Semana da Gastronomia Japonesa destaca força dos restaurantes japoneses
Realizado de 25 de outubro a 1º de novembro pela Associação Brasileira de Gastronomia Japonesa (ABGJ) com o objetivo de promover maior integração entre os associados, divulgar a diversidade da gastronomia japonesa, promover debates sobre a cadeia produtiva, promover o intercâmbio entre Brasil e Japão e incentivar estabelecimentos a se associarem, além de mostrar a importância em se ter uma associação forte e com representatividade, a segunda edição da Semana da Gastronomia Japonesa mostrou a força – e os desafios – do setor.
A cerimônia de abertura, no dia 28, reuniu, no salão nobre do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social –, no bairro da Liberdade, autoridades japonesas, representantes do setor e políticos, além de convidados. O Dispositivo de Honra foi formado pelo presidente da ABGJ, Marcelo Shiraishi; pela cônsul em exercício, Chiho Komuro; pelo vice-presidente do Bunkyo, Roberto Nishio (na ocasião representando o presidente da entidade, Renato Ishikawa); o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil); o vereador Rodrigo Hayashi Goulart (PSD); o diretor presidente da Jetro (Japan External Trade Organization), Hiroshi Hara; o presidente da Abrasel (Associação de Bares e Restaurantes), Luiz Hirata; o presidente interino da Japan House São Paulo, Carlos Roza e o representante do Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão, Daisuke Asano, além de apoiadores como o diretor do Escritório Regional de Marília, Walter Ihoshi e a delegada Raquel Kobashi Gallinati, diretora da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) do Brasil.
Na oportunidade, oito restaurantes tradicionais japoneses foram homenageados pelo Consulado Geral do Japão com a entrega do Diploma de Honra ao Mérito do Cônsul Geral do Japão em São Paulo (veja box).
Desafios – Marcelo Shiraishi iniciou sua fala com um comentário do executivo Ricardo Garrido, sócio da Companhia Tradicional de Comércio (CTC), “no qual ele diz que o segmento de restaurantes é um dos mais complexos que existe por unir as características de uma indústria – onde temos áreas de compras, produção, logística, estoques, inventários, etc –, e todas as características de uma prestadora de serviços”.
“Some a esta complexidade, resquícios da pandemia, como endividamento, alta absurda de insumos – principalmente proteínas – e um desafio enorme no que se refere a recursos humanos”, disse Shiraishi, que citou ainda os riscos que o setor corre com a nova reforma tributária e a taxa de desemprego no Estado de São Paulo, com cerca de 8,6 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.
Segundo ele, é por isso que “mais do que nunca faz sentido” continuar com o trabalho iniciado pela diretoria anterior, comandada pelo ex-presidente Flávio Nakaoka, e “seguir com nossos quatros objetivos”.
Ele lembrou que a ABGJ foi fundada em 2017 com os objetivos de “unir o segmento de restaurantes e trocar informações entre nós”; “atuar na cadeia de suprimentos”; “atuar em conjunto com as grandes entidades de classe” e, por fim, “desenvolver e promover um grande intercâmbio com o Japão”.
Reforma tributária – Marcelo Shiraishi citou um estudo inédito patrocinado pela Jetro e apresentado na Sea Food Show pela Galunion – um dos mais renomados institutos de pesquisas especializados em food service – que revela que o país conta hoje com cerca de 16.700 pontos de venda de estabelecimentos de culinária japonesa com um faturamento estimado em quase 13 bilhões de reais em 2022.
Sobre a atuação em conjunto com grandes entidades de classe, ele destacou as parcerias com a Abrasel, Associação Nacional de Restaurantes (ANR) e o Sindresbar – Sindicato de Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo e Região. E enfatizou a necessidade de “acompanhar de perto” o novo modelo de reforma tributária, tanto nos impostos quanto na tributação de dividendos”.
Dirigindo-se aos dois representantes políticos presentes na abertura, o presidente da ABGJ disse que “precisamos atuar juntos em defesa do segmento, que é um dos que mais emprega no país”.
Certificação – Kim Kataguiri destacou a importância do setor para a geração de emprego e renda para o país e explicou que a gastronomia japonesa exerce um papel fundamental para o estreitamento dos laços entre o Japão e o Brasil. O parlamentar frisou ainda que o “atendimento japonês” é destaque no mundo inteiro e se colocou à disposição do setor para “mudar o texto da reforma tributária”.
Como presidente da Comissão Extraordinária de Apoio ao Desenvolvimento do Turismo, do Lazer e da Gastronomia da Câmara Municipal de São Paulo, Rodrigo Goulart enfatizou a importância de eventos como a Semana da Gastronomia Japonesa para a cidade de São Paulo e aproveitou para a agradecer o Mofa (Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão) pelo convite que proporcionou sua participação no programa “Próxima Geração de Líderes Nikkeis” ao lado da professora de Manaus, Erika Tomioka, e do presidente da Associação Nipo-Brasileira de Goiás, Leonardo Massuda, além de representantes do México, Chile, Peru e Argentina.
Mão de obra – Já Luizinho Hirata salientou a importância do setor para a formação de mão de obra enquanto Carlos Roza lembrou que a gastronomia japonesa é um dos pilares mais importantes da Japan House São Paulo.
Hiroshi Hara explicou que a Jetro possui um sistema de apoio a restaurantes e estabelecimentos que comercializam produtos japoneses, concedendo a certificação de Supporter Stores. “No momento, temos o maior número de restaurantes apoiadores registrados em todo o mundo e continuaremos focados na promoção desta cultura milenar japonesa em conjunto com a ABGJ”, disse o diretor presidente da Jetro, órgão do governo japonês que tem como objetivo apoiar e promover o comércio bilateral entre o Japão e demais países, em especial nas áreas de produtos agrícolas e pesqueiros.
Ele citou, como exemplo, os Izakayas, mais conhecidos como botecos japoneses, “que também fazem parte da cultura gastronômica japonesa”. “Acredito que podemos difundir ainda mais a cultura japonesa através da gastronomia, principalmente reunindo esforços dos restaurantes e botecos japoneses”, afirmou Hara.
Espírito japonês – Finalizando a série de discursos, a cônsul em exercício, Chiho Komuro, frisou que a culinária japonesa tem se destacado “notavelmente e conquistado o mundo como uma cultura gastronômica que personifica o modo de vida e o espírito japonês”. “Por seu ‘respeito à natureza’, às estações do ano e seus alimento sazonais, tem atraído cada vez mais interesse e reconhecimento desde 2013, quando a Unesco reconheceu a culinária japonesa – washoku – como patrimônio cultural imaterial que deve ser respeitado e protegido para o futuro”, explicou a cônsul.
Diversidade – Segundo ela, no Brasil, onde a gastronomia japonesa conquistou o paladar e espaço no dia a dia dos brasileiros, não foi diferente. “Basta caminhar pela cidade de São Paulo para notarmos o grande número de restaurantes japoneses. Existem cerca de mil estabelecimentos somente na capital – alguns, inclusive, premiados com estrelas Michelin”, disse Komuro, acrescentando que “mesmo com a crescente difusão mundial, poucos países no mundo contam com essa quantidade e diversidade de restaurantes japoneses como o Brasil”.
“Acredito que isso é fruto do incansável esforço dos nipo-descendentes em preservar e transmitir a cultura gastronômica japonesa através de todos os seus benefícios e de sua beleza”, salientou a cônsul, que concluiu sua fala afirmando que o governo japonês considera a “difusão dos alimentos e da cultura gastronômica japonesa uma de suas importantes missões, e por isso valoriza profundamente tanto os esforços de todos aqueles que atuam no setor de culinária japonesa no Brasil”.
“Nesse sentido o Governo Japonês é muito grato pela realização da Semana da Gastronomia Japonesa e se coloca à disposição para somar esforços com o intuito de promover amplamente a culinária japonesa – inclusive para integrar elementos e ingredientes japoneses à cultura alimentar brasileira e na divulgação sobre seus benefícios para a saúde”, concluiu a cônsul Chiho Komuro.
Programação – Inaugurada com o jantar Nihon Meguri – um passeio pelas regiões do Japão a partir de suas especialidades –, na Japan House São Paulo, comandado pela chef Telma Shiraishi, do restaurante Aizomê, ao lado dos sake sommeliers Alexandre Iida e Yasmin Yonashiro e do chef confeiteiro César Yukio, a segunda edição da Semana da Gastroniomia Japonesa apresentou ainda um ciclo de palestras sobre empreendedorismo e gestão durante a feira Sea Food Sho e um workshop de confeitaria com 8 chefs nikkeis especialistas em confeitaria japonesa: Vivianne Wakuda, Mika Sakihama, Fábio Yamada, Karin Aki, Cris Sampei (NaNaYa), Melissa (Moti Confeitaria), Dekidin e Saiko Izawa (Rosewood).
A segunda edição da Semana foi encerrada com o jantar a história do sushi contada pelas mãos dos sushi shokunin (artesões) Toshi Kawanami (Yunagi), William Enokizono (Maza), Denis Watanabe (Watanabe), Leo Noriyuki (Noriyuki Sushibar), Adriano Nabeshima (Dondoh), Wdson Vaz (Sushi Vaz) e Menandro Rodrigues (Haru Sushi).
Izakayas – Um dos pontos altos da programação foi o Festival Izakaya Matsuri no Bunkyo com a participação dos melhores izakayas do Brasil, entre eles os tradicionais Yakitori, Omoide Sakaba, Jojo Ramen, Ihho, Otoshi, Sōzai Deli, Nombe Izakaya, Ikkousha, Cocoro, Ícone Asiático, The Oriental Izakaya, Kakurega e Gohango, além dos doces do Hanami e do NaNaYa.
(Aldo Shiguti)