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Quando há vida, há esperança

Havia um tempo em que as meninas colavam nas portas de seus guarda-roupas fotos de cantores e atores recortadas de revistas. Por esse tempo, a metade dos anos de 1980, era um dos caçulas da minha família e do meu bairro. Recordo que as meninas mais velhas pregavam retratos do Fábio Júnior, que lembrava muito o Fiuk que de certo ainda não havia nascido, dos portorriquenhos Menudo – que só mais tarde fui saber que eram de Porto Rico, entre outros artistas que povoaram o imaginário das moças oitentistas. Nunca colei foto de nenhuma atriz ou cantora que me deixava atônito só de imaginar o nome. Se tivesse colado – num exercício de retorno ao tempo perdido – iria escolher por uma vedete de Asa Branca. Asa Branca era a cidade onde se passava uma das tramas mais envolventes das nove: ‘Roque Santeiro’, de Dias Gomes e Agnaldo Silva. Um dos maiores sucessos da teledramaturgia, ‘Roque Santeiro’ gerou personagens que até os dias de hoje vivem no imaginário do povo brasileiro: a Viúva Porcina, interpretada por Regina Duarte, e o Sinhozinho Malta, encarnado por Lima Duarte, são dois deles. Nesta volta à minha segunda infância, passada em uma pequena cidade do Interior de São Paulo, de nome indígena, Paraguaçu, sem sombra de dúvidas, colaria na porta do guarda-roupa do meu quarto dividido com os meus dois outros irmãos, a foto da vede de Asa Branca que foi vivida pela atriz Cláudia Raia. Cláudia Raia é uma das atrizes que mais chega à perfeição na interpretação, além de ser na minha modesta opinião, uma das mulheres mais lindas da televisão brasileira. E escrevo sobre Cláudia – que tem o mesmo nome da minha mãe – porque recentemente vi uma postagem na rede social dela que me deixou muito feliz. Aos 55 anos, a atriz e dançarina – que se esforçou muito para buscar o aperfeiçoamento artístico nos Estados Unidos na adolescência – anunciou nova gravidez. A esperança sempre vence e a atriz comprova que o tempo de cada um é o agora. Nas Sagradas Escrituras, seis meses antes do nascimento do Cristo, nasceu o profeta João Batista, primo de Jesus. João, que anunciou a chegada do Messias, era filho de Isabel, da família de Maria de Nazaré, e uma senhora que, pelo que tudo indica, tinha bem mais do que os 55 anos da atriz brasileira Cláudia Raia. Segundo o Evangelho de São Lucas – que era médico e foi um dos principais cronistas do seu tempo – ambos – Isabel, a mãe de João Batista, e Zacarias, seu pai –  eram de idade bem avançada. Hoje, longe da infância das fotos de revistas, curtindo minha vida de pai e trabalhador, volto a me deslumbrar pela  vedete de Asa Branca e respirar a renovação confiando que quando há vida, há esperança.

Ramon Barbosa Franco, escritor e jornalista, é autor do livro ‘Canavial, os vivos e os mortos’, e-mail ramoinmprensa@gmail.com

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