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Álbum inédito dos Tincoãs inebria ao mixar o canto afro-brasileiro do trio com coral que evoca o gospel norte-americano

Resenha de álbum

Título: Canto coral afro-brasileiro

Artista: Os Tincoãs

Edição: Sanzala Cultural

Cotação: ★ ★ ★ ★ ½

“Eu queria fazer algo assim com Os Tincoãs: um gospel afro-brasileiro, mas com as músicas que eles cantam em iorubá e banto, um repertório de grande importância antropológica e histórica para o Brasil e o mundo”.

♪ A lembrança do radialista e produtor musical Adelzon Alves a respeito do disco Canto coral afro-brasileiro dá a pista certeira para o entendimento deste álbum inédito do trio baiano Os Tincoãs que vem à tona hoje, 20 de abril de 2023, quarenta anos após ter sido idealizado em 1982 e gravado em 1983 nos Estúdios Transamérica, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), e duas semanas após a edição do single com o registro de Oiá pepê oiá bá (1983).

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A maior parte do repertório do álbum Canto coral afro-brasileiro já tinha sido gravada pelos próprios Tincoãs em discos dos anos 1970. O colorido das regravações vem justamente da interação das vozes e instrumentos de Getúlio de Souza, o Badu (agogô, ganzá e voz de tons médios), de Grinaldo Salustiano, o Dadinho (violão e voz de registro mais agudo) e de Mateus Aleluia (atabaques e voz de barítono) com as vozes do Coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro, arranjadas e regidas pelos maestros Armando Prazeres (1934 – 1999) e Leonardo Bruno.

De fato, as abordagens de temas como Salmo (Mateus Aleluia e Dadinho, 1975), Lamento às águas (tema tradicional em adaptação de Dadinho e Mateus Aleluia, 1977), Obaluaê ((tema tradicional em adaptação de Dadinho, Heraldo Bozas e Mateus Aleluia, 1973), Misericórdia (Mateus Aleluia e Dadinho, 1974) – faixa em que Os Tincoãs harmonizam a litúrgica católica ao revezar as vozes do trio com os contracantos do Coral dos Correios e Telégrafos – e Key Iemanjá (1983) deixam a impressão de que algum grupo norte-americano de música gospel baixou em terreiro ou igreja da Bahia nessas gravações pautadas pelo sincretismo religioso.

Há algo de celestial nesses registros embebidos em negritude. As faixas carregam a alma do gospel, amalgamada com a afro-brasilidade advinda do fato de os temas serem quase todos cantados na língua iorubá por um trio ligado à magia do Candomblé. O efeito é inebriante.

Contudo, para quem prefere ouvir os Tincoãs no estado original do grupo formado em Cachoeira (BA), o álbum Canto coral afro-brasileiro também traz as gravações de músicas como a então inédita Cequecê (1983) – reverência do trio aos candomblés da linha Banto, Congo e Angola – e Ogundê (tema tradicional em adaptação de Dadinho e Mateus Aleluia, 1973).

A diferença entre as faixas com e sem orquestra e coral se explica pelo corte de verbas durante a gravação do álbum, finalizado sem algumas orquestrações e intenções pretendidas.

Foi somente em 2002 que o produtor Adelzon Alves, de posse da fita de rolo com as gravações feitas em 1983, encaminhou o material para Mateus Aleluia.

Vinte anos se passaram até que o álbum fosse remasterizado por Tadeu Mascarenhas, no Estúdio Casa das Máquinas, em 2022, aprimorando a qualidade técnica e fazendo com que Canto coral afro-brasileiro chegasse hoje ao mundo com som compatível com a aura divina das dez faixas gravadas há 40 anos.

Aberto com Ajagunã (Mateus Aleluia e Dadinho, 1982), tema defendido pelo grupo no festival MPB-Shell 82, o álbum Canto coral afro-brasileiro honra a nobreza histórica d’Os Tincoãs.

FONTE: G1 (POR MAURO FERREIRA)

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