Destaques do agro recebem homenagem na Câmara Municipal de São Paulo
Realizado no dia 01 de dezembro pelo Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – e Comissão Organizadora do Prêmio Kiyoshi Yamamoto, a Cerimônia de Outorga do 52º Prêmio Kiyoshi Yamamoto teve como palco o Plenário 1º de Maio da Câmara Municipal de São Paulo.
Desde que foi instituído, em 1965, pela Abeta (Associação Brasileira de Estudos Técnicos da Agricultura), com o intuito de homenagear as pessoas que, nas suas respectivas atividades agropecuárias, tenham contribuído de modo relevante para o desenvolvimento técnico e econômico da agricultura brasileira, foi a primeira vez que a cerimônia teve como palco a maior casa legislativa municipal do país. O convite partiu do vereador Aurélio Nomura.
Além do parlamentar, compuseram a Mesa o presidente do Bunkyo, Renato Ishikawa; o cônsul geral do Japão em São Paulo, Toru Shimizu; o representante da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, engenheiro agronônomo Diogenes Kassaoka; o representante da Jica (Japan International Agency Cooperation), Ryunosuke Kataoka; e o presidente da Fundação Kunito Miyasaka, Roberto Yoshihiro Nishio.
Homenageados – Este ano, foram indicados o engenheiro agrônomo Getúlio Mitsuhiro Minamihara e a bióloga Margarida Fumiko Ito.
Nascido em Assaí (PR), Getúlio Minamihara “saiu da zona de conforto” – conforme palavras do presidente da Comissão Bunkyo Rural Prêmio Kiyoshi Yamamoto, Nelson Kamitsuji – da produção de café commodity para se dedicar à produção de cafés especiais orgânicos no sistema biodinâmico.
Segundo Kamitsuji, “uma grande contribuição à cafeicultura brasileira, que, apesar de ser o maior produtor mundial de café, é conhecido como fornecedor de café commodities”. “Com a produção de cafés especiais surgindo aos poucos, o país está sendo reconhecido no mundo também como excelente produtor de cafés especiais”, explicou Kamitsuji.
Desafio – O homenageado, que compartilhou o Prêmio com familiares e amigos, fez um breve relato de sua trajetória até se tornar um produtor de café de altíssima qualidade – a Fazenda Minamihara foi a primeira da região da Alta Mogiana a obter um café com 90 pontos.
Segundo ele, um dos diferenciais é que o seu café é plantado à sombra dos abacateiros, que protege a plantação de microclimas e pragas. “Isso faz com o amadurecimento fique diferente, mais lento, com isso, a incidência de microclimas e de doença é menor. No final, a qualidade fica diferente”, explica, lembrando que seu pai, Isao Minamihara, foi parar na cidade de Franca em 1972 atraído pela doença da Ferrugem, que estava atacando os cafezais.
Excesso – “Ele foi conhecer a doença, acabou gostando de Franca e decidiu se mudar para lá. Na primeira safra de café, a gente colheu muito pouco, porém, em 1975, com a grande geada no Paraná, o preço de café que estava, em média, 40 dólares a safra antes da geada, chegou a quase 500 dólares. E foi isso que salvou a nossa família e fez com que nós sobrevivêssemos como cafeicultor”, conta, acrescentando que “tudo em excesso faz mal”.
Desafio –“E eu cometi esse mal de aplicar defensivos demais, o que fez com que minha lavoura começasse a definhar sem produzir. Foi aí que consegui mudar para agricultura renegativa e agricultura orgânica”, explicou Getúlio, que aproveitou para lançar um desafio para as autoridades: “Na hora de vender quem manda [no preço] são os compradores, não os grandes produtores. Tem alguma coisa errada. Nós deveríamos mandar no preço daquilo que a gente produz. Quem sabe a gente consegue ter uma receita bem maior do que a gente está vendo hoje”, disse ele, que finalizou agradecendo a família.
Pioneirismo – A outra homenageada, Dra Margarida Ito, nasceu em Lucélia (SP), é formada em Ciências Biológicas pela PUC Campinas e concluiu o mestrado e doutorado na Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) na área de Fitopatologia.
Ingressou no IAC (Instituo Agronômico de Campinas) em 1971, onde foi pioneira na criação de ciclos de palestras de Fitossanidade, levando importantes informações em fitossanidade, principalmente aos pequenos produtores de hortifrutis.
Além disso, foi diretora de dois Congressos Paulistas de Fitopatologia (15º e 19º), presidiu Seminários sobre pragas e doenças do feijoeiro, contribuindo nas discussões com o intuito de melhorar a produção de feijão com base na qualidade e sustentabilidade. Orientou alunos de mestrado e apresentou mais de 250 trabalhos em congressos.
Recém-aposentada mas ainda contribuindo para o desenvolvimento do agro, Margarida Ito disse que “fui muito feliz em desenvolver pesquisas em fitopatologia, pois pude contribuir com os resultados que proporcionam a sustentabilidade da agricultura, do meio ambiente, a proteção dos agricultores e trabalhadores rurais, com oferta de alimentos saudáveis e de boa qualidade”.
“Foi também gratificante ter orientado muitos alunos, contribuindo na boa formação dos jovens. Muitos deles encontram-se desenvolvendo importantes trabalhos no agro”, afirmou a pesquisadora que, emocionada, dedicou o prêmio ao seu filho Humberto, “que Deus o levou precocemente, mas está eternamente em nossos corações, e ao marido, também falecido, Umberto Shigueru, e aos filhos, Carla Yuri e Márcio Akira, netos, noras e genro”.
Homenagens especiais – Na ocasião, a Comissão Organizadora prestou duas homenagens especiais: à familia do Dr Kiyoshi Yamamoto, pelos 60 anos do seu falecimento, e para o engenheiro agrônomo Isidoro Yamanaka.
Segundo Nelson Kamistuji, “Dr. Kiyoshi Yamamoto foi uma grande figura da comunidade japonesa na época, foi um dos fundadores do Bunkyo – e seu primeiro presidente – , trouxe o Pavilhão Japonês para o Brasil, instalando no Parque Ibirapuera, fundou a Abeta, que foi a semente que fez surgir o Prêmio Kiyoshi Yamamoto”.
Já Isidoro Yamanaka, engenheiro agrônomo formado na Esalq, foi homenageado por sua brilhante contribuição ao intercâmbio Brasil-Japão, em especial a atuação em acordos de programas binacionais tais como Prodecer e Profir como assessor especial dos ministros Alyson Paolinelli e Roberto Rodrigues.
Esalqueanos – Em seu discurso, aliás, Nelson Kamitsuji, destacou que, com a realização da 52ª edição, o Prêmio atingiu 170 homenageados. E lembrou que, “sem ser ufanista, os quatro homenageados da noite tiveram passagem na gloriosa Esalq”.
O presidente do Bunkyo também exaltou a carreira dos quatro homenageados enquanto o cônsul geral do Japão em São Paulo lembrou que Isidoro Yamanaka foi agraciado pelo governo em 2010 com a Medalha da Ordem do Tesouro Sagrado de Raios de Ouro com Laço. Ele afirmou que todos os homenageados tiveram participações notáveis para o desenvolvimento da agricultura brasileira”.
Legado – Por fim, o vereador Aurélio Nomura salientou que a Câmara Municipal de São Paulo “é palco de votação de leis da nossa cidade e hoje tem o orgulho de receber, pela primeira vez, a cerimônia de entrega do Prêmio Kiyoshi Yamamoto”.
“Prêmio que nesta edição tem um significado muito especial pois marca também os 60 anos do falecimento do senhor Kiyoshi Yamamoto, esse grande personagem não só para a comunidade nikkei como também para o desenvolvimento da agricultura brasileira”, disse o parlamentar, que também parabenizou os dois premiados da noite.
“Cada um na sua área, preservam edão continuidade ao legado doDr. Kiyoshi Yamamoto, contribuindo com suas pesquisas acadêmicas para melhorar a agricultura brasileira, seja dando prosseguimento à tradição familiar seja buscando sempre o aprimoramento constante”.
E enalteceu a contribuição do engenheiro Isidoro Yamanaka, que desempenhou papel fundamental no relacionamento entre o Brasil e o Japão na área da agricultura”.
Sobre Kiyoshi Yamamoto, ele lembrou que “a família Nomura tem muita honra de fazer parte dessa bela e rica história que seu avô iniciou”, disse, referindo-se à neta de Kiyoshi Yamamoto, Marta, que recebeu o prêmio dedicado ao avô.
Continuou o vereador: “A história da Fazenda da Tozan resgata para mim o tempo do meu avô, Hidekichi Nomura, que ali prestou os serviços de agrimensor para estabelecer os limites das terras da fazenda, enquanto o meu pai, o ex-deputado Diogo Nomura, ainda criança, buscava brincar nos jardins da sede. Além disso, o meu tio Fujiwara foi administrador da Fazenda durante muitos anos e eu tive a oportunidade de passar várias férias na fazenda Tozan”, disse Aurélio Nomura.
Memória – Segundo o vereador, “são muitas as contribuições de Kiyoshi Yamamoto para o desenvolvimento não, só da agricultura brasileira, como também para a comunidade japonesa, exercendo um papel fundamental de assimilação, de integração dos imigrantes e reconhecimento social pela sociedade brasileira”.
Por fim, Nomura parabenizou o Bunkyo por meio da Comissão do Bunkyo Rural Prêmio Kiyoshi Yamamoto, que assumiu e deu continuidade a essa premiação “que notabiliza os homenageados e preserva a memória de um dos grandes personagens da nossa história dos japoneses no nosso país”.
(Aldo Shiguti)