento genético, sua análise e atribuição taxonômica. A partir disso, especialistas foram consultados para identificar as espécies. Todo esse trabalho foi feito por uma consultoria especializada, a Ecomol.

As amostras genéticas coletadas em campo foram analisadas e tratadas em laboratório

Entre as amostras genéticas encontradas na região de coleta estava a do gato-do-mato-pequeno (Leopardus wiedii)

FONTE: WWF BRASIL

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