Monitoramento com GPS ajuda na conservação de onças-pintadas
Em março de 2022, foi realizada uma expedição de captura de onças no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. O principal objetivo dessa campanha era capturar a Indira para a instalação de um colar de monitoramento via satélite. Com a utilização de metodologia eficiente e segura, profissionais especializados e seguindo um rígido controle de segurança e bem-estar animal, os pesquisadores conseguiram instalar o dispositivo que ajudará em pesquisas e na conservação da espécie.
O trabalho começou meses antes, as equipes de campo intensificaram a instalação de câmeras para identificar os locais com maior número de registros dessa onça, e assim escolher os melhores pontos para instalar as armadilhas e aumentar as chances de captura da Indira.
A campanha tinha a duração prevista de 15 dias, mas na primeira noite, apenas cinco horas e meia após a abertura das armadilhas a Indira foi capturada. Após a anestesia, a onça foi pesada e monitorada de perto pelos veterinários, e material biológico foi coleta dopara análise de bioquímica sanguínea, urina e diversas doenças, inclusive Covid-19.
De acordo com Yara Barros, coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu (Parque Nacional do Iguagu-ICMBio e Instituto Pró Carnívoros), o projeto prevê monitorar todas as onças-pintadas que vivem área de uso público do Parque Nacional do Iguaçu. “Por isso começamos com a Indira, que é uma das onças mais avistadas na região”, explica Yara.
O entendimento sobre o comportamento do animal é um dos principais meios para a promoção da coexistência entre humanos e grandes felinos, comenta Felipe Feliciani, analista de conservação do WWF-Brasil. “Com base nesses dados, conseguiremos elaborar estratégias cada vez mais precisas e que proporcionem tanto a sustentabilidade das comunidades locais quanto das espécies que ali vivem”, diz Felipe.
Participaram da ação as equipes do Projeto Onças do Iguaçu, Proyecto Yaguareté (CeIBA-IBS), da Argentina, CENAP/ICMBio, Itaipu Binacional e Parque das Aves trabalharam juntas na campanha binacional de captura. Todas as pessoas da equipe foram testadas para Covid-19 antes do início dos trabalhos.
Quem é Indira
Indira, que significa beleza pura, nasceu em 2018, filhote de Atiaia. O Projeto Onças do Iguaçu acompanha Indira desde que ela era uma pequena oncinha ainda descobrindo o Parque Nacional do Iguaçu. Indira perdeu a mãe e seus dois irmãos (não se sabe o paradeiro desses animais) quando tinha cerca de um ano de idade.
Nessa idade, os filhotes ainda precisam da proteção e orientação da mãe, mas Indira conseguiu sobreviver sozinha. Em 2021, ela atingiu a maturidade sexual e foi registrada com seu primeiro filhotinho, o Aritana. E recentemente tem aparecido nas câmeras de monitoramento com o macho Peter.
Uma semana após a instalação do colar, o Projeto Onças do Iguaçu recebeu 71 localizações da Indira. E assim podem entender melhor como essa onça usa as áreas do Parque Nacional do Iguaçu.
Colares
Os pesquisadores eventualmente realizam expedições para estudar de maneira ainda mais próxima as onças-pintadas. E para isso utilizam um colar de monitoramento.
Esses equipamentos pesam ao redor de 700 gramas, o que representa 0,7% do peso de um animal do porte de uma onça-pintada. Ou seja, muito leve e que em nada atrapalha os movimentos. Os felinos então são soltos e passam a ser rastreados e monitorados.
Há duas tecnologias que podem compor esses colares. Uma é a VHF (very high frequency, em inglês), que funciona nos moldes de uma rádio. Os transmissores ficam nos colares dos animais, e os pesquisadores, com receptores e antenas para captar o sinal (o rastreamento pode ser feito por via terrestre ou aérea ou mesmo por meio de aparelhos estacionários, instalados na área de estudo).
Outra é o GPS, a exemplo dos aplicativos de geolocalização que são usados para ir de um ponto a outro. Eles são mais caros, mas têm maior precisão. O dispositivo capta e armazena as coordenadas da onça e, depois, as transmite para satélites. Alguns dispositivos permitem que os dados sejam acessados on-line.
Mais do que somente a localização, esse acompanhamento (que pode ser por VHF, GPS ou misto) da onça-pintada permite compreender de que forma ela se movimenta: se existe algum padrão, que percursos ela faz, que área ocupa. Também pode-se entender de que forma utiliza o hábitat e quais são seus horários de maior e de menor atividade.
Os colares também ajudam a proteger o animal. Em caso de morte, é emitido um sinal de alerta aos pesquisadores que imediatamente contatam as autoridades competentes.
É assim que foi possível constatar que, na região do Parque Nacional de Iguaçu, as onças-pintadas andam por até 260 km² para buscar presas ou se acasalar e atravessam rios, como o Paraná, cruzando várias vezes a fronteira entre Brasil e Argentina, por exemplo. Ou, ainda, permitiu acompanhar os trajetos e padrões de comportamento de Tarobá, uma onça-pintada macho monitorada pelo Instituto Pró-Carnívoros, por 263 dias.
Esse conhecimento sobre os locais por onde Tarobá passava permitiu a pesquisadores do Projeto Onças do Iguaçu e do ICMBio ir a campo. Conseguiram identificar a carcaça de um veado predado pelo felino e colher amostras de suas fezes para análise. Quando os sinais passaram a vir sempre de um mesmo local, a equipe se deslocou 12 km na mata, acompanhada pela Polícia Ambiental, para investigar se o colar havia se perdido ou se a onça havia morrido (morte natural ou abate). Com isso, o colar poderia dar pistas sobre áreas de maior risco e sobre possíveis causas da morte.
O colar foi achado, mas não a onça-pintada. Porém, alguns meses depois, o Tarobá foi registrado em uma armadilha fotográfica, mostrando que estava bem e que o colar apenas havia se rompido!
Ah! E não se preocupe, os colares modernos são programados para se soltarem sozinhos quando a bateria está no fim. Assim, os pesquisadores só precisam ir até o local indicado e recolher o equipamento.