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Marcos Valle chega aos 80 anos com aura e som eternamente joviais

É difícil acreditar que Marcos Valle faz hoje 80 anos. Mas o fato é que Marcos Kostenbader Valle veio ao mundo em 14 de setembro de 1943 na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e, portanto, se torna o mais novo octogenário da música brasileira a partir desta quinta-feira.

A descrença decorre tanto da aparência de eterno menino do Rio quanto do som eternamente jovial. Som que deriva da bossa nova, mas que logo se desprendeu dela, ainda que Valle tenha permanecido associado à bossa carioca.

Mote de show que será feito pelo artista na noite de hoje no carioquíssimo Circo Voador (com adesões de Azymuth, Joyce Moreno, Marcelo D2, Roberta Sá e Roberto Frejat), a festa dos 80 anos de Valle coincide com a celebração dos 60 anos de carreira fonográfica do cantor e compositor, iniciada em 1963 com a edição do álbum Samba “demais” e com a gravação pelo conjunto vocal Os Cariocas de duas músicas inéditas do então estreante compositor, Vamos amar e Amor de nada , parcerias de Marcos com Edu Lobo e com o irmão Paulo Sérgio Valle, respectivamente, ambas incluídas no álbum Mais bossa com Os Cariocas.

O Brasil ouviu Marcos Valle em 1963. O mundo o descobriu a partir de 1966, ano em que o ensolarado Samba de verão (1964) se iluminou nos Estados Unidos com a gravação instrumental do organista Walter Wanderley (1932 – 1986) e com registro subsequente de cantores como Johnny Mathis, já com a letra em inglês escrita pelo compositor norte-americano Norman Gimbel (1927 – 2018), em cuja versão Samba de verão se tornou Summer samba (So nice).

A letra original de Paulo Sérgio Valle é uma das mais completas traduções do clima sal, céu, sol, sul da bossa nova. Contudo, os irmãos também se mostraram afinados em tempos mais nublados. O samba-canção Preciso aprender a ser só se tornou standard instantâneo ao ser lançado em 1965, na voz do autor, em gravação do álbum O compositor e o cantor.

Enquadrar a música de Marcos Valle no escaninho da bossa nova é ignorar a pluralidade rítmica do cancioneiro do artista. Expoente da segunda geração da bossa, o compositor logo se engajou em temas sociais e, nessa onda, foi dar na praia agitada do subgênero rotulado como música de festival – vertente da qual a toada Viola enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1968) se impôs instantaneamente como obra-prima, ganhando as vozes de Milton Nascimento e Beth Carvalho (1946 – 2019).

A rigor, Marcos Valle nunca se prendeu a movimentos e gêneros, mesmo sempre voltando à bossa. Se o compositor esboçou nova virada com o álbum Mustang cor de sangue (1969), disco de sotaque pop e incursões por ritmos nordestinos, o álbum posterior Marcos Valle (1970) consolidou a guinada pop – com adesões do grupo Som Imaginário e dos mineiros Nelson Ângelo e Novelli – e o disco seguinte, Garra (1971) pôs soul no pop do artista, gerando joias como Black is beautiful e Com mais de 30.

Já o álbum Vento sul (1972) direcionou a música de Valle para rota progressiva do grupo O Terço com boa dose de lisergia enquanto Previsão do tempo (1973) vislumbrou era sombria com o groove do trio Azymuth.

Abertas as portas da percepção musical na primeira metade dos anos 1970, Valle partiu para outra viagem, migrando para os Estados Unidos – para onde já tinha ido na década anterior para surfar na onda do Samba de verão – e voltando ao Brasil somente no início dos anos 1980, década em que aderiu ao som tecnopop da época.

Nessa era, Estrelar (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1983) foi a trilha da malhação praticada pelos cariocas da geração saúde, espécies de sucessores da turma que pegou a onda do sal, céu, sol e sul em fins dos anos 1950.

Depois, o artista amargou certo ostracismo no Brasil e viu no aeroporto uma saída após ter composto canções mais sentimentais, como Paixão antiga (1988), para abastecer o repertório de cantores como Tim Maia (1942 – 1998).

A partir de 1998, ano em que lançou o álbum Nova bossa nova pelo selo inglês Far Out Recordins, Marcos Valle renovou o som, rejuvenesceu o público e expandiu o repertório autoral, passando a gravar discos para a Europa e o Japão.

Foi quando, sintomaticamente, Marcos Valle começou a ser (re)descoberto no Brasil e no mundo, jamais perdendo a aura jovial que desmente os 80 anos festejados hoje.

FONTE :G1 ( POR MAURO FERREIRA)

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