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Trigo sobe mais de 30% na semana, alcança os US$ 12 em Chicago e BR ainda não recebeu todo potencial de alta

A quinta-feira (3) é mais um dia de limite de alta para os preços do trigo na Bolsa de Chicago, com o mercado tendo de estender esse limite para mais de 100 pontos no primeiro contrato – março/21 – diante do atual cenário de continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia. Dessa forma, o vencimento chegou a superar os US$ 12,00 por bushel na CBOT, testando os US$ 12,21 com alta de 162,50 pontos. O maio e o julho já passavam dos US$ 11,00 e o setembro tinha US$ 10,30 por bushel. 

Os preços historicamente elevados são reflexo, primeiramente, do agravamento do conflito entre duas das principais nações produtoras e exportadoras do cereal. Além disso, colocam ainda toda a região em alerta sobre o escoamento do produto, principalmente pelas regiões do Mar Negro e de Azov. São os preços mais altos em 14 anos. 

Além da oferta que sai do mercado com ambos os países fechados, os especialistas também alertam sobre a possibilidade de que nem Rússia e tão pouco a Ucrânia possam colher seus campos de trigo que já estão plantados, o que deve apertar ainda mais os estoques globais do grão. Assim, déficits muito agressivos de oferta que já vinham sendo registrados antes do início da guerra, exigindo ainda mais de outros fornecedores como Argentina, Austrália, Estados Unidos e países da Europa, como a França. por exemplo. A União Europeia, como bloco, afinal, é a maior produtora mundial do grão. 

Frente a todo este cenário, o Citigroup Inc. vê a continuidade de um horizonte completamente altista para os preços do trigo, os quais ainda poderiam subir cerca de 30%, podendo chegar aos US$ 14,00 por bushel. E somente nesta semana, os futuros do grão já subiram mais de 30%. 

A guerra está “elevando o potencial das perspectivas do mercado agrícola. Sem uma redução rápida e sustentada, vemos esse choque se manifestando por vários canais para os preços das safras”, informou o time de analistas do banco internacional em uma nota divulgada nesta quinta-feira. 

Analistas internacionais também estão discutindo sobre a dependência global do trigo da região do Mar Negro e de que forma esse fluxo pode começar a ficar mais distribuído entre as demais origens. Ainda assim, reafirmam que será difícil ocupar o espaço que será deixado, ao menos por agora, de uma oferta combinada dos dois países que não chegará ao mercado.

O Notícias Agrícolas ouviu especialistas no mercado de trigo e trouxe seus panoramos para não só para o atual momento, mas também para o que ainda pode acontecer em diversas perspectivas. 

Élcio Bento, analista da Safras & Mercado

“A palavra é incerteza ainda. O lado fundamental disso, por trás de toda essa incerteza, é o fato de ser uma região que tem muito trigo para exportar e a necessidade de redirecionar essa demanda para alguns lugares”, explica o analista de mercado Élcio Bento,da Safras & Mercado. “A primeira questão que não se sabe é quando vai acontecer essa guerra. E esse fator, posso dizer como analista de mercado, é algo que nunca vi”, complementa. 

Ainda sobre os fundamentos, Bento ainda destaca as incertezas – termo mais utilizado nos últimos dias para definir o atual moemento do mercado do trigo – sobre as safras da Rússia e da Ucrânia nesta próxima temporada. “Se tivermos uma produção russa será que eles terão interesse em vender para outros países? Será que os outros países irão querer comprar trigo russo?”, questiona o especialista. 

Ele lembra ainda que o mercado, apesar das altas descontroladas e muito intensas, ainda não alcançou ou rompeu a máxima que foi de US$ 12,75, alcançada em março de 2008, na bolha das commodities. E para se afirmar que o movimento pode ganhar ainda mais corpo ou começar a se desaquecer irá depender das notícias que continuarão a chegar da zona de guerra. 

Para que todo esse reflexo chegue aos preços no mercado brasileiro, ainda segundo o analista, é preciso que dois degraus sejam alcançados – além das altas já observadas no mercado norte-americano: avanço dos preços no mercado argentino – que já começam a acontecer – e os moinhos retornarem às compras. 

“Ainda não se repassou tudo o que se vê no mercado internacional para o mercado aqui no Brasil. Já tivemos indicações nominais de preços com os vendedores pedindo R$ 2000,00 a tonelada. Isso é preço recorde, mas não tem interesse compra. Então, não está sendo repassado para o nosso mercado rapidamente porque os moinhos estão bem abastecidos e o produtor quer esperar preço maior. Então, o mercado não está andando, mas nominalmente já está subindo”, afirma. 

Assim, Bento acredita que ainda há espaço para que o mercado brasileiro possa subir de forma ainda mais efetiva.

Sobre a próxima safra brasileira, os sinais são de uma boa temporada, com olhar bastante voltado do produtor para o trigo depois de suas dificuldades com a soja e o milho, em especial no sul do país. Assim, há três principais pontos de atenção neste cenário: o clima para a nova safra, os custos de produção muito elevados já confirmados e a possibilidade de a guerra já ter terminado na época da comercialização e os preços internacionais despencarem. 

Jonathan Pinheiro, Consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX

Para Jonathan Pinheiro, Consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX, a tendência de alta segue muito forte, os preços nos portos também sobem de forma bastante significativa e um dos destaques é o avanço dos preços do trigo na Argentina, que foi de cerca de US$ 85,00 por tonelada na semana, levando os indicativos a US$ 385,00. O aumento dos preços no país vizinho puxa as cotações também no Brasil, bem como melhora a competitividade do cereal brasileiro. 

Ainda sobre o trigo argentino, Pinheiro afirma que de seu excedente exportável de 14,5 milhões de toneladas cerca de 97,5% deste volume já está comercializado, restando pouco, portanto, ainda a ser vendido por uma das principais alternativas de fornecimento neste momento. 

Os preços do grão no mercado da Argentina vinham travados nos últimos meses, enquanto nos demais países vinham subindo. No entanto, o agravamento do conflito deu espaço para os ganhos no mercado argentino, como também intensificou uma busca pela origem. Depois de sua última safra ter sido recorde, a nação sul-americana poderia liberar um volume maior de trigo, porém, com o mercado ainda tentando equilibrar suas vendas externas com as necessidades da demanda interna. “E por lá eles também estão tentando controlar a inflação”. 

Ao lado das questões argentinas, o consultor destaca ainda a entrada de uma nova safra de trigo no meio do ano. “Com o conflito ainda acontecendo e os dois países fora do mercado, poderíamos ver alguma pressão sobre os preços em um primeiro momento, mas apenas de forma pontual. Na sequência, os preços voltariam a subir. A China até sinalizou uma redução em seu consumo, mas não o suficiente para amenizar o cenário”, explica. 

Além disso, Pinheiro afirma também que apesar da guerra, não deverá haver um aumento de consumo global de trigo. “Não acreditamos em uma corrida de compras, mas uma garantia das compras que já estavam planejadas”, diz.

FONTE : NOTICIAS AGRICOLAS ( POR Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja)

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