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Jovens se mobilizam contra ataques à Resex Chico Mendes, símbolo da luta ambientalista

Símbolo da luta ambientalista no Brasil, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes está sob ataque. Retrocessos legislativos, a omissão do poder público e a pressão de setores ruralistas estão impulsionando invasões e trazendo de volta – com força total – os conflitos pela terra que pareciam ter cessado há quase 30 anos, quando foi criada a reserva. 

O desmatamento e as queimadas explodiram nos últimos três anos, enquanto o extrativismo das populações tradicionais rapidamente perde espaço para a criação de gado. Nesse cenário crítico, enquanto a frustração desilude os moradores mais antigos e leva parte da nova geração a trocar o extrativismo pelas cidades, jovens da região se unem na luta para deter a destruição e preservar o legado de Chico Mendes.

Um grupo de lideranças locais formou o Núcleo Jovem do Comitê Chico Mendes, que inspirado pelo legado do ecologista assassinado em 1988, trabalha para reverter tanto a devastação e as invasões na Resex como o êxodo dos extrativistas, pressionados pela expansão da pecuária.

Para esses jovens, a guerra cultural movida pelos apoiadores do governo Bolsonaro também contribui para a extrema pressão sobre a reserva. Destruí-la seria também uma forma de apagar a memória de Chico Mendes, riscando do mapa seu importante legado socioambiental. 

Ataque legislativo
Os desafios no território, porém, vão muito além da dimensão simbólica. Uma das ameaças mais concretas enfrentadas pela juventude da Resex Chico Mendes é o Projeto de Lei 6024, apresentado no fim de 2019 pela deputada Mara Rocha (PSDB). O projeto não apenas reduzirá em 222 km2 a reserva de 9.705 km2, mas também permitirá a regularização de terras de grileiros e invasores. 

O núcleo jovem se uniu em uma campanha contra o PL que, segundo eles, mesmo antes de ser aprovado, gerou uma corrida por terras e estimulou o aumento das invasões, com suas principais consequências: o aumento vertiginoso das queimadas e do desmatamento. 

Os dados não deixam dúvidas de que a Resex Chico Mendes está sob ataque. Tanto o número de queimadas como o total de área desmatada apresentaram tendência de aumento a partir de 2019 – primeiro ano da atual gestão federal. O número de queimadas teve um aumento pronunciado em 2020 e 2021, enquanto a área desmatada atingiu patamares nunca vistos entre 2019 e 2021.

Queimadas
A Resex Chico Mendes é atualmente a segunda Unidade de Conservação (UC) com mais queimadas em toda a Amazônia, perdendo apenas para a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, uma reserva estadual do Pará. Entre as UCs Federais, é a mais desmatada de todas.

Entre 1 de janeiro e 7 de dezembro de 2021, a reserva concentrou 29,2% de todos os incêndios registrados em UCs Federais na Amazônia Legal. Nesse período, foram registrados 1.142 focos de queimadas dentro da reserva.

Entre 2012 e 2018, o número de queimadas no interior da Resex aumentou gradualmente, com uma média de 584 focos por ano. Em 2019, foi registrado o maior valor da série até então, com 861 focos. Em 2020 o aumento foi mais pronunciado: 1.127 focos de queimadas na área protegida. Em 2021, com 1.142 focos até o dia 7 de dezembro, um novo recorde já foi atingido.

Desmatamento
O desmatamento também deu um salto nos últimos dois anos na Resex Chico Mendes. Segundo os dados do PRODES, dos 11 anos entre 2008 e 2018, a média anual era de 15,25 km2 de corte raso dentro da reserva. Em 2019 foram desmatados 75,87 km2 e, em 2020, 59,17 km2. Em 2021, foram devastados 83,8 km2  no interior da Resex. 

De acordo com os moradores locais, o aumento das queimadas e do desmatamento estão conectados à presença cada vez maior de invasores ligados à atividade pecuária na área da Resex. Se em 2010 havia 2.076 famílias morando ali, hoje a estimativa é que já sejam mais de 3 mil – em grande parte sem nenhuma relação com o extrativismo.

Invasões e êxodo
A presença de pessoas atraídas pela criação de gado foi estimulada por vários fatores, incluindo o aumento dos preços da carne, a expectativa de aprovação do PL 6024 e o explícito apoio do governo federal a infratores ambientais. Esse fluxo já transformou a região da Resex em um dos principais pólos exportadores de bovinos para os estados vizinhos. 

Esses fatores de pressão também levam a um êxodo dos extrativistas: sem estímulo, ameaçados e pressionados, moradores tradicionais abandonam a extração de látex e castanha e transferem suas terras para terceiros. 

Nesse contexto, muitos dos moradores mais velhos desistem de seu modo de vida por acreditarem, muitas vezes influenciados por notícias falsas, que não terão mais onde trabalhar. Enquanto isso, muitos jovens não vêem futuro no extrativismo e são atraídos pela vida na cidade. 

Ativismo
Além da campanha contra o PL 6024, o grupo está envolvido em projetos que visam o aprimoramento e valorização dos produtos da biodiversidade – a fim de deter o êxodo de extrativistas. Eles também estão criando estratégias para combater as notícias falsas e estão participando de ações voltadas para o ativismo digital, depois que o Comitê Chico Mendes foi selecionado para um projeto do Vozes Pela Ação Climática. 

Nesse esforço de defesa da Resex, eles têm feito conexões com parlamentares e personalidades, para angariar apoio e integraram o Painel Científico Sobre a Amazônia, que teve participação na COP26. 

Em 2018, boa parte desses jovens participaram de um curso voltado para o estímulo do protagonismo do jovem extrativista em defesa das pautas socioambientais nos estados da Amazônia, oferecido pelo WWF-Brasil, em parceria com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e o Comitê Chico Mendes.

FONTE: WWF BRASIL

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