Segundo ano de capacitações de brigadas civis no Pantanal chega ao fim
A atual agenda de prevenção e combate a queimadas do WWF-Brasil nasceu em 2019, em resposta à escalada de incêndios florestais na Amazônia. Em 2020, com as chamas devastando também o Pantanal, a organização reforçou o investimento em projetos de brigadas comunitárias no bioma. Em diversos pontos do país, seja na Amazônia ou no Pantanal, não há unidades do Corpo de Bombeiros e são voluntários os primeiros a chegar para combater o fogo, ajudando a evitar que se espalhem e tomem grandes proporções. Desde 2020, 12 brigadas foram capacitadas em Mato Grosso do Sul, com 89 brigadistas no total. As comunidades treinadas são as de locais com maior incidência de queimadas.
No ano passado, o fogo consumiu 40.606 km2 do Pantanal brasileiro, o equivalente a 27% do bioma, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), batendo o recorde de área queimada. Em 2021, graças também à maior incidência de chuvas no período seco, a área impactada pelas chamas caiu 63%. Mas não há motivos para relaxar: 18.576 km2 – ou 12% do bioma – foram queimados de janeiro a outubro.
Os treinamentos das brigadas civis são fruto de parcerias entre o WWF-Brasil e organizações locais, como a Ecoa e o Prevfogo (Ibama-MS); e internacionais, com o apoio financeiro do Consulado da Alemanha em São Paulo. Em 2021, além de capacitações, foram doados 735 itens de combate ao fogo, como sopradores, abafadores e lança-jatos, assim como equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, balaclavas e óculos.
“As brigadas comunitárias têm um papel fundamental na mudança de comportamento de seus pares, do entorno. Elas estão estrategicamente inseridas onde, geralmente, o fogo tem sido constante desde 2019”, diz Andre Luiz Rosa, da Ecoa. “Esperamos mudanças profundas em médio prazo.”
Dentre as brigadas capacitadas em 2021 há, por exemplo, um grupo de mulheres da comunidade de Paraguai-Mirim, a três horas de Corumbá; indígenas das aldeias Lalima (Miranda/MS) e Mãe Terra (Miranda/MS); além de integrantes da Apaim (Associação de Pescadores Profissionais de Iscas de Miranda) e das comunidades Antonio Maria Coelho e São Francisco, ambas de Corumbá (MS).
“A gente compartilha a nossa experiência, o que funciona e aquilo que não funciona. Multiplicando os conhecimentos, acredito que a gente vai ter uma efetividade bem maior no controle dos focos de fogo”, afirma Ruberval Patrocínio, chefe da brigada Prevfogo (Ibama-MS). “As brigadas comunitárias estão mais próximas das comunidades, têm melhor tempo de resposta. Podem iniciar o combate até a chegada de uma equipe mais especializada”.
Em 2020, as brigadas treinadas foram compostas por pessoas da aldeia Brejão (Nioaque/MS); da Apaim, que moram no início da estrada Parque Pantanal Sul, em Miranda; do Assentamento 72 (Ladário/MS), de Porto Esperança (Corumbá/MS) e Barra do São Lourenço/Porto Amolar (Corumbá/MS). No ano passado, também foi feita a doação de kits para sete brigadistas, contendo EPIs e ferramentas de combate ao fogo, para atuação no Parque Estadual Nascentes do Taquari (Coxim/MS).
“As demandas, muitas vezes, vêm das próprias comunidades. São elas que estão sofrendo os impactos econômicos e ambientais”, explica Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação e líder do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil. “Algumas comunidades são agroextrativistas e dependem de espécies de palmeiras, como a bocaiuva, no caso da comunidade Antônio Maria Coelho, onde o fogo queimou grande parte da área de onde eles extraem esse fruto”.
O projeto de treinamento de brigadas civis no Pantanal, foi iniciado em setembro de 2020, como estratégia de resposta emergencial no bioma e contou ainda com a doação de equipamentos. O projeto é desenhado com o olhar de organizações locais, como a Ecoa, e para subsidiar a população que, geralmente vive distante de centros urbanos, para o combate inicial ao fogo nos territórios.
FONTE: WWF BRASIL