Com um ‘até breve’, Masayuki Eguchi se despede do país e apresenta seu sucessor
Como seu último “desafio” como representante chefe da Jica (Japan International Cooperation Agency) Brasil, Masayuki Eguchi cantou pela primeira em público. A música “Arigatou, Kansha” (Obrigado, Gratidão), grande sucesso na voz do cantor Shoji Koganezawa, foi a forma que encontrou para se despedir da comunidade nipo-brasileira. Foi aplaudido de pé pelos convidados que prestigiaram a cerimônia realizada nesta segunda-feira (25), no Salão Nobre do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – e que serviu também para dar boas-vindas ao seu sucessor, Akihiro Miyazaki.
Estiveram presentes o presidente do Bunkyo, Renato Ishikawa; a cônsul geral Adjunta do Japão em São Paulo, Chiho Komuro; a representante sênior da Jica, Reiko Kawamura, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, Yuki Kodera; o presidente da Enkyo – Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo – Paulo Saita; o presidente da Kenren – Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil – Toshio Ichikawa; e o presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão, Eduardo Yoshida, além de presidentes das principais entidades e associações da comunidade nikkei.
Fez a diferença – Em seu discurso, Renato Ishikawa disse que, nesses período que esteve no Brasil como representante chefe do escritório da Jica, Masayuki Eguchi “fez a diferença e deu maior visibilidade à agência japonesa”. Nós já éramos um grande admirador e agora vemos a Jica com maior carinho e amor e ainda com mais respeito após sua gestão”, disse Ichikawa, afirmando que, “pessoalmente, sempre defendeu que as ações da Jica fossem mais divulgadas”.
“Talvez para os representantes dessas instituições japonesas que retornam ao seu país de origem, esse momento pode ser um alívio para eles, um sentimento talvez de dever público, mas para nós fica uma sensação de vazio, que se somam à preocupação em estabelecer novos laços com o novo presidente que assume”, disse o presidente do Bunkyo, explicando que “ o mais importante de todas as atividades é o laço humano, a amizade, que vai ser fundamental para o relacionamento maior entre os dois países”.
Aliado – Destacou que o representante chefe da Jica foi um importante aliado não só do Bunkyo como também da comunidade de forma geral. Renato Ishikawa lembrou que, “em momentos cruciais, como a atividade decorrente da pandemia de 2019, Masayuki Eguchi buscou, juntamente com sua instituição, alternativas para amenizar nossos problemas”.
E finalizou desejando sucesso em sua nova empreitada.
Ansiedade – Em sua saudação, Akihiro Miyazaki explicou que chegou há poucos dias e que é a primeira vez que trabalha no Brasil. Falando em português, apesar de recém-chegado, disse que “há muitas coisas que não sei sobre o Brasil e sobre a cultura, mas espero fazer o melhor para o Brasil e para o Japão”.
Em particular, destacou que está ansioso para trabalhar com a comunidade nikkei, “onde acredito que podemos desenvolver ainda mais a relação de atividade de cooperação”. “Além disso, em nossa corporação no Brasil, gostaríamos de usar a tecnologia e a excelência do Japão para criar projetos dos quais possamos nos orgulhar como japoneses”. Ele lembrou que o Brasil assumiu a presidência do G20 e sediará a reunião de cúpula este ano e também receberá a COP30.
“Será um período que atrairá muita atenção em todo o mundo. Vemos como uma grande oportunidade para o país bem como para a comunidade nikkei e gostaríamos de aproveitar ao máximo. Esperemos poder contar com a habitual atenção e apoio de todos para nossas atividades”, disse.
Retrospectiva – Em seu discurso de despedida, Masayuki Eguchi fez uma retrospectiva dos três anos e três meses em que esteve à frente da Jica Brasil. Lembrou que chegou em 2021, durante o pico da pandemia e que no primeiro ano “sempre levava duas coisas: máscara e álcool gel “mais de 70%”.
Disse que, como atleta, completou treze maratonas completas de 42 quilômetros no Brasil. Sobre a tradicional corrida de São Silvestre de 15 quilômetros, em São Paulo, que participou no ano passado, lembrou que foi a 98ª de sua história.” Se não tivesse sido interrompida pela pandemia da Covid-19, teria sido a de número cem”, disse, explicando que, em janeiro deste ano, o Escritório de Jica Brasil começou o Instagram, graças ao apoio da Reiko Kawamura, tornando-se o primeiro escritório da Jica no exterior a usar a ferramenta.
Homenagens – Destacou ainda que em fevereiro passado, a Jica assinou pela primeira vez um memorando abrangente de cooperação com três organizações nikkeis no Brasil (Bunkyo, Kenren e Enkyo). Segundo Eguchi, “foi uma forte manifestação de intenção da Jica de promover a cooperação com a comunidade nikikei”. Em sua retrospectiva, citou que, pela primeira vez a Jica homenageou os hospitais nikkeis que lutaram durante a pandemia: o Hospital Japonês Santa Cruz, o Hospital Nipo-Brasileiro (Enkyo), o Hospital SBC e o Hospital da Amazônia.
“Homenageei as entidades nikkeis de assistência social que há muito tempo apoiam as pessoas deficientes e vulneráveis: a Kodomo no Sono, a Kibô no Iê, o projeto Pipa e o Ikoi no Sono. Homenageei a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social (Bunkyo), que está liderando a revitalização dos Bunkyos em todo o Brasil e o Museu Histórico da Imigração Japonesa, que desempenha um papel importante na divulgação da história da imigração nikkei no Brasil”, disse Eguchi, acrescentando que, “embora existam mais entidades que deveriam ter sido elogiadas, esses prêmios devem ser entendidos como símbolo representativo de minha gratidão e torcida a outras entidades nikkeis”.
130 projetos – Como representante chefe da Jica no Brasil “e não como representante apenas de São Paulo”, ele explica que procurou participar do maior número possível eventos nikkeis em todo território brasileiro. “Mas também gostaria de aproveitar esta ocasião para pedir desculpas por não ter podido comparecer a todos os convites”, salientou Eguchi, acrescentando que conseguiu apoiar muitas entidades nikkeis com mais de 130 projetos de subsídios em resposta às dificuldades causadas pela pandemia.
Vídeo – Ele lembrou também que a partir de janeiro deste ano, pela primeira vez, o Museu de Imigração Japonesa começou a exibir um vídeo sobre o trabalho da Jica no Brasil. “Apesar da Jica ter desempenhado um papel relevante na história nikkei do Brasil, não havia ainda nenhuma menção à Jica no Museu. Acredito que seria benéfico para a comunidade nipo-brasileira se o público em geral que visita o Museu da Imigração tomasse conhecimento da contribuição da Jica para a sociedade brasileira”, ponderou Eguchi, que agradeceu a contribuição e apoio da presidente da Comissão de Administração do MHIJB, Lídia Yamashita.
Rio Tietê – Como oitavo destaque de sua retrospectiva, Masayuki Eguchi conta que recentemente participou de pré-plantio comemorativo de cerejeira no Parque Ecológico na margem do rio Tietê para comemorar o projeto de combate a enchentes no rio Tietê com a cooperação financeira do Japão.
“Desde que cheguei a São Paulo, ouvi várias vezes que esse fato não é conhecido pela população em geral”, disse, afirmando que, futuramente, a ideia é plantar no mesmo local 150 árvores, incluindo 50 cerejeiras doadas pelo Bunkyo.
Desafio – Para Eguchi, inovação hoje é “uma palavra-chave no mundo”. “Mas a inovação não cai do céu e acredito que a criação possa vir mais através do diálogo. Também acredito que a experiência da pandemia da Covid-19 nos fez reconhecer a importância das oportunidades de conversas presenciais. O vídeo do Museu e o plantio de cerejeiras no parque ecológico são exemplos”, disse Masayuki Eguchi, que finalizou seu discurso citando uma frase do ex-lutador de luta livre Antonio Inoki que, ao se aposentar dos ringues disse: ‘A pessoa envelhece quando desiste de desafiar’”.
“Desejo que a comunidade nipo-brasileira, juntamente com a Jica, continue sempre desafiando e vivendo brilhantemente”, concluiu Masayuki Eguchi, que recebeu uma homenagem do Bunkyo em nome de todas as entidades nikkeis e também ganhou uma lembrança da presidente da Comissão de Arte Koguei do Bunkyo e esposa do presidente Renato Ishikawa, a artista plástica Olga Ishida. Trata-se de duas peças de cerâmicas produzidas por Masayuki Eguchi e sua esposa, Yoshiko, durante visita do casal ao ateliê de Olga Ishida, na Fazenda Aliança, no município de São João da Boa Vista, região Mogiana do Estado de São Paulo.
Retorno – Ao jornal Nippon Já, Masayuki Eguchi disse que já estava sentindo saudades. “O Brasil foi um grande país e que recebeu e recebe todos os povos de braços abertos e, em contrapartida, os pioneiros fizeram muitos esforços para se integrarem. Aprendi muito sobre a história e admiro o esforço do passado e ainda mais a luta da comunidade nipo-brasileira. Podem ter certeza de que continuarei torcendo para essa evolução”, destacou Eguchi, afirmando que gostaria de voltar ao Brasil um dia para acompanhar essa evolução. E também para voltar a correr maratona por aqui.
(Aldo Shiguti)