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Águas de Zé Renato correm limpas na fluência de álbum que expõe questões ambientais para crianças

Águas de Zé Renato correm limpas na fluência de álbum que expõe questões ambientais para crianças

Resenha de álbum

Título: Água pras crianças

Artista: Zé Renato & convidados (Coro Instituto Sabendo Mais, Geraldo Azevedo, Lenine, Marina Iris e Pedro Luís)

Edição: Selo Sesc

Cotação: * * * *

♪ Com sede de educar as crianças através da música, Zé Renato apresenta o terceiro álbum da discografia do artista para o público infantil. Editado estrategicamente nesta terça-feira, 12 de outubro, Dia das Crianças, o álbum Água pras crianças começou a ser gestado em 2007 a partir da preocupação do artista com os danos causados a rios e mares pela poluição e o aquecimento global.

“Papai, cuidado se não vai acabar a água do mundo”, avisou na época o filho do cantor, Benjamim, então com quatro anos, enquanto o artista se barbeava com a torneira aberta.

O alerta pueril e bem-intencionado do menino sedimentou em Zé Renato a ideia do disco, esboçado com registros seminais em 2010, mas efetivamente gravado entre fevereiro e (o início de) março de 2020, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), pouco antes de a pandemia chegar ao Brasil e impor o fechamento de palcos e estúdios de gravação.

Ao longo dessa década de maturação do álbum, Zé Renato amealhou parceiros letristas – Flavia Ventura Tygel, Ivan Santos, J. Velloso, Joyce Moreno, Juca Filho, Paulinho Moska, Paulo César Pinheiro e Zélia Duncan – e deu forma a um cancioneiro autoral que procurou traduzir as questões ambientais para o universo infantil sem cair no irritante tatibitate de alguns discos do gênero.

Os temas e os ritmos são diversos – mérito tanto dos letristas quando de Zé Renato, criador dos arranjos e diretor musical do álbum, valorizado pela vozes infantis do Coro Instituto Sabendo Mais, arregimentado na escola Nova Holanda da Maré.

Recorrente ao longo das dez músicas do álbum Água pras crianças, o coro infantil potencializa a pureza do repertório e dar ar lúdico ao disco. Mas de nada adiantaria tudo isso se a safra aquática de Zé Renato não fosse de bom nível.

Zé Renato, Lenine e as crianças do Coro Instituto Sabendo Mais na gravação da música 'Queimada' — Foto: Philippe Leon / Divulgação

Zé Renato, Lenine e as crianças do Coro Instituto Sabendo Mais na gravação da música ‘Queimada’ — Foto: Philippe Leon / Divulgação

As nossas águas vão rolar (Zé Renato e Zélia Duncan) lembra, na levada do reggae, que as águas do Brasil eram azuis quando o país foi descoberto por Portugal. Músico convidado, Mu Carvalho toca piano, marimba, órgão e cordas na faixa.

Música apresentada como single em 1º de outubro, Pra chover mais peixe (Zé Renato e Pedro Luís) defende a maré cheia de cardumes com a voz adicional de Pedro Luís e a parede armada com leveza por Yuri Queiroga (beat, samplers, percussão, synth, baixo e guitarra).

Gota (Zé Renato e J. Velloso) segue a cadência bonita do samba, com a participação de Marina Íris, para lembrar que rios como o Velho Chico podem não resistir aos maus tratos ambientais.

Em seara nordestina, Geraldo Azevedo mergulha com leveza na Ciranda das águas (Zé Renato e Paulo César Pinheiro) com o sopro dos trompetes de Aquiles Moraes e do trombone de Everson Moraes. Já a aridez de Queimada é potencializada pelo canto de Lenine, parceiro e convidado de Zé Renato na faixa.

Com o toque da guitarra slide de João Pedro Moschkovich, Pra natureza recomeçar (Zé Renato e Paulinho Moska) expõe o ciclo das águas no meio ambiente. Introduzida por solo vocal da menina Gabrielle Rocha, integrante do Coro Instituto Sabendo Mais, Cada gota é um tesouro (Zé Renato e Juca Filho) faz chover certa melancolia no mar com o toque da sanfona de Marcelo Caldi.

Zé Renato, Pedro Luís e o coro infantil do Instituto Sabendo Mais na gravação de 'Pra chover mais peixe' — Foto: Phillippe Leon / Divulgação

Zé Renato, Pedro Luís e o coro infantil do Instituto Sabendo Mais na gravação de ‘Pra chover mais peixe’ — Foto: Phillippe Leon / Divulgação

Cantor notabilizado pela excelência da afinação e da emissão, Zé Renato abre mão do protagonismo vocal no disco em favor das dez crianças do coro.

Contudo, o canto do artista – de voz já qualificada como “aquática” no delírio poético de Hermínio Bello de Carvalho – é exposto com toda a beleza na primeira metade de Partida (Zé Renato e Flavia Ventura Tygel), música mergulhada em lirismo marítimo.

Já apresentada por Zé Renato há dez anos no álbum Breves minutos (2011), mas composta para o disco infantil, Água pra quê? (Zé Renato e Juca Filho) é rebobinada em Água pras crianças, álbum encerrado com De onde é teu navio? (Zé Renato e Joyce Moreno).

O mundo pode estar poluído, mas as águas de Zé Renato são claras e limpas, correndo fluentes neste disco que respeita a inteligência infantil e que, indo além do (necessário) panfleto em favor do meio ambiente, emerge enfim no mundo com música de qualidade tão boa quanto as intenções do artista.

FONTE:G1(POR MAURO FERREIRA)

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