Soja Argentina: Nova safra começa sob sombra de incertezas políticas e climáticas
A nova safra de grãos está começando não só no Brasil, mas também na Argentina. E como não poderia ser diferente, uma série de incertezas preocupa os produtores rurais argentinos, principalmente diante de uma recente crise política, que culminou na troca de diversos ministros, entre eles, o da Agricultura. Quem assumiu a pasta foi Julián Domínguez que, segundo especialistas, tem uma base bem mais próxima do campo do que seu antecessor, Luis Basterra.
POLÍTICA
Em um entrevista no jornal Perfil neste final de semana, Domínguez afirmou que a “Argentina é um país agropecuário sem debate agropecuário”, e complementou afirmando ainda que o setor, que é um dos principais pilares da economia argentina, não tem qualquer prioridade nas discussões no meio econômico, público ou privado. O ministro disse ainda que a política não conhece “as capacidades, a dinâmica, mas, sobretudo, a cultura e identidade do interior e da vida ligada ao campo”.
Segundo Domínguez, o pedido do presidente Alberto Fernández é de que se construa entre governo e o setor produtivo um caminho e uma relação de diálogo, além de uma visão de futuro. Além disso, diz também que a exportação de carne bovina é uma das prioridades da nova pauta – depois da suspensão imposta pelo próprio governo como forma de tentar conter os preços no mercado interno – bem como a intensificação das vendas externas de outros produtos em que a competitividade argentina pode ser bastante expressiva, como os derivados de soja.
“Temos que definir qual política e modelo de desenvolvimento queremos. Claro que queremos exportar mais, mas temos que ter um horizonte, e a agricultura é diferente da pecuária, tem outros tempos, ciclos mais longos, e temos que definir como vamos aumentar o peso do trabalho, começando progressivamente no próximo ano e vendo como estimulamos políticas de aumento de produtividade”, disse à publicação local.
As eleições legislativas acontecem na Argentina em 14 de novembro e também alimenta esse cenário político mais nebuloso sobre a produção nacional. E essa falta de “debate agropecuário” a que se referiu o ministro da Agricultura foi citado ainda pelo deputado Pablo Toledo em um webinar realizado nos últimos dias pela consultoria AZ-Group.
“Os produtores agrícolas reclamam da pressão tributária e das medidas anti-campo do governo, mas não participam da vida política do país e não destinam recursos para ter uma representação profissional no Congresso para defendê-los”, disse. “Historicamente, o setor agrícola esteve muito fechado. Os produtores cuidam de suas empresas e não ‘perdem tempo’ em divulgar seus esforços aos políticos e à opinião pública. Assim, na Câmara dos Deputados, apenas cinco cadeiras são ocupadas por deputados ligados à agricultura, de um total de 257. Os produtores não estão dispostos a destinar recursos para mostrar a realidade de suas empresas e gerar ações de defesa e lobby, como fazem outros setores do agronegócio”, completa o deputado.
As expectativas são de que, a partir de 14 de novembro, com as novas eleições, o quadro comece a mudar, dando ainda mais chances e oportunidades para que a situação se equilibre e que a participação do agro seja mais contundente nas decisões políticas. Do mesmo modo, porém, o momento é oportunidade também para o atual governo, que amargou uma derrota considerável nas eleições legislativas primárias, em setembro.
“É uma lição para os políticos: eles precisam melhorar a cada dia o que oferecem, porque senão a sociedade os abandonará, como aconteceu no dia 12 de setembro, quando a população estabeleceu um limite claro para um governo arbitrário”, disse o deputado Juan Manuel López (Juntos pela Mudança, província de Buenos Aires) no mesmo evento virtual.
O professor da ESPM, Leonardo Trevisan, explicou, em sua última entrevista ao Notícias Agrícolas que o atual momento do governo Fernández/Kirchner intensifica incertezas ao já fragilizado agro argentino.
“O governo argentino vinha com uma série de medidas, medidas que, inclusive, afetavam o agronegócio, que foram consideradas insuficientes pela população”, diz. “Quando olhamos para Alberto Fernandez está atrás dele um fantasma, que é Cristina Kirchner, e entre os dois há diferentes formas de governar. O governo Alberto Fernandez cuida do déficit público, lê-se não gastar muito mais do que arrecada. Cristina Kirchner pensa em gastar mais do que arrecada e isso chama-se inflação. Esta situação atinge diretamente o agronegócio argentino”.
Relembre:
A nova safra de grãos está começando não só no Brasil, mas também na Argentina. E como não poderia ser diferente, uma série de incertezas preocupa os produtores rurais argentinos, principalmente diante de uma recente crise política, que culminou na troca de diversos ministros, entre eles, o da Agricultura. Quem assumiu a pasta foi Julián Domínguez que, segundo especialistas, tem uma base bem mais próxima do campo do que seu antecessor, Luis Basterra.
POLÍTICA
Em um entrevista no jornal Perfil neste final de semana, Domínguez afirmou que a “Argentina é um país agropecuário sem debate agropecuário”, e complementou afirmando ainda que o setor, que é um dos principais pilares da economia argentina, não tem qualquer prioridade nas discussões no meio econômico, público ou privado. O ministro disse ainda que a política não conhece “as capacidades, a dinâmica, mas, sobretudo, a cultura e identidade do interior e da vida ligada ao campo”.
Segundo Domínguez, o pedido do presidente Alberto Fernández é de que se construa entre governo e o setor produtivo um caminho e uma relação de diálogo, além de uma visão de futuro. Além disso, diz também que a exportação de carne bovina é uma das prioridades da nova pauta – depois da suspensão imposta pelo próprio governo como forma de tentar conter os preços no mercado interno – bem como a intensificação das vendas externas de outros produtos em que a competitividade argentina pode ser bastante expressiva, como os derivados de soja.
“Temos que definir qual política e modelo de desenvolvimento queremos. Claro que queremos exportar mais, mas temos que ter um horizonte, e a agricultura é diferente da pecuária, tem outros tempos, ciclos mais longos, e temos que definir como vamos aumentar o peso do trabalho, começando progressivamente no próximo ano e vendo como estimulamos políticas de aumento de produtividade”, disse à publicação local.
As eleições legislativas acontecem na Argentina em 14 de novembro e também alimenta esse cenário político mais nebuloso sobre a produção nacional. E essa falta de “debate agropecuário” a que se referiu o ministro da Agricultura foi citado ainda pelo deputado Pablo Toledo em um webinar realizado nos últimos dias pela consultoria AZ-Group.
“Os produtores agrícolas reclamam da pressão tributária e das medidas anti-campo do governo, mas não participam da vida política do país e não destinam recursos para ter uma representação profissional no Congresso para defendê-los”, disse. “Historicamente, o setor agrícola esteve muito fechado. Os produtores cuidam de suas empresas e não ‘perdem tempo’ em divulgar seus esforços aos políticos e à opinião pública. Assim, na Câmara dos Deputados, apenas cinco cadeiras são ocupadas por deputados ligados à agricultura, de um total de 257. Os produtores não estão dispostos a destinar recursos para mostrar a realidade de suas empresas e gerar ações de defesa e lobby, como fazem outros setores do agronegócio”, completa o deputado.
As expectativas são de que, a partir de 14 de novembro, com as novas eleições, o quadro comece a mudar, dando ainda mais chances e oportunidades para que a situação se equilibre e que a participação do agro seja mais contundente nas decisões políticas. Do mesmo modo, porém, o momento é oportunidade também para o atual governo, que amargou uma derrota considerável nas eleições legislativas primárias, em setembro.
“É uma lição para os políticos: eles precisam melhorar a cada dia o que oferecem, porque senão a sociedade os abandonará, como aconteceu no dia 12 de setembro, quando a população estabeleceu um limite claro para um governo arbitrário”, disse o deputado Juan Manuel López (Juntos pela Mudança, província de Buenos Aires) no mesmo evento virtual.
O professor da ESPM, Leonardo Trevisan, explicou, em sua última entrevista ao Notícias Agrícolas que o atual momento do governo Fernández/Kirchner intensifica incertezas ao já fragilizado agro argentino.
“O governo argentino vinha com uma série de medidas, medidas que, inclusive, afetavam o agronegócio, que foram consideradas insuficientes pela população”, diz. “Quando olhamos para Alberto Fernandez está atrás dele um fantasma, que é Cristina Kirchner, e entre os dois há diferentes formas de governar. O governo Alberto Fernandez cuida do déficit público, lê-se não gastar muito mais do que arrecada. Cristina Kirchner pensa em gastar mais do que arrecada e isso chama-se inflação. Esta situação atinge diretamente o agronegócio argentino”.
Relembre:
No centro argentino, de 26 de setembro a 6 de outubro o acumulado de chuvas foi limitado, com cerca de 70% da região recebendo menos de 5 mm de precipitações. A região dos Pampas também recebeu volumes modestos, de 15 a 30 mm, enquanto no Nordeste foram de 10 a 40 mm.
“A situação das lavouras é bastante complexa: este será o segundo ano de relutância das chuvas”, acrescenta o guia da bolsa argentina.
SOJA 2021/22
A nova safra de soja da Argentina, que deverá começar a ser plantada em breve, foi estimada pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em 52 milhões de toneladas, contra as 46 milhões da safra 2020/21. Para Ênio Fernandes, no entanto, este número poderia chegar a algo entre 53,5 e 54 milhões de toneladas, uma vez que os atuais preços são bastante atrativos e estimulam um aumento de produção.
“A liquidez da soja é muito alta, é dólar na veia. E com a política do governo argentino desestimula plantar outras culturas como milho, trigo, e a liquidez da soja atrai muito os produtores. Então, acho que esse número do USDA pode ser corrigido para cima (superando 54 milhões) caso os contratos março e maio trabalhem acima dos US$ 12,50”, acredita o consultor em agronegócio, Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios.
Dessa forma, Fernandes acredita ainda que o bom momento dos preços dos biocombustíveis também poderá dar espaço para que o esmagamento argentino de soja seja maior na nova temporada.
“Estamos com o petróleo brent acima dos US$ 82 por barril e com muitas especulações de que pode chegar a algo entre US$ 90,00 e US$ 95,00 a depender da intensidade do inverno no hemisfério Norte. Com os preços se mantendo em alta (inclusive do gás natural), estimula-se o preço do óleo de soja, e isso dá uma também nas margens de esmagamento das indústrias processadoras. Por isso eu sou mais altista do que o USDA tanto sobre a safra argentina, quanto sobre seu processamento para bioenergia”, diz o consultor.
E dessa forma, Fernandes também acredita que as exportações argentinas de soja nesta nova safra não deverão crescer de forma muito substancial, uma vez que o país deverá focar-se mais sobre seu esmagamento, como é natural de sua essência. A última estimativa do USDA é de exportações de 6,35 milhões de toneladas da oleaginosa exportadas nessa nova temporada.
A comercialização desta soja da nova safra também caminha de forma um pouco mais lenta neste momento – o que se observa também no Brasil agora – com os produtores atentos mais a Chicago, uma vez que a diferença cambial que pesa tanto no Brasil não tem a mesma influência que tem no mercado brasileiro.
“Lembro que o ano que vem é ano de eleições presidenciais também na Argentina, o que traz muita instabilidade para a moeda local. E isso faz com que os produtores argentinos estejam mais contidos nas vendas para a próxima safra”.
RETENCIONES
Outro problema carregado de safras anteriores para a nova são as chamadas “retenciones”, ou seja, a complexa e pesada carga tributária que se debruça sobre a produção argentina de soja.
“A carga tributária atual é enorme e também impacta negativamente a capacidade do governo de cobrar impostos dos produtores de soja, já que os agricultores produzem menos como conseqüência das tarifas de exportação. Uma carga tributária menor resultará em uma maior produção de soja, resultando em uma maior arrecadação de impostos por parte do governo ”, disse Luis Zubizarreta, head da ACSOJA (Associação da Cadeia de Soja Argentina) ao portal internacional Agricensus.
Na última conferência da instituição, o atual ministro da Agricultura afirmou que deverá focar na meta de ampliar a produção da oleaginosa para 70 milhões de toneladas em uma década, o que foi reforçado por Zubizarreta caso o governo seja eficiente em suas políticas públicas para a cadeia.
Atualmente, a taxação sobre as exportações de soja em grão são de 33% e sobre o óleo, 31%.
A safra 2020/21 vai se encerrando na Argentina com um esmagamento menor, podendo terminar a temporada com algo entre 41 e 42 milhões de toneladas, em um cenário de produção de 46 milhões. Ainda como explica o consultor, os estoques finais deverão ficar bastante apertados. “Eles diminuíram um pouco do esmagamento neste ano, mas ainda assim os estoques são baixos. E as exportações caíram quase pela metade em relação à safra 2019/20 porque o país teve uma safra menor do que o esperado”.
FONTE : NOTICIAS AGRICOLAS (Com informações dos portais Agricensus, La Nacion e Revista Chacra)