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Negociações climáticas em Bonn preparam o cenário para a COP30 no Brasil

Implementação do Balanço Global do Acordo de Paris, adaptação climática, transição justa e financiamento estarão no centro das negociações interseccionais de 16 a 26 de junho

Negociadores climáticos dos mais de 190 países que ratificaram a Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) se reúnem em Bonn, na Alemanha, para dar início à temporada de negociações climáticas que deve culminar em novembro, na 30ª Conferência das Partes (COP30), que acontecerá em Belém.  O encontro (SB62), que irá ocorrer do dia 16 ao dia 26 de junho, é um importante passo preparatório para o sucesso da COP30.  

Embora não traga decisões finais, a reunião em Bonn é estratégica para que Belém alcance seus objetivos de implementação do Balanço Global, que reafirmou  os compromissos globais de combate à mudança climática acordados em 2015 na COP de Paris. Ao contrário de conferências  anteriores que estavam focadas na regulamentação, a COP30 é a primeira que tem como objetivo principal a implementação do Acordo de Paris.

“Bonn é uma etapa estratégica para pavimentar o caminho até a COP30. Para que a conferência no Brasil seja um marco na implementação do Acordo de Paris e catalise a ação climática global, é essencial que os países avancem agora em temas como adaptação, financiamento e transição justa. O Brasil pode ajudar a construir pontes e promover diálogos construtivos, mas o sucesso da COP30 dependerá do engajamento coletivo e da ambição de todos”, afirma Alexandre Prado, líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil. 

Além de sinalizar os temas prioritários na COP30, a intersessional de Bonn é também um termômetro das discussões climáticas, que este ano acontecem em um cenário geopolítico desafiador. Além da guerra na Ucrânia, que ainda persiste e que influenciou as negociações da COP29, a COP de Belém será a primeira após o anúncio da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Nesse contexto, Bonn poderá revelar como os países irão se posicionar. Sobre esse ponto, Tatiana Oliveira, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, lembra que “as negociações climáticas têm mostrado uma resiliência impressionante, que não é alcançada por outros fóruns globais. Os Estados Unidos já se recusaram a assinar o Protocolo de Quioto e já saíram do Acordo de Paris. Apesar disso, as  negociações e a ação climática global avançaram e fizeram com que conseguíssemos sair da rota para uma temperatura média global quatro graus acima dos níveis pré-industriais no final deste século, que era a rota em que nos encontrávamos. Ainda nos resta um longo caminho até alcançarmos a meta do Acordo de Paris, mas o histórico das negociações nos deixa otimistas que Belém poderá fazer a diferença”, ressalta.
A discussão sobre a adaptação às mudanças climáticas deverá ter um lugar de destaque nas negociações de Bonn. Especialistas têm trabalhado para refinar os indicadores que ajudarão os países a implementar e relatar suas ações de adaptação em nível nacional. Esses indicadores serão cruciais para medir o progresso em relação ao objetivo global de adaptação estabelecido no Acordo de Paris. 

Outro assunto relevante será a descarbonização em setores da economia, com o abandono gradual dos combustíveis fósseis e a eliminação do desmatamento e da degradação florestal, ambos acordados na COP 28 em Dubai e cruciais para a mitigação das mudanças climáticas. Estas temáticas estão no centro das discussões da COP30, conforme indicado na terceira carta da Presidência, divulgada semanas antes da conferência de Bonn. Essa inclusão representa um sinal importante, especialmente por preceder a reunião em Bonn.

Nesse contexto, os debates em Bonn ganham ainda mais relevância, ao representarem um momento-chave para alinhar expectativas e definir direções concretas rumo à COP30. “Em Bonn, precisamos consolidar o caminho para que a COP30 traga resultados efetivos na implementação do Balanço Global (GST) do Acordo de Paris. Será também a oportunidade para que as partes reafirmem o papel do multilateralismo no enfrentamento à crise climática, pensando caminhos e soluções em diálogo com a sociedade civil”, afirma Tatiana. 

Temas para ficar de olho

O WWF-Brasil destaca os seguintes temas entre os que serão debatidos em Bonn:

  • Balanço Global (GST): Os países devem impulsionar a implementação do resultado do balanço global, alinhando suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) com o que a ciência indica ser necessário, dentre estas: 
     
  • Eliminação de combustíveis fósseis e transição energética justa: É fundamental chegar a um caminho  para acelerar as ações necessárias para  o abandono dos combustíveis fósseis, juntamente com a ampliação da eficiência energética e das energias renováveis
     
  • Eliminação do desmatamento e a conservação da biodiversidade: As negociações devem avançar em um pacote de medidas para acabar com o desmatamento e a conversão de ecossistemas, implementando os compromissos do resultado do inventário global.
     
  • Financiamento climático: Bonn deve priorizar o “Roteiro de Baku a Belém para US$ 1,3 trilhão”, buscando um plano de ação claro com responsabilidades e metas anuais para ampliar o financiamento climático entre agora e 2035. Isso inclui garantir financiamento adequado para o fundo de resposta a perdas e danos e identificar novas fontes de financiamento.
     
  • Transição Justa: As pautas de justiça social, inclusão de grupos vulneráveis e transições justas vêm ganhando destaque crescente na agenda climática global, refletindo-se também nas esferas nacionais e locais de implementação. Assumindo a liderança da COP30, o Brasil propôs diversas ações voltadas à ampliação da participação de vozes historicamente marginalizadas. Durante Bonn, está programado o diálogo anual da Plataforma dos Povos Indígenas e Comunidades Locais (LCIPP, na sigla em inglês), com foco na promoção de uma participação ética e justa desses grupos na definição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
     
  • Adaptação: A versão consolidada dos indicadores de adaptação — com foco em áreas como saúde, recursos hídricos e ecossistemas — será apresentada e debatida entre os países pela primeira vez durante a conferência de Bonn, tendo a COP30 como prazo final para sua validação. 

FONTE: WWF BRASIL

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