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Maior parte do lucro da produção da soja no Brasil vai para o exterior, mostra estudo

O mercado bilionário da cadeia da soja no Brasil gerou, apenas no ano agrícola de 2019/2020, uma receita bruta de US $86,9 bilhões, dos quais somente US $31,6 bilhões foram absorvidos por grupos empresariais brasileiros. No entanto, apesar de receber subsídios e isenções fiscais no Brasil, quem absorve a maior parcela dos lucros gerados são grandes corporações internacionais, principalmente estadunidenses, europeias e chinesas.

Estes são alguns dados levantados pela nota técnica do WWF-Brasil, que compila estudos relevantes sobre a cadeia da soja e revela que além da desproporcionalidade na divisão dos lucros, há um conjunto de ônus e impactos socioambientais que acabam sendo absorvidos e internalizados quase que exclusivamente pela sociedade brasileira.

O estudo explica que grandes corporações estrangeiras dedicam relevante esforço para expandir a sua dominação dos diferentes segmentos associados à produção da soja, incluindo os mercados de sementes, agrotóxicos, fertilizantes, máquinas agrícolas, processamento, transporte, financiamento e exportação. Entre as principais estratégias para ganhar controle do segmento estão os processos de fusão e aquisição de empresas brasileiras.

O resultado desse controle adquirido pelas multinacionais é a redução da participação brasileira na receita gerada e no modelo de governança da produção. Assim, enquanto o lucro vai para fora do país, o prejuízo socioambiental gerado pela expansão acelerada da área cultivada com soja permanece no Brasil.

As importações da União Europeia de commodities agrícolas, por exemplo, foram relacionadas a um desmatamento de mais de 145 mil hectares de ecossistemas tropicais em 2018.

Cerrado segue desprotegido

Segundo o estudo, a crescente demanda global por soja estimula a expansão da produção brasileira. O avanço da fronteira da soja aumenta a pressão sobre os ecossistemas naturais. O Cerrado, por exemplo, está entre os biomas mais ameaçados por essa expansão.  Entre 1985 e 2021, foram 8,1 milhões de hectares de novos plantios de soja, uma área maior que a superfície da Bélgica e da Holanda juntas. 

Os números recentes são ainda mais alarmantes. Dados do PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram que em 2022 o Cerrado sofreu com o desmatamento de 1,07 milhão de hectares, uma devastação 69% maior do que em 2019. O bioma já perdeu cerca da metade da vegetação nativa ao longo das últimas décadas.

“O Cerrado é um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo, e uma das principais fronteiras de desmatamento provocado pelo agronegócio em nível global”, destaca o Diretor de Conservação e Restauração de Ecossistemas do WWF-Brasil, Edegar de Oliveira Rosa. Segundo ele, como resultado, “os conflitos sociais são crescentes e o colapso de serviços ambientais chave, como a “produção de água”, já é bastante evidente e bem documentado por agências públicas e grupos científicos. Isso afetará diretamente a vida dos brasileiros, menos água, menos energia hidroelétrica, e produção de alimentos mais cara”, conclui.

Enquanto a Moratória da Soja na Amazônia, acordo voluntário entre setor privado, ONGs e Governo Federal, evitou que 9.000 a 27.000 km² fossem desmatados na Amazônia, o cultivo da soja expandiu principalmente no Cerrado, onde não existe acordo de desmatamento zero com o setor privado, destaca a nota técnica. O Cerrado conta com menos de 10% de sua área protegida com unidades de conservação, sendo apenas cerca de 3% delas da categoria de proteção integral. O bioma é também pouco protegido pelo Código Florestal, que permite até 80% de sua destruição.

FONTE: WWF BRASIL

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