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#ATL2022: Indígenas se pintam de sangue e lama em protesto contra o garimpo

A marcha desta segunda-feira (11) ocorrida dentro da programação do Acampamento Terra Livre (ATL) teve um propósito especial: protestar contra o garimpo, contra o Projeto de Lei 191/2020, que libera a mineração e o garimpo em Terras Indígenas, e devolver ao poder público toda a sujeira e destruição que essa atividade deixa nos territórios originários.  

Lideranças indígenas marcharam pelo Eixo Monumental carregando barras de ouro e deixando em frente ao Ministério de Minas e Energia (MME) um rastro de sujeira similar àquele que o garimpo tem deixado para povos como os Yanomami, os Munduruku e os Kayapó – alguns dos mais afetados hoje pelos problemas trazidos pelo garimpo. 

O ato teve início por volta das 13h, quando o artista baiano Ibraim Nascimento realizou uma performance artística ao lado da plenária central do Acampamento Terra Livre (ATL). Na ocasião, o artista desenhou num painel gigante – com 14 metros de largura por 9 metros de altura – uma ilustração que remeteu à guerra que os indígenas travam contra o garimpo. Feita com tinta, lama e sangue cenográfico, o painel contou com interações de representantes de diversos povos, que usaram suas mãos e seus pés para encher o painel de sangue e sujeira.

O artista baiano Ibraim Nascimento desenhou um mural de 14 x 9 metros e contou com intervenções dos indígenas presentes no Acampamento Terra Livre. Foto: Tuane Fernandes/Diego Baravelli

Barras de ouro

“Não são só os povos indígenas. Todos nós estamos com lama até o pescoço e saturados com esse cenário de horror que estamos vivendo. Estamos matando pessoas, destruindo culturas e isso não pode continuar. Essa arte tem um significado especial porque faz parte de uma luta, é um ato de ativismo”, contou Ibraim.

Por volta das 15h, todo o acampamento saiu em marcha em direção ao MME. Durante a caminhada, estiveram presentes ativistas e lideranças sujos de sangue cenográfico e lama, assim como barras de ouro gigantes representando o fruto do crime que é cometido nas Terras Indígenas de nosso País. Em algumas delas, era possível ler algumas letras, que juntas formavam a palavra “Crime!”. Em frente ao Ministério, os participantes do ato empilharam as barras de ouro e também as sujaram de sangue e lama, numa espécie de “devolução” de tudo aquilo de ruim que o garimpo leva às Terras Indígenas.

Os manifestantes também levaram cartazes se posicionando contra o Projeto de Lei 191/2020, que libera mineração em terras indígenas. Este PL permite atividades como construção de estradas e hidrelétricas dentro dos territórios. Especialistas afirmam que a aprovação deste PL, que se encontra hoje em apreciação num grupo de trabalho específico na Câmara dos Deputados, colocaria em risco as florestas brasileiras e os modos de vida dos diversos povos originários. Publicação recente da Amazon Watch mostra que a aprovação do PL pode causar a perda de 160 mil quilômetros quadrados de florestas na Amazônia – uma área maior que a superfície da Inglaterra.

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Foto: Diego Baravelli / GreenpeaceNext

Contaminação e devastação

Para a Coordenadora-Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, as pessoas precisam entender melhor os impactos que os projetos de lei incluídos no #PacotedaDestruição podem causar.

“Para muitas pessoas, falar do Projeto de Lei 191 ou do Projeto de Lei 490 soa quase como uma abstração, como algo que não existe de verdade. Para nós, povos indígenas, não é assim. Esses projetos significam para nós rios poluídos, dificuldades de pescar, invasão de terras e expulsão de parentes dos nossos territórios. A sociedade precisa ter isso claro na mente quando falamos desses projetos de lei que flexibilizam as leis ambientais”, disse Sônia.

Segundo o relatório “Cumplicidade na Destruição IV: Como mineradoras e investidores internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia” – lançado recentemente pela Amazon Watch e pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em comparação com 2018, o ano de 2021 apresentou um aumento de 62% do desmatamento ligado à mineração na Amazônia. A atividade mineradora também é uma das que mais mata defensores do meio ambiente, com 722 casos de conflito e 17 mortos em 2020, bem como também aprofunda as mudanças climáticas, sendo responsável por até 28% dos gases de efeito estufa lançados globalmente.

Nos territórios indígenas, o apetite irrefreável dos garimpeiros provoca a contaminação de rios, a devastação de florestas, e a destruição de comunidades inteiras, que eventualmente também ficam sem acesso à água por conta das contaminações causados pelo mercúrio, usado no garimpo do ouro. “O garimpo entra nos territórios causando uma série de violências e violações dos direitos dos povos indígenas. Ele causa uma enorme desorganização social que ameaça a sobrevivência física e cultural desses povos”, explicou o porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace, Danicley de Aguiar.

Lideranças marcharam pelo Eixo Monumental até chegar ao Ministério de Minas e Energia (MME), onde ocorreu um novo ato. Foto: Diego Baravelli/Greenpeace

Retomando o Brasil

A marcha contra o garimpo é parte da programação do Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorre em Brasília até o dia 14 de abril. Atualmente, mais de 7 mil lideranças, de 200 povos diferentes, estão concentradas na capital federal exigindo a imediata demarcação de territórios indígenas e discutindo questões como o PL 191, o Marco Temporal, saúde e educação indígenas. A programação conta com mais de 40 atividades e vai explorar o tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”. O acampamento está instalado no Complexo da Funarte.

Acompanhe a programação do ATL nas redes sociais da Apib e do Greenpeace.

FONTE: GREENPEACE

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