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Zélia Duncan e Ana Costa fazem história em disco que enaltece a ação feminina na Independência do Brasil

♪ Há literal e figurativamente um caráter histórico no disco lançado hoje, 7 de setembro de 2023, por Zélia Duncan com Ana Costa. Com sete músicas inéditas que o situam no limiar entre álbum e EP, o disco Sete mulheres pela Independência do Brasil faz raiar, com 200 anos de atraso, a liberdade e o enaltecimento da ação feminina na luta pela autonomia nacional em movimentos ocorridos entre o fim do século XVIII e o início do século XIX.

O grande trunfo do disco – cujo repertório foi composto por Ana com letras de Zélia – é a bela canção que o abre, Dona Hipólita Jacinta, dedicada a mineira Hipólita Jacinta Teixeira de Melo (1748 – 1828). Com lirismo sublinhado pelas cordas do quarteto arregimentado para a faixa, a canção exalta a “insólita coragem” de Hipólita na letra em que Zélia – autora dos versos e solista da canção – faz conexão da luta pela liberdade nos tempos imperiais com as ações atuais que reivindicam total independência e igualdade feminina na ainda patriarcal sociedade do século XXI.

Gravado com produção musical orquestrada por Ana Costa com Bia Paes Leme, parceira das artistas em Quitéria – marcha em louvor à combatente baiana Maria Quitéria de Jesus (1792 – 1853) – e no jongo que reverencia a baiana Maria Felipa de Oliveira (???? – 1823) em gravação embasada com sólida trama de tambores, o disco tira da invisibilidade mulheres apagadas da história oficial do Brasil.

Nesse sentido, Ana Costa e Zélia Duncan fazem história quando permitem que essas sete mulheres “nasçam de novo nos braços da História e do povo”, para citar versos do fluente samba Ana Lins, composta para celebrar a valente alagoana Ana Maria José de Lins (1764 – 1839).

O disco se mantém coeso mesmo quando eventualmente a força da letra se sobrepõe ao poder da melodia, como no caso de Urânia, balada ouvida em solo de Ana Costa e feita em tributo a Urânia Vanério de Argollo Ferrão (1811 – 1849), mulher de origem baiana, mais conhecida como Baianinha pelos poucos que souberam da importância dela nos levantes.

Pautado pela diversidade rítmica, o repertório também inclui um xote batizado com o nome da pernambucana Bárbara de Alencar (1760 – 1832). Completa a safra do disco uma canção que joga luz sobre a ação combativa de Maria Leopoldina (1797 – 1826), austríaca que lutou pela Independência do Brasil.

Rainhas sem coroas, essas sete mulheres guerreiras são entronizadas por Zélia Duncan e Ana Costa nas músicas deste disco idealizado, composto, gravado e tocado por mulheres.

Engajado na causa feminista, o disco tem méritos musicais e poéticos, merecendo ser ouvido e estudado nas escolas para que as distorções da História oficial do Brasil sejam apagadas.

FONTE: G1 ( POR MAURO FERREIRA)

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