Pautas indígenas e de mulheres em evidência na SOBRE2024
Por Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE)
No terceiro dia da SOBRE2024, a conferência acolheu atividades do I Encontro Indígena de Restauração Ecológica (I EIRE). O evento, que reúne 60 indígenas de diferentes regiões do Brasil, é uma oportunidade para troca de experiências sobre conhecimentos e práticas de restauração ecológica em territórios indígenas.
A “SOBRE +10: O Futuro da Restauração – V Conferência Nacional de Restauração Ecológica” é promovida a cada dois anos pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) e nesta edição ocorre em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), com apoio do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).
Entre as atividades em pauta no I EIRE, estão as ações de plantio de mudas e sementes, coleta de sementes, produção de mudas e trocas ou vendas de sementes e mudas de plantas nativas para restauração e iniciativas relacionadas à agrofloresta e à agroecologia.
A engenheira florestal Cecília Pires, da coordenação de Conservação em Recuperação Ambiental da Funai, relata que o encontro aconteceu anteriormente de forma virtual, por causa da pandemia de Covid 19. “Foi frustrante porque tínhamos expectativa de um encontro presencial, que foi possível agora na SOBRE2024. Certamente, ao fim do evento, serão formadas muitas redes de contatos e projetos entre os restauradores indígenas”, diz.
Bárbara Tupinikim, uma das indígenas participantes do encontro, veio em busca da troca de experiências sobre restauração ecológica na perspectiva da soberania e segurança alimentar.
Ela é engenheira florestal e responde pela parte técnica da CoopYagua, mas também está à frente de um projeto mais pessoal, o “Florestas de Comida”, por meio do qual está pesquisando e levantando dados para promover soberania alimentar para a sua comunidade. “Ainda não temos recursos para financiar o projeto, mas é uma iniciativa minha para voltar a ter esperança”, conta.
Em quatro anos, Bárbara já reuniu dados suficientes para subsidiar a replicação do projeto. Sobre o EIRE, ela analisa que tem sido uma oportunidade importante de formação de uma rede de experiência e vivência entre restauradores indígenas, para criar modelos de resiliência para cada território específico e assim ter efetividade na restauração.
Resiliência feminina
Na terça-feira (9 de julho), a SOBRE2024 recebeu o simpósio “Resiliência feminina: futuro das mulheres na restauração ecológica”, com moderação de Carolina Sousa Marcial e participação de Viviane Dib, que falou sobre “Oportunidades e desafios na recuperação da vegetação nativa: impactos socioeconômicos e promoção da equidade de gênero”. Além disso, o simpósio abriu espaço para relatos de mulheres com experiências à frente da coleta de sementes e restauração ecológica.
Inclusão e empoderamento
Fabricia Santarem Costa, da Rede de Coletores Geraizeiros, expôs sobre o tema “Inclusão e empoderamento: mulheres em diferentes atuações dentro da cadeia produtiva da restauração”. Coletora e restauradora na região do Cerrado, ela também participa da coordenação do Araticum e do comitê gestor do Redário.
A Rede foca o trabalho na coleta de sementes do Cerrado e recuperação de áreas degradadas. A formalização em 2021 trouxe ao coletivo a organização para alcançar os resultados atuais: comercialização de 3 toneladas de sementes, área de 25 hectares em processo de implementação e 30 coletores gerando renda de R$2 mil a R$3 mil por ano.
A cooperativa é formada essencialmente por mulheres e o trabalho é focado em ação inclusiva e integrada, com participação da comunidade em todas as etapas.
“Ocupar esses espaços é bem importante para mim e me sinto bem por inspirar outras mulheres”, diz ela, que aponta a desigualdade de gênero como um desafio a ser superado. “É preciso permitir que mulheres participem das tomadas de decisões. Não queremos só fazer doce e biscoito, isso também é importante, mas queremos ir além”, conclama.
Guardiãs da natureza
Ana Paula Moraes Soares trouxe sua experiência na fala “Guardiãs da natureza: o impacto da liderança feminina na coleta de sementes e meliponicultura”. Ela é presidente da Rede de Sementes Tupygua, com atuação na área de Mata Atlântica em Aracruz, no Espírito Santo. Indígena tupinikim, Ana falou em nome dos 60 coletores da cooperativa, formada por 90% de mulheres.
Desde 2018, quando houve uma retomada do grupo após período de desmobilização, a cooperativa já coletou 14 toneladas de sementes que são vendidas para restauração ecológica.
Na fala para a plateia da SOBRE2024, Ana Paula cobrou oportunidades. Precisamos de demanda e capacitação, inclusive para nos tornarmos gestoras. Nós mulheres temos que caber onde queremos e não onde as pessoas nos veem”, pediu.
Mulheres na cadeia da restauração
“Inclusão e empoderamento: mulheres em diferentes atuações dentro da cadeia produtiva da restauração” foi o tema abordado por Elida Martins Aivi, agricultora e coletora em Bonito, no Mato Grosso do Sul, que relatou sua experiência com as sementes de baru.
“Sou guardiã de sementes ancestrais, vivo na floresta com muita abundância e tenho orgulho de ser mulher”, afirmou, complementando: “As mulheres podem coletar e trabalhar, mas precisam ser mais valorizadas, recebendo mais apoio e a mesma remuneração que os homens pelo trabalho”, pede.
A SOBRE2024 acontece de 8 a 12 de julho em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e conta com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
FONTE: WWF BRASIL