EntretenimentoVariedades

Bamba ativista, Martinho da Vila faz 85 anos como um dos mais belos enredos do samba e do Brasil

 Devagar devagarinho, no ritmo manemolente dos sambas que apresenta ao Brasil desde a segunda metade da década de 1960, Martinho da Vila chega hoje aos 85 anos com o laiá-raiá que é somente dele e de mais ninguém.

Nascido em 12 de fevereiro de 1938 em Duas Barras (RJ), município fluminense onde se come “um gostoso bacalhau” como referendou o ilustre cidadão natal na música Meu off Rio (1994), o bamba é um dos mais longevos artistas em atividade na música brasileira.

Ícone do Carnaval carioca, onde veste a camisa azul e branca da escola Unidos de Vila Isabel, Martinho José Ferreira personifica um rei negro que, além de bamba do samba, está coroado no imaginário nacional pela postura ativista. Martinho é tanto da Vila quanto das causas que abraça em nome do povo brasileiro, hasteando a bandeira na fé na justiça social e combatendo o racismo.

Aliás, para 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura, o artista programou o lançamento do álbum Negra ópera. O filho, Preto Ferreira, participa do disco, para orgulho do pai que vive lambendo as crias, quase todas envolvidas com a música, em especial com o samba. Porque na casa de Martinho da Vila todo mundo é bamba, a começar pelo patriarca.

Embora seja pauta pelo samba, expondo as várias modalidades do gênero, a obra autoral de Martinho da Vila também expõe certa diversidade rítmica, perceptível somente para quem conhece todos os (quase 60) álbuns do excepcional compositor, nem sempre devidamente reconhecido pela crítica na medida da genialidade.

Sim, Martinho é compositor dos grandes e pertence ao panteão mais nobre dos gênios da música brasileira, merecendo figurar ao lado de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Milton Nascimento, bambas da MPB a rigor mais valorizada do que o samba nos meios intelectuais.

Com assinatura própria, pessoal e intransferível, Martinho modernizou o samba-enredo nos anos 1960 – tornando o gênero mais coloquial e menos caudaloso – e trouxe o partido alto para a sala de estar das famílias de classe média décadas antes de o pagode virar coisa de pele.

Martinho da Vila se fez ouvir em todo o Brasil a partir de 1969 e, ao longo da década de 1970, dividiu holofotes com o ABC feminino do samba – Alcione, Beth Carvalho (1946 – 2019) e Clara Nunes (1942 – 1983), cantoras para quem forneceu repertório da melhor qualidade – por conta de álbuns best-sellers como Canta canta, minha gente (1974) e Maravilha de cenário (1975).

Depois, Martinho subiu e desceu na gangorra das paradas, mas, alheios aos caprichos do mercado, sempre manteve alto o nível artístico de discografia que já contabiliza 56 títulos. O 57º é o já citado álbum vindouro Negra ópera.

Tema de vários enredos, a vida de Martinho dá mesmo um grande samba, uma ópera africana. E o Martinho da Vila 8.5 está turbinado e pronto para dar continuidade ao grande desfile da vida.

FONTE: G1 (POR MAURO FERREIRA)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *